O que não faltam são vítimas, neste Ocidente ensandecido. De políticos paquistaneses que se queixam do racismo na Escócia, a rapazolas efeminados e frágeis, alérgicos a toda e qualquer contrariedade, flores de estufa que choram por penas abstractas perante audiências concretas de flores iguais – porque trabalham 25 horas por semana ou são tratados pelo pronome errado – a abundante comiseração leva, acto contínuo, à projecção do privilégio nos outros.

O privilégio de ser homem. O privilégio de ser branco. O privilégio de viver no Ocidente. O privilégio da independência. O privilégio do livre arbítrio. Enfim, os privilégios todos que estas criaturas infelizes imaginam em alguém para alívio das dores da sua própria e auto-infligida impotência.

Mas, enquanto esses privilégios são, regra geral, inventados, há outros bem reais e o Contra faz questão de enumerar alguns, para teu esclarecimento, caro choramingas:

1) Privilégio é calçares ténis de 200 euros quando nunca tiveste um emprego.

2) Privilégio é usares auscultadores de 300 euros quando vives da segurança social.

3) Privilégio é poderes viver em casa dos teus pais, sem pagar contas, até aos 40 anos.

4) Privilégio é teres um smartphone com um plano de dados pago pelo estado, pelos teus pais ou por uma ONG qualquer.

5) Privilégio é chegares à faculdade sem mostrar qualquer mérito académico ou aptidão intelectual, depois de fazeres um liceu com critérios de exigência abaixo de zero.

6) Privilégio é viveres em habitações subsidiadas pelo Estado, onde o aumento dos impostos sobre a propriedade, das rendas e dos custos da energia não tem qualquer efeito sobre o teu orçamento mensal.

7) Privilégio é teres várias organizações, subsidiadas por dinheiros públicos, que promovem e protegem apenas a tua raça ou o teu género.

8) Privilégio é teres a máquina do estado a trabalhar exclusivamente para a promoção do teu sexo biológico, ou da identidade de género que inventaste.

9) Privilégio é teres toda uma indústria de propaganda do teu lado, com salas de redacção preenchidas por choramingas como tu.

10) Privilégio é fazeres profissão de amaldiçoar livremente o legado dos teus avós, a cultura que herdaste, a história que te pariu, o país que te recebeu.

A estes dez soma-se, claro, o privilégio fundamental: o de viveres num lapso do tempo e do espaço em que ninguém te obrigou a morrer numa trincheira da Flandres ou numa pradaria da Virgínia, em que ninguém te escravizou ao jugo da mina, em que ninguém te enfiou num campo de trabalho siberiano, em que não consegues sequer imaginar o que é ter fome, fome a sério, de morrer dela, em que a verdadeira miséria, a miséria de cegares os teus filhos para que sejam pedintes mais rentáveis, por exemplo, nem te passa pela cabeça.

Pelo menos por enquanto. Porque se tu e os teus camaradas inúmeros se continuarem a comportar com filhos de um Deus menor, és bem capaz de vir a experimentar qualquer coisa parecida com isso.