Desculpem-me as senhoras, mas não sou um adepto das modalidades femininas do desporto profissional. Com excepção do ténis. E que me perdoem as magníficas Martina Navratilova, Steffi Graf e Caroline Wozniacki, que também deveras apreciei, mas o meu ídolo feminino desta modalidade é e será sempre Maria Yuryevna Sharapova.

Não vou esconder que esta minha paixão assolapada está relacionada, em parte, com o facto de Sharapova ser uma mulher linda de cair para o lado. Mas, convenhamos, a russa tinha outras virtudes.

 

 

Acertando os seus golpes com uma velocidade, potência e profundidade formidáveis, o seu estilo de jogo agressivo e de alto risco traduzia um elevado número de winners, mas também de erros não forçados. A maior arma de Sharapova era o seu backhand, que está no topo do que melhor uma mulher conseguiu produzir neste desporto. O seu forehand também era forte, capaz de dominar os adversários com golpes directos e potentes. Era uma das poucas jogadoras no WTA Tour que usava frequentemente o forehand invertido – também conhecido como o forehand buggy whip – uma técnica que lhe permitia bater winners a partir de posições defensivas, principalmente em courts rápidos. Estas pancadas contribuíram porém para as suas constantes lesões no ombro.

 

 

A partir de 2010, quando regressou após uma cirurgia, Sharapova começou a bater o seu forehand com um swing mais convencional, mas de maior intensidade de topspin. Esta alteração ao seu jogo permitiu-lhe destacar-se em campos de terra batida, mas afectou a performance em campos duros e relvados mais rápidos. Mais tarde na sua carreira, Sharapova adicionou ao seu repertório um drop shot e um backhand cortado, tornando o seu estilo de jogo mais imprevisível e demolidor.

Guerreira feroz, tecnicamente irrepreensível, em certos momentos (os mais importantes) fria e cerebral, Sharapova jogava ténis como se disso dependesse o futuro – e a glória – da humanidade. Mesmo que essa virtuosa intempestividade implicasse o agravamento da sua condição física. Sem sacrifício, não há glória.

Não posso falar pelos outros, mas por mim, agradeço-lhe a generosidade implacável.

 

 

Maria Sharapova lutou a vida toda contra lesões que lhe arruinaram sistematicamente a carreira. E ainda assim é hoje considerada como um tenista lendária, também porque conseguiu o feito de ganhar os 4 torneios do Grand Slam, ramalhete épico que apenas outras nove senhoras conquistaram na história da raquetada.

Tenho realmente muitas saudade de a ver jogar, daquele ténis de tudo ou nada, do mais vale quebrar que torcer, do risco ser a profissão dela, que ela trazia na alma. Tenho realmente muitas saudades de a ver em traje de gala, vestida para matar, nos courts de ténis do ATP.

Deixo aqui um clip, entre tantos que podia publicar, dos seus melhores momentos no Open que ela gostava mais, o americano.

Mas na verdade, não há resenha que faça justiça à força interior, à determinação, ao talento e, caramba, à elegância desta espécie de semi-deusa.

 

 

Maria Sharapova deixou o Ténis de alta competição em 2020, casou e teve um filho. Ainda bem para ela. Se ainda hoje jogasse ténis profissional, e permanecesse fiel à sua pátria, nem direito a bandeirinha tinha, no oráculo da Eurosport.