Esta história deixa um rasto de suspeitas que é difícil de esconder.

Uma das nomeações mais assertivas que Trump tinha anunciado até aqui, do ponto de vista da ala populista do Partido Republicano, a do congressista Matt Gaetz para chefe do departamento de Justiça da sua administração, acabou por cair por terra.

Gaetz retirou o seu nome da consideração para o cargo de Procurador-Geral aparentemente porque que os senadores republicanos McConnell, Curtis, Murkowski e Collins se mostraram irredutíveis quanto à sua nomeação em reuniões realizadas no Capitólio, na quarta-feira.

O antigo legislador da Florida emitiu uma declaração na quinta-feira, depois de se ter reunido com os colegas do Senado:

“Tive excelentes reuniões com os senadores ontem. Agradeço o seu feedback atencioso – e o incrível apoio de tantos deles. Embora o ímpeto fosse forte, é claro que a minha confirmação estava injustamente a tornar-se uma distracção para o trabalho crítico da Transição Trump/Vance. Não há tempo a perder com uma disputa desnecessariamente prolongada em Washington, por isso vou retirar o meu nome da consideração para servir como Procurador-Geral. O DOJ de Trump tem de estar a funcionar no dia 1. Continuo totalmente empenhado em garantir que Donald J. Trump seja o Presidente mais bem sucedido da história. Ficarei para sempre honrado pelo facto de o Presidente Trump me ter nomeado para liderar o Departamento de Justiça e estou certo de que ele salvará a América.”

 

 

Gaetz demitiu-se do 118º Congresso para poder trabalhar no cargo de Procurador-Geral, mas devido à sua reeleição a 5 de Novembro, teria de se demitir também do Congresso seguinte, o 119º, para ficar efectivamente fora do cargo. Assim sendo, o representante voltará ao activo já em Janeiro de 2025.

A desistência de Gaetz é estranha por várias razões. O representante populista é um homem ambicioso e tenaz, que não é conhecido por abandonar rapidamente as lutas em que se enfia. Pelo contrário. E as reticências dos senadores republicanos eram susceptíveis de serem combatidas de várias formas por Donald Trump, que podia usar o seu enorme capital político e eleitoral de forma a, por exemplo, ameaçá-los que endossaria, no próximo círculo eleitoral, outros candidatos para os assentos que agora ocupam. Ou procurando criar condições orgânicas para um recesso, de forma a confirmar a nomeação de Gaetz na ausência de quorum no senado, circunstância que está prevista na Constituição americana.

O facto de Trump não ter batalhado pela nomeação e de Gaetz ter baixado os braços poucos dias depois de ter sido nomeado são indicadores de que o Presidente Eleito nunca teve intenção real de elevar o representante populista ao cargo máximo do Departamento de Justiça. E o nomeado terá percebido isso rapidamente e recusado o papel de idiota útil que lhe estava a ser designado.

Esta terá sido assim uma nomeação para ‘populista ver’.  Se Trump nomear agora um homem do establishment poderá sempre dizer que tentou nomear um rebelde, mas que o senado o impediu.

Saberemos se esta hipótese está certa ou errada quando o nome do próximo candidato a procurador-geral for anunciado.