Muitas das tatuagens que se vêem hoje – rabiscadas como “graffitis” – nos cadáveres adiados que por todo o lado erram, são símbolos contrafeitos de um universo visual “esotérico”. Triângulos misteriosos, “vesicas” entrelaçadas, dragões alados trepando a kundalini. Todo um manancial iconográfico excretado pelos magos da Nova Idade, a “new-age” aquariana pré-anunciada até à náusea, que além do absoluto esvaziamento desses símbolos, cujo significado era até razoavelmente sério em alguns casos, nos trouxe o desprezo deletério pelo Templo – o Corpo -, atirando-o para a fogueira da depravação e da bestialidade.

Se havia mérito no discurso humanista de Giovanni Pico della Mirandola, era o de prometer a esse Humanismo a esperança da transcendência e da transubstanciação, o sonho da elevação empírea pela transmutação alquímica do chumbo na glória aurífica de Deus – “Eu Vi a Visão”, terá dito o profeta, cunhando em cada gota de sangue da sua descendência o Nome do Mistério, a hierofania numinosa da religação, do reencontro, do Regresso. Matando a Saudade.

Mas, se havia mérito nesse discurso de Giovanni, ele dissolveu-se na putrefacção estéril, na germinação caricatural e monstruosa de criaturas híbridas e mutantes, cuja alma se viu amputada – extraída a ferro e fogo – por uma desumanização convictamente prometeica, cega, luciferina.

Eis-nos, então, de volta à Grécia de Diógenes, onde o louco percorre nu e sem esperança os caminhos da cidade, de lanterna na mão, buscando um aroma que seja de Humanidade.

 

BRUNO SANTOS