No mais recente sinal de que a Alemanha se tornou num país anedótico, a directora federal de eleições, Ruth Brand, afirmou que o país não tem papel suficiente para eleições antecipadas, numa carta endereçada ao chanceler Olaf Scholz. A directora alertou para “riscos incalculáveis” se as eleições forem antecipadas, afirmando risivelmente:
“No mundo actual adquirir papel e proceder à impressão dos boletins de voto é um grande desafio ”.
Um grande desafio, realmente. Comprar umas toneladas de papel e imprimi-lo com os logos dos partidos políticos e uns quadradinhos em branco é uma operação de vanguarda tecnológica, que a Alemanha já não consegue cumprir em tempo real. Espantoso.
Escusado será dizer que a missiva veio mesmo a propósito das intenções de Scholz, que está a tentar adiar as eleições o mais possível. O chanceler mostrou-se disposto a propor um voto de confiança no Bundestag apenas em Janeiro, dois meses após a dissolução da sua coligação governamental, embora se tenha intensificado nos últimos dias a pressão para que se realizem novas eleições antes do Natal, uma vez que a situação económica do país continua a agravar-se.
Apesar das afirmações de Brand sobre a escassez de papel, a própria indústria do sector está a contradizê-la claramente. O director-geral da associação da indústria do papel, Alexander von Reibnitz, disse ao canal de comunicação social estatal ZDF:
“Nós temos papel. A indústria alemã do papel é muito eficiente. Se for encomendado a tempo, podemos fornecer o papel necessário para uma eleição federal antecipada”.
Surpreendentemente, considerando que se encontra na mesma e nefasta família ideológica do SPD, o eurodeputado liberal de esquerda Dariusz Joński afirmou que a Polónia podia fornecer o papel, caso a Alemanha não consiga comprar o suficiente.
“Se a Alemanha precisar de impressoras e de papel, venderemos ambos aos nossos vizinhos. As empresas polacas também vão lucrar com isso, o que vai aumentar ainda mais a competitividade da nossa economia.”
Se a competitividade da economia polaca depende da venda de papel e da impressão de uns milhões de boletins de votos à Alemanha, os polacos deviam estar mais preocupados consigo próprios do que com as deficiências logísticas dos país vizinho.
Ironicamente, a Alemanha é o maior produtor de papel de toda a União Europeia. Em 2020, foram produzidos quase 13 milhões de metros cúbicos de papel, enquanto a Polónia está muito atrás, com 3,5 milhões de metros cúbicos.
Após a notícia de que a indústria do papel alemã poderia efectivamente cumprir as encomendas decorrentes de uma nova eleição, Scholz, sem imaginação para mais desculpas, concordou com um voto de confiança antes do Natal, afirmando:
“Estou de acordo: se Mützenich [líder do grupo parlamentar do SPD] e Merz [líder da oposição da CDU] chegarem a um acordo, basearei a minha decisão nisso. Não estou agarrado ao meu cargo.”
Pois não, que ideia.
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