Na passada sexta-feira realizou-se o quarto acto do ciclo Conversas no D. Carlos. O engenheiro João de Jesus Ferreira, professor e consultor na área energética, dissertou sobre a histeria climática, as contradições, os dogmas e os excessos da agenda 2030 e os problemas técnicos que as ditas ‘energias verdes’ trazem para a rede eléctrica e a produção energética.
O Contra deixa em baixo, o vídeo e uma síntese do documento que suportou a sua lúcida e assertiva análise.
AGENDA 2030 – ENERGIA E CLIMA
Impor de forma camuflada políticas de esquerda.
As políticas climáticas globais estão a comprometer a soberania nacional, a restringir liberdades individuais e a concentrar o poder em instituições internacionais. O combate às alterações climáticas está a ser usado como justificação para controlar as economias e as políticas dos países de uma forma centralizada, o que poderá ameaçar o princípio de autonomia das nações e o mercado livre.
A Agenda 2030 é um plano de acção global adoptado pelas Nações Unidas em 2015 com o objectivo de promover o desenvolvimento sustentável até 2030. Contém 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), focada em áreas como erradicação da pobreza, combate às alterações climáticas, igualdade de género, educação de qualidade, e preservação do meio ambiente.
A Agenda 2030 segue um “modelo socialista”. A adopção desta agenda está totalmente alinhada com os interesses de alguns privilegiados e ultrapassa os princípios estabelecidos na Declaração dos Direitos Humanos, distorcendo o papel desta organização.
Uma clara agenda política socialista separada da ciência.
O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, organismo patrocinado pela ONU) admite que o nexo de causalidade entre a quantidade de dióxido de carbono e o cenário de catástrofe é baixo. Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressa um cenário catastrófico de desastre, embora a ciência demonstrada pelo IPCC não o considere como tal.
Um trabalho recente de Javier Vinos conclui que o aquecimento global está a abrandar, nesta série temporal de 1994 a 2023.
Neste período a humanidade prosperou como nunca, já que é capaz de se adaptar às alterações climáticas, como aconteceu desde a sua existência.
A questão sobre a relação entre o dióxido de carbono (CO₂) e o aquecimento global, bem como as alterações climáticas, continua a ser tema de investigação e debate. Embora exista algum consenso científico (e isto não é prova científica) sobre a influência dos gases de efeito estufa, incluindo o CO₂, na mudança climática, é importante entender que esta relação é baseada em evidências indirectas e num quadro mais amplo de variáveis climáticas.
De realçar que o efeito de estufa é um fenómeno natural, essencial para manter a temperatura média da Terra a níveis habitáveis. Os gases de efeito estufa, como o CO₂, o metano (CH₄) e o vapor de água, absorvem parte da radiação infravermelha emitida pela Terra e reemitem-na de volta, aquecendo a superfície.
Sem o efeito de estufa, a radiação infravermelha emitida pela Terra escoar-se-ia, quase completamente, para o espaço. A temperatura média da Terra seria cerca de -18°C, muito abaixo do ponto de congelação da água. Nestas condições, a maior parte da água líquida, essencial para os processos bioquímicos vitais, congelaria, e a vida, tal como a conhecemos, não poderia existir.
As alterações climáticas são mudanças cíclicas do clima que ocorrem a nível global, com períodos muito longos. Na verdade, a Terra está periodicamente a sofrer alterações climáticas devido a factores naturais previsíveis como as variações na inclinação do eixo terrestre, na curvatura da sua órbita em torno do sol ou alterações na radiação solar.
Estas variações são:
– Variações orbitais – Mudanças na órbita e inclinação da Terra que influenciam a distribuição da radiação solar.
– Variações da actividade solar
– Erupções vulcânicas
– Deriva continental
– Impactos de asteróides
– Oscilações climáticas naturais
– Oscilações oceânicas
A ONU deixou de promover a paz para impor ideologias de esquerda aos seus integrantes sobre uma lista infinita de tópicos sociais. Uma organização que nasceu para defender os direitos das pessoas tornou-se a maior proponente de violações sistemáticas de liberdade.
Em Portugal, seguindo (e ultrapassando, indo para além dos objectivos) as orientações e imposições de Bruxelas foi produzido o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC) que se orienta, também, pelas áreas correspondentes da Agenda 2030.
Alguns dados sobre o C02 e o clima.
