Manfred Weber: o líder do PPE que já desistiu de fingir que é conservador

 

Num momento que faz prova do Unipartido que reina na Europa, o presidente do PPE, o maior e mais antigo colectivo do Parlamento Europeu, de centro-direita, juntou-se ao grupo coral do apocalipse nuclear, avisando contra as maléficas intenções de Moscovo e a necessidade da Europa se preparar para a guerra com a Rússia.

É o quinto líder político ou militar de topo que nas duas últimas semanas optou por este delirante, beligerante e perigosíssimo registo oratório, juntando as suas declarações àquelas proferidas pelo chefe da defesa norueguesa, Eirik Kristoffersen, o almirante Rob Bauer, presidente do Comité Militar da NATO, e os principais intérpretes políticos da segurança sueca, o Ministro da Defesa, Carl-Oskar Bohlin, e o Comandante Supremos das Forças Armadas do país, Micael Bydén. E isto num contexto enquadrado por um conjunto de documentos secretos, talvez intencionalmente caídos no domínio público, que revelaram que o Ministério da Defesa alemão prevê que a Rússia transforme o conflito na Ucrânia numa guerra europeia total durante o próximo ano e meio. Os documentos especulam, sem anexarem qualquer evidência material, que a Rússia tomará a Ucrânia e, em seguida, lançará ataques cibernéticos e fomentará a violência na Estónia, Letónia e Lituânia.

Manfred Weber disse na semana passada, numa entrevista ao Politico, que A UE precisa de integrar e aumentar drasticamente as suas capacidades e estruturas de defesa para estar pronta para a guerra. O líder “consevador” europeu apelou à criação de uma união de defesa para dissuadir a Rússia, porque Donald Trump vai ser eleito e abandonar a Europa ao demónio que habita as catacumbas do Kremlin.

O medo de Trump, que Weber partilha com aqueles que deviam ser os seus adversários políticos como von der Leyen, Schwab, Scholz,  Macron e companhia ilimitada, não deixa o líder do PPE dormir em paz:

“Quando olho para este ano como político europeu, a primeira coisa que me passa pela cabeça é Trump”.

O líder supostamente conservador acrescentou que a capacidade da UE de se proteger sem o apoio dos EUA é “a questão fundamental” que dominará as discussões em Bruxelas em 2024. Weber também não é o primeiro, nos últimos dias, a usar Trump para justificar incrementadas ambições de defesa que, em última análise, levariam à criação de um exército da UE sob a liderança centralizada de Bruxelas. (Ironicamente, essa é que deveria ser a substância dos pesadelos do presidente do PPE).

No início deste mês, o comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton, recordou que Trump terá dito aos líderes da UE, numa conversa privada, que “abandonaria a NATO” se fosse reeleito, por muito disruptivo que isso possa parecer, dada a interligação das forças armadas dos EUA com as diferentes estruturas da Aliança Atlântica.

Breton propôs a criação de um fundo de defesa gigantesco, no valor de 100 mil milhões de euros, que seria a base das futuras forças de defesa da União Europeia. O financiamento desta extravagância seria captado através de uma nova ronda de dívida conjunta, ou seja: um excelente negócio para os bancos e mais um pesado fardo para os contribuintes europeus.

Na entrevista telefónica que concedeu enquanto viajava no jacto privado do PPE rumo à Ucrânia, para prometer mais mundos e fundos a Zelensky, Weber disse:

“Estamos num momento histórico e temos de o compreender e aproveitar. A UE tem de ser capaz de se defender de forma independente”.

Independente do quê e de quem? Da vontade popular? Do bom senso? Da parcimónia fiscal? De uma filosofia de paz?

Weber disse que o seu partido – que deverá perder alguns lugares nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, mas que, como o Contra já fez notar, continuará a ser o maior no Parlamento – está a preparar-se para propor várias medidas concretas que se tornariam a espinha dorsal da defesa da União. O líder do PPE propôs três coisas, em particular, para compor o seu “pilar europeu de defesa”: um escudo anti-míssil, um sistema de defesa cibernética e um guarda-chuva nuclear.

