Os funcionários do Estado francês, dos diplomatas aos manga de alpaca, dos professores das escolas estatais aos médicos financiados pelo seguro de saúde público, estão a prometer desafiar um novo governo populista se o partido Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen, como tudo indica, ganhar as eleições antecipadas francesas.

A direita francesa não conseguiu formar uma frente unida para as eleições legislativas antecipadas de 30 de Junho e 7 de Julho, reduzindo as suas hipóteses de obter uma maioria absoluta. No entanto, o RN ainda está projectado para ficar em primeiro lugar, já que ganhou a primeira ronda eleitoral disputada ontem, com o partido da Renascença do Presidente Emmanuel Macron a cair para o terceiro lugar, atrás de uma coligação de extrema-esquerda, o que significa que é possível um governo populista.

Neste contexto, os membros da burocracia estatal, com 2,5 milhões de efectivos, ameaçam desafiar as políticas de um governo liderado pelo RN.

Um prefeito anónimo, espécie de governador regional responsável pela segurança e pela ordem pública, afirmou:

“Não posso executar as políticas do Rassemblement National… É o herdeiro de Vichy, um partido cuja especialidade é incitar ao ódio contra os estrangeiros”.

Sugerindo que iriam enfraquecer as políticas de oposição à União Europeia eventualmente implementadas por Le Pen, e o envolvimento da França na guerra na Ucrânia, um grupo de 170 diplomatas declarou publicamente:

“Nós, diplomatas, não podemos aceitar que uma vitória da extrema-direita enfraqueça a França e a Europa enquanto há guerra.”

 

“Não obedeceremos.”

Os directores e inspectores das escolas públicas foram ainda mais explícitos, afirmando que “não aceitarão” as políticas do RN sobre a verificação do estatuto migratório dos alunos e a implementação de um currículo patriótico. Numa petição assinada por milhares de educadores, lê-se isto:

“Em plena consciência e assumindo a responsabilidade, não obedeceremos.”

Até os juízes estão a informar a imprensa que estão “preocupados” com as políticas do RN, que iriam endurecer as sentenças para criminosos estrangeiros ilegais.

No entanto, o Rassemblement National goza de um forte apoio entre a Gendarmerie Nationale (polícia paramilitar análoga à GNR portuguesa), devido à sua posição firme contra a violência dos extremistas de esquerda e a criminalidade dos imigrantes.

É uma pena que a desobediência civil seja um privilégio da esquerda. Porque para os conservadores (verdadeiros) e os populistas europeus, o que não faltam são motivos para começar a dizer não.

 

Na primeira ronda, Le Pen ganha sem maioria absoluta.

A primeira ronda das eleições legislativas francesas realizou-se ontem, com uma vitória do RN, com 33% dos votos, com a coligação de extrema-esquerda a cativar 28% do eleitorado e o partido de Macron a não passar dos 21%.

O presidente do partido de Marine Le Pen, Jordan Bardella, de 28 anos, pode tornar-se primeiro-ministro, caso a segunda ronda eleitoral dê uma vitória ao RN. Em princípio e se nada de anormal acontecer (o que em França é sempre duvidoso), Emmanuel Macron deverá continuar a ser Presidente até ao fim do seu segundo mandato, em 2027.