Apesar dos elevadíssimos esforços financeiros feitos, quer pelas famílias quer pelas empresas, o ritmo de crescimento das emissões de CO2 não mostra sinais de abrandar. Isto significa que o preço que temos pago, nos últimos anos de obsessão pelo CO2 em nada contribuiu para a redução das emissões.
De realçar que os custos dos investimentos e os custos operacionais das medidas que conduzem à redução das emissões de CO2 vão recair sobre as famílias e sobre as empresas, seja na forma de impostos seja nos brutais acréscimos da factura da energia, em particular da eléctrica.
O gráfico em baixo apresenta uma análise das taxas de variação do aquecimento global com base em períodos móveis de 15 anos entre 1979 e 2022, usando dados de temperatura de satélite (UAH 6.0). A linha preta mostra a variação na taxa de aquecimento ao longo do tempo, enquanto a linha cinzenta representa a tendência linear. O autor da imagem, Javier Vinos, conclui que o aquecimento global está a abrandar.
Estes três gráficos mostram que a relação entre a libertação de dióxido de carbono e as temperaturas não é consistente, historicamente.
De entre os GEE, o vapor de água é responsável por 95% da retenção da energia radiante da Terra, isto é, pelo efeito de estufa. O dióxido de carbono é responsável por uma parte dos 5% restantes (cerca de 3,62%) e desses 3,62% apenas 3,4% correspondem à actividade humana. O CO2 não parece ser o causador do aquecimento global ou das alterações climáticas, embora contribua para o efeito de estufa.
A Terra tem estado mais quente, do que hoje, durante 81% dos últimos 9.500 anos, à medida que as temperaturas recuperam da era glaciar dos 100.000 anos anteriores.
A política energética nacional.
A Câmara de Azambuja arrecadou 2,7 milhões de euros do Fundo Ambiental pela instalação do maior parque solar do país na Herdade da Torre Bela, com capacidade de 272 MW (2500ha – 25 km2) , para que o Poder Local não impusesse entraves no “esforço de simplificação administrativa” para acelerar a produção de energia de fontes renováveis no país. Esta é a política energética de Portugal: Destruir o território
As principais metas e objectivos do (PNEC) Plano Nacional de Energia e Clima 2030, na sua revisão de 2024, são:
– Descarbonização: Redução das emissões de CO₂ em, pelo menos, 55% até 2030, em comparação com 1990.
– Energias Renováveis: Aumentar a participação de energias renováveis para 47% no consumo final bruto de energia.
– Eficiência Energética: Melhorar a eficiência energética em 35%.
– Segurança Energética: Diversificar as fontes de energia e reforçar as interconexões energéticas.
– Mercado Interno da Energia: Aumentar a integração e competitividade no mercado energético europeu.
Redução das Emissões de GEE: O plano estabelece uma meta de redução de 55% nas emissões de GEE até 2030, em comparação com os níveis de 1990. Esta meta está alinhada com os objectivos da União Europeia e reforça o compromisso de Portugal em liderar a transição energética na Europa. Esta redução é basicamente dirigida ao CO2.
Esta obsessão sem sentido, pela liderança, é um tiro nos pés para a nossa economia. Só se pode entender como o resultado da pressão exercida pelo lóbi que controla a comissão europeia e os vários governos portugueses e cujo objectivo é maximizar os seus lucros nos vários negócios que estão associados à execução destas medidas. Estes vão ficando cada vez mais ricos, e os cidadãos europeus, e os portugueses em particular, cada vez mais pobres.
Considero que uma transição energética feita à base da electrificação da economia (a todo e a qualquer custo) é uma transição desprovida de qualquer inteligência e de conhecimento científico, imposta por políticas (e por políticos) ignorantes e por responsáveis de organismos públicos incompetentes em matéria de energia, limitando as opções, impondo soluções e impedindo que a indústria encontre as melhores soluções quer económicas quer sustentáveis para o ambiente.
As medidas de transição energética implementadas em Portugal são irrelevantes para o clima. Ainda que recuássemos todos ao modo de vida do Paleolítico , isso não teria qualquer impacto no planeta Terra. Mesmo que Portugal tivesse zero de emissões, apenas iria reduzir as emissões globais em 0,12%, isto é, em nada! Ou seja, o custo para a nossa economia seria uma enormidade, para um resultado ZERO.