“A Europa tem de criar dissuasão. Todos sabemos que, quando é preciso, a opção nuclear é realmente decisiva”.

O senhor Weber não terá, se calhar, consciência do que está a dizer. A Europa, por muitos milhões de euros que gaste num qualquer programa de defesa será sempre uma presa fácil perante o poder nuclear russo. Ou tem disso pleno conhecimento mas prefere a farsa e esta segunda hipótese é a mais provável.

O sistema de defesa anti-míssil da UE – denominado “Eurodome“, inspirado no modelo israelita – já tinha sido proposto pela Comissão Europeia em Outubro, juntamente com infra-estruturas espaciais e uma frota de guerra, que incluiria um porta-aviões.

Qualquer pessoa de bom senso ficará arrepiada só de pensar que os burocratas da Comissão Europeia teriam poder sobre uma estrutura militar deste género.

Sendo a França o único Estado-membro que possui armas nucleares, com cerca de 300 ogivas, Weber entreteve-se a namorar o líder globalista, que também é um entusiasta de uma força militar integrada, às ordens de Bruxelas:

“Devemos aceitar a oferta de Macron e reflectir sobre a forma como o armamento nuclear francês pode ser incorporado nas estruturas europeias”.

A “oferta” foi feita em 2020, quando Macron propôs um diálogo estratégico a nível da UE sobre “o papel da dissuasão nuclear da França na segurança colectiva da Europa”. Mas não gostando da ideia dos franceses assumirem um papel de liderança seja do que for, quanto mais de forças militares, a Alemanha tem ignorado estes apelos nos últimos anos, embora o plano ainda esteja em cima da mesa.

Um documento recentemente divulgado sugere a criação de uma pasta de defesa autónoma na Comissão Europeia, o que demonstra que Bruxelas já se está a preparar para reforçar as políticas conjuntas nesta área. Há rumores de que o candidato mais provável para se tornar o primeiro Comissário da Defesa da UE é o Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radosław Sikorski.

No entanto, estas questões não vão ser discutidas de um dia para o outro, mas há algo que deve ser feito imediatamente, segundo Weber, que é “mudar para uma economia de guerra” para ajudar a Ucrânia e aumentar a prontidão a longo prazo.

Apesar de Bruxelas ter prometido entregar a Kiev um milhão de cartuchos de artilharia até Março deste ano, menos de metade desse montante chegou à Ucrânia até agora e por isso, Weber acha que os Estados-Membros da UE deveriam recorrer a decretos de emergência para obrigar as empresas privadas a direccionar a produção para a Ucrânia, sacrificando as suas estratégias de negócio.

Genial.

Além disso, Weber sugeriu que o processo de decisão da UE deveria ser simplificado para se tornar mais eficaz, defendendo implicitamente a eliminação dos poderes de veto no Conselho. Uma vez que o pacote de 50 mil milhões de euros para a Ucrânia só está atrasado devido ao veto de um Estado-Membro (Hungria), a única forma de acelerar este e outros procedimentos é simplesmente não deixar que todos tenham uma palavra a dizer.

Brilhante.

“Estamos a sufocar nas nossas próprias regras burocráticas e somos demasiado lentos para apoiar a Ucrânia. E é por isso que também temos de mudar para uma espécie de economia de guerra nas aquisições para a Ucrânia, em que a Europa decide rapidamente, em que os ministros decidem rapidamente”.

O argumento não é surpreendente vindo de Weber, uma vez que o líder do PPE é um dos principais líderes da UE que há muito tempo vem apelando à revisão do Tratado Eurofederalista, incluindo a retirada dos direitos de veto aos Estados-Membros e o aumento dos poderes do Parlamento Europeu.

Antecipando a próxima ronda de alargamento dentro de uma década, fala-se cada vez mais de alterações ao Tratado para “acomodar” os recém-chegados, devendo a Comissão Europeia apresentar as primeiras propostas concretas no próximo mês.