As relações entre a Rússia e o Ocidente, a situação na Ucrânia e os problemas regionais foram discutidos na reunião do Presidente russo Vladimir Putin com os correspondentes das agências noticiosas internacionais organizada pela TASS, que decorreu na semana passada.

Porque o pensamento do líder russo é constantemente adulterado pela imprensa corporativa, o Contra faz um breve resumo das questões levantadas durante a reunião, que durou mais de três horas e incluiu dezenas de perguntas.

 

Erros dos EUA

Putin afirmou estar certo de que a política dos EUA em relação à Rússia permanecerá inalterada, independentemente do resultado das próximas eleições presidenciais. De qualquer forma, Moscovo “trabalhará com qualquer presidente eleito pelo povo americano”.

O líder russo disse estar surpreendido com o facto de “não apenas na esfera da política internacional, na política interna, mas também na política económica, a actual administração [norte-americana] comete erros sucessivos, de forma rápida e generalizada”. “Por vezes é até surpreendente observar o que está a acontecer”, acrescentou.

Falando sobre o julgamento do ex-presidente dos EUA Donald Trump, Putin disse que o ex-presidente está a ser perseguido por razões políticas, e este facto destrói a liderança imaginária de Washington na esfera da democracia e até mesmo o sistema político do país.

Comentando as alegações de suposta interferência da Rússia nos assuntos internos dos EUA, o presidente disse que Moscovo “está a observar tudo à distância”. “Nunca interferimos nos processos políticos internos dos Estados Unidos e nunca o faremos”, afirmou.

Falando sobre a Ucrânia, disse que Washington não se preocupa com o país e o seu povo. “Ninguém nos Estados Unidos se preocupa com a Ucrânia. O que lhes interessa é a grandeza dos EUA, não estão a lutar pela Ucrânia ou pelo povo ucraniano, mas pela sua grandeza e liderança. E não podem, em circunstância alguma, permitir que a Rússia tenha sucesso, porque acreditam que, nesse caso, a liderança dos EUA será prejudicada. É esse o objetcivo do que os EUA estão a fazer”, afirmou.

Putin descreveu a decisão de Washington de utilizar o dólar americano como instrumento de sanções como um grande erro, porque mina a confiança na moeda americana.

 

UE sem lógica nem coragem.

Segundo o inquilino do Kremlin, a Rússia e os países da União Europeia seriam capazes de resolver os problemas existentes nas relações bilaterais, mas os líderes europeus não têm coragem e confiança para defender os seus interesses nacionais. Como resultado, o bem-estar dos cidadãos europeus está actualmente em risco.

Falando sobre a Alemanha, Putin disse que esta República Federal nunca foi um país totalmente soberano após a Segunda Guerra Mundial, mas a sua economia é uma força motriz para a Europa e, se a Alemanha começar a “espirrar e a tossir”, “todas as restantes economias europeias vão ficar doentes”.

Como exemplo, mencionou a França, cuja economia está agora “à beira da recessão”.

A Gazprom sobreviverá à recusa da Europa em consumir gás russo e “comprar gás natural liquefeito que vem do oceano a preços exorbitantes”, disse Putin, acrescentando que não vê “nenhuma lógica formal” nas acções da Europa. “Não quero ofender ninguém, mas a formação dos decisores no Ocidente, incluindo na Alemanha, deixa muito a desejar”, afirmou.

 

O Ocidente tem de tolerar os delírios de Kiev e esconder as baixas.

Putin acredita que os Estados Unidos vão tolerar o líder ucraniano Vladimir Zelensky até à Primavera de 2025, mas que depois ele será substituído. O Ocidente já escolheu “vários candidatos” para o substituir, segundo o inquilino do Kremlin.

No entanto, o Ocidente ainda precisa que Zelensky “tome certas medidas”, como reduzir a idade de mobilização, antes de se livrar dele. Na opinião de Putin, a campanha de mobilização da Ucrânia mal serve para substituir as baixas e os EUA insistem em reduzir a idade de recrutamento para 18 anos.

O presidente russo não deu números exactos sobre as perdas da Rússia no conflito, dizendo apenas que são “certamente muito menores do que as da parte oposta”. “Quanto às perdas irrecuperáveis, o rácio é de um para cinco”, especificou Putin.

No entanto, disse que um total de 1.348 soldados e oficiais russos estão detidos como prisioneiros de guerra na Ucrânia, enquanto 6.465 militares ucranianos estão detidos na Rússia. Os países europeus e os EUA mantêm-se silenciosos sobre as baixas dos seus formadores e conselheiros na Ucrânia, acrescentou.

Os militares ucranianos não podem utilizar sozinhos as armas ocidentais de longo alcance, porque todas as decisões têm de ser tomadas pelos países que as forneceram, continuou o Presidente russo. “Como já disse, é necessária uma missão de voo. E, de facto, isso é feito por aqueles que fornecem essas armas: pelo Pentágono, no caso dos ATACMS, e pelos britânicos, no caso dos Storm Shadow”, explicou.

 

Desafiando as sanções.

Os países ocidentais planearam minar a economia russa num período de três a seis meses, mas tal não aconteceu, afirmou o líder russo, acrescentando que o objectivo que estabeleceu para que o país entrasse nas quatro principais economias do mundo foi alcançado.

É importante manter o ritmo de desenvolvimento, sublinhou Putin. Na sua opinião, a Rússia vai começar a produzir tudo o que precisa por si própria, sendo que a concretização desse desígnio “é apenas uma questão de tempo”.

 

Liberdade de expressão.

Comentando a repressão do Ocidente contra os meios de comunicação social russos, Putin afirmou que estes estão a transmitir a opinião russa e têm todo o direito de o fazer.

“Os países ocidentais dificultam o trabalho dos nossos jornalistas”, continuou o Presidente russo, afirmando que os jornalistas do seu país estão a ser intimidados, as suas contas bancárias estão a ser fechadas, os seus transportes pessoais estão a ser confiscados e isso está em contradição com a proclamada liberdade de expressão do Ocidente.

 

Caminhos para a paz.

O Presidente russo manifestou a sua esperança de que as relações entre a Rússia e o Ocidente, bem como no mundo em geral, progridam gradualmente em direcção à paz, em vez de uma escalada interminável de tensões e hostilidades.

Putin rejeitou os relatos de alegados planos russos para atacar a NATO, considerando-os absurdos. Ao mesmo tempo, falando sobre a doutrina nuclear russa, o Presidente afirmou que “se as acções de alguém ameaçarem a nossa soberania e integridade territorial, acreditamos que é possível utilizar todos os meios à nossa disposição”.

Putin sublinhou que a Rússia não tem ambições imperiais. O Presidente agradeceu a todos os delegados que participaram na reunião e pediu-lhes que transmitissem informações verdadeiras aos seus leitores.