As políticas europeias de transição energética agravam a desvantagem competitiva face às economias emergentes sem quaisquer preocupações reais com a descarbonização. O preço que temos pago nos últimos anos de obsessão pelo CO2, em nada contribuiu para a redução das emissões, mas teve um elevado custo para a competitividade da indústria europeia.
– Aumento da Participação das Energias Renováveis: O plano prevê que as energias renováveis representem 93% da produção de electricidade até 2030.
Mais um objectivo inatingível e inacreditável, atirado para o ar, sem qualquer justificação técnica e científica e sem se atender às questões técnicas associadas à interruptibilidade e à intermitência da produção de energia eléctrica com recurso a fontes renováveis.
De realçar que a disponibilidade de uma central fotovoltaica é da ordem das 1500 hora por ano (17%) e de uma central eólica é da ordem das 2000 horas por ano (23%). Sem armazenamento é impossível garantir o abastecimento de energia eléctrica com 93% de fontes renováveis, já que a produção eólica ocorre, com maior frequência, nos períodos em que a procura é menor (fim de tarde e período nocturno).
Não é admissível propor aumentos de capacidade de produção sem ter em conta os cenários de procura de energia. Relembro que actualmente a capacidade instalada na produção de energia eléctrica é de 24.000 MW e a ponta de consumo é de 9.200 MW . Temos um excesso de potência ociosa da ordem dos 15.000 MW.
Este plano centra-se, objectivamente, apenas nas questões climáticas e assume, de forma injustificável, que é o dióxido de carbono (CO2) o responsável pelas alterações climáticas, o que não é uma verdade científica.
Portanto, este plano não tem como objectivo desenvolver um sistema energético adequado à procura, nas melhores condições de económicas, ambientais e de segurança no abastecimento.
Este plano deveria ser fundamental para garantir a segurança energética, promover a sustentabilidade ambiental, e fomentar o crescimento económico. O que não ocorre!
Este plano, como os anteriores, tem apenas uma obsessão fundamentalista: a redução das emissões de CO2, não se sabendo, muito bem para quê e que contribuição Portugal terá na contabilização mundial das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). E mesmo para esse objectivo, não apresenta as soluções mais eficazes e eficientes em termos de custos.
No caso das emissões de CO2, com origem nos combustíveis fosseis, 18 países contribuem com 80% destas emissões a nível mundial, conforme pode ser observado no gráfico que se apresenta. E Portugal não consta nesta lista.
Portugal contribui com uns insignificantes 0,12% para o total mundial das emissões, isto é, qualquer redução em Portugal por muito significativa que seja em nada contribui para a redução total.
A nível europeu Portugal contribui com, apenas, 1,51% para o total das emissões com origem na Europa a 27.
A Europa (27) contribui, apenas, com 7,65% para o total mundial das emissões, isto é, qualquer redução por muito significativa que seja em muito pouco, ou quase nada, contribui para a redução total.
Em 2022, por exemplo, os investimentos na transição energética atingiram cerca de 227 mil milhões de dólares. Em 2023, os valores aumentaram para 360 mil milhões de dólares, incluindo áreas além das renováveis, como redes de distribuição de energia, veículos eléctricos, captura de carbono e hidrogénio verde.
Projecções indicam que, entre 2021 e 2030, a UE precisará investir anualmente cerca de 520 mil milhões de euros, dos quais 390 mil milhões estariam direccionados especificamente para a transição energética e a descarbonização. A União Europeia estabeleceu metas para 2030, como alcançar 42,5% de consumo energético oriundo de fontes renováveis, o que exigirá o triplo do nível de investimentos actuais até 2030 para acelerar o desenvolvimento de tecnologias limpas e infra-estruturas necessárias.
Consequências para a economia europeia.
A transição energética na Europa, que insisto, não estou certo de que seja necessária para combater as alterações climáticas e promover um sistema energético mais sustentável, acarreta algumas consequências negativas para a economia europeia, especialmente a curto e médio prazo. Aqui estão alguns dos principais impactos:
– Aumento dos custos de energia
– Desindustrialização
– Impacto social e desigualdade
– Dependência de materiais críticos
– Custos de investimento elevado
– Intermitência das energias renováveis
– Concorrência global desigual
– Transição difícil para sectores dependentes de combustíveis fósseis
As políticas europeias de transição energética agravam a desvantagem competitiva face às economias emergentes sem quaisquer preocupações reais com a descarbonização. O preço que temos pago, nos últimos anos de obsessão pelo CO2, em nada contribuiu para a redução das emissões, mas teve um elevado custo para a competitividade da indústria europeia.
