Um novo artigo da revista TIME conta a história de uma mulher biológica de 18 anos que se identifica como transexual ficou chocada ao descobrir que um encontro sexual com um homem levou a uma gravidez, apesar de estar a tomar testosterona.

Mas a TIME faz de conta que a mulher grávida é um homem:

“A gravidez dele foi um choque. A lei do aborto da Florida tornou-a mais difícil”.

Na opinião de Shefali Luthra, o redactor do artigo e activista do aborto, a mulher confusa e grávida de 18 anos que é retratada na história é um homem simplesmente porque afirma ser um homem.

A rapariga refere-se a si própria como Jasper, e a Time informa que a testosterona estava a dar a Jasper uma voz mais grave e um aumento de pelos faciais. Os medicamentos também diminuíram a sua menstruação. Isto levou Jasper a nem sequer considerar o risco de gravidez quando tinha relações sexuais com o seu namorado.

De facto, Jasper engravidou por causa disso, mas como afirmava ser do sexo masculino, um muito incompetente médico que consultou para tratar os sintomas que acompanharam a gravidez – náuseas e dores – nem sequer pensou em verificar se a adolescente estava grávida.

Só quando Jasper estava grávida de 12 semanas é que um profissional de saúde lhe disse que ia ser mãe. Ela queria fazer um aborto, mas devido às leis da Flórida, faltavam apenas três semanas para que interromper a gravidez fosse uma violação da lei estadual. E Jasper não queria revelar a gravidez à família.

Jasper, segundo a revista Time, estava zangada.

“O pensamento passou-lhe pela cabeça: se tivesse nascido cis, nunca teria de se preocupar com a gravidez ou o aborto. Esta era mais uma forma de o seu corpo não se sentir totalmente seu e mais uma forma de sentir que a Florida – que também tinha aprovado recentemente uma lei que proibia os cuidados de afirmação do género para pessoas com menos de 18 anos – estava a tentar negar-lhe a autonomia física básica”.

Apesar do facto de apenas as mulheres biológicas poderem engravidar, a Time insiste em referir-se à rapariga como “ele”, mesmo quando celebra o processo do aborto:

“O aborto foi simples: ele recebeu um sedativo leve, medicação para abrir o colo do útero e uma cirurgia simples para remover o feto. Foi um procedimento seguro e fácil – e imensamente doloroso. E depois acabou”.

Então, como é que a Time afirma que a lei do aborto é pior para “homens grávidos”? Afirmando que Jasper foi apressada a tomar uma decisão, uma vez que a gravidez tinha 12 semanas na altura em que foi descoberta e o aborto era ilegal a partir das 15 semanas.

Exactamente o mesmo problema que teria uma mulher heterossexual que se encontrasse em situação semelhante.

Mas talvez ainda mais perturbador do que o facto de a revista Time não fazer ideia do que é uma mulher, ou fingir que não faz a ideia, é o epílogo do artigo:

“Durante sete dias, Jasper soube que estava grávido, processou a notícia, marcou um aborto e, após duas visitas a uma clínica, interrompeu a gravidez. Ele não se arrependeu. Mas o sentimento ficou com ele – uma voz incómoda que perguntava: e se? E se ele tivesse podido dar à luz e dar a criança para adopção? Poderia ter-se tornado pai, tão jovem como era? Não teve a oportunidade de pensar nisso. Gostava de ter tido mais tempo. Mas esse é um luxo a que ninguém se pode dar na Florida”.

Para além do texto decidir ir ao extremo esquizofrénico de falar de um “pai” que está grávido, na realidade, o que o Shefali Luthra insinua nas entrelinhas é que Jasper deveria ter a possibilidade de abortar a criança quando o seu desenvolvimento estivesse ainda mais avançado. Porque um feto com mais de 4 meses de gestação é perfeitamente descartável, já que a prioridade é dar tempo à decisão sobre a sua vida ou morte por uma criatura de 18 anos, que quer ser um homem mas que tem relações sexuais com outro homem, que não sabe bem, afinal, o que quer.

Espantoso.