O esforço inglório e suicidário da UE levou e leva à transferência de amplos sectores industriais para os países que mais emitem (a China e os Estados Unidos).
Alguns exemplos do impacto sobre algumas empresas europeias:
– Aluminium Dunkerque na França, que teve de reduzir a produção devido ao elevado custo da electricidade.
– Empresas químicas, como a BASF, uma das maiores empresas químicas do mundo, anunciou cortes na produção e transferências para fora da Europa devido ao aumento dos custos energéticos.
– A indústria siderúrgica também tem enfrentado dificuldades, com fechamentos temporários e cortes de produção. A Thyssenkrupp, gigante siderúrgica, também reduziu operações e enfrenta dificuldades para manter a produção com custos competitivos.
– Empresas de produção de vidro e cerâmica têm fechado fábricas temporariamente ou reduzido operações por não conseguirem suportar os elevados custos de energia.
– A Volkswagen também foi afectada pelos altos custos de energia na Alemanha, agravados pela transição energética. A empresa anunciou a possibilidade de realocar parte de sua produção para fora da Europa, para regiões com custos energéticos mais baixos, como os Estados Unidos e países asiáticos.
– A crescente pressão financeira na indústria automóvel, principalmente devido ao custo de electricidade e gás, está a forçar a Volkswagen e outras empresas do sector a reconsiderar sua estratégia de produção, em busca de mais competitividade em mercados globais com energia mais barata.
Como contrariar a irracionalidade europeia.
Contrariar as políticas europeias de transição energética implica um esforço coordenado que combine argumentos económicos, políticos, sociais e ambientais. Embora nos queiram impor que a necessidade de acção climática é amplamente reconhecida, há espaço para questionar a velocidade, o custo e a forma como a Europa está a implementar as suas políticas. Argumentar que a Europa, com apenas 7,65% das emissões globais de CO2, está a assumir um fardo desproporcional sem garantir uma reciprocidade global pode ser um ponto-chave para reformar ou moderar essas políticas, especialmente se os custos económicos se tornarem mais visíveis para os cidadãos e as indústrias.
– Cancelar a “crise climática”, embora se mantenha a preocupação de controlar as eventuais influências humanas
– Melhores representações da ciência/tecnologia em detrimento dos não especialistas
– Incrementar a literacia energética e climática para o público em geral e, principalmente, para decisores políticos
– Melhorar e aplicar métodos científicos nas observações e na compreensão do clima
– Não restringir o fornecimento e a utilização da energia ao mundo em desenvolvimento
– Incrementar o foco na adaptação e resiliência, face às alterações climáticas
– “Preparação pelo o passado” + “adaptação adaptativa”
– Promover o desenvolvimento e a resiliência nos países em desenvolvimento
– Desenvolver tecnologias conducentes à redução de emissões
– Fissão, armazenamento e gestão da redes, baterias, combustíveis químicos não carbónicos, captura de carbono, etc.
– Formular caminhos “elegantes” para a de descarbonização
– Respeitar o desenvolvimento tecnológico, a economia, a regulamentação e o comportamento
– Implementar soluções conforme necessário e ajustado.
Conclusões
Para concluir, é imperativo questionar seriamente a legitimidade das rendas excessivas que favorecem o sector energético e dos subsídios generosos atribuídos às energias renováveis. Assistimos, actualmente, a uma transferência de recursos públicos para um sector onde os lucros privados prosperam à custa de políticas que nem sempre demonstram benefícios reais para a sociedade e, em muitos casos, penalizam a economia e os consumidores. Estes apoios são fundamentados numa narrativa que culpa exclusivamente as emissões de CO2 pelas alterações climáticas, uma teoria que é muito questionável.
Ao investir massivamente e de forma cega num conjunto de políticas ‘verdes’ sem considerar todas as perspectivas e sem ponderar as suas verdadeiras consequências estamos a transformar o sistema numa máquina de lucro para alguns, e num peso insustentável para muitos. A sustentabilidade, para ser verdadeira, deve ser crítica, responsável e equitativa – e não pode deixar-se capturar por interesses económicos nem por políticas que ainda estão longe de demonstrar um impacto positivo claro e inequívoco.
Estamos a salvar o planeta ou a alimentar lucros obscenos e subsídios sem garantias reais de benefício ambiental?
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