Dentro das suas limitadas capacidades editoriais, o ContraCultura tem tentado alertar para o ataque ao cristianismo e a perseguição aos seus fiéis que tem prosperado globalmente, muito graças à indiferença do Ocidente e à vilania daqueles que usurparam o poder no Vaticano.

Na Austrália, a religião cristã está a ser cada vez mais associada ao fanatismo e à intolerância, e as plataformas legislativas existentes e propostas no país discriminam os crentes e impedem a sua participação na vida política. Com a cumplicidade até do partido conservador.

No Reino Unido, o simples acto de rezar é agora um crime de ódio enquanto um quarto dos jovens apoia a proibição da Bíblia, caso os textos entrem em conflito com as draconianas leis de “discurso de ódio” que vigoram no país. O que é espantoso para uma nação de governo “conservador” e de fundação cristã, em que ao monarca cabe também a liderança da igreja.

Também em Espanha, as pessoas estão a ser presas por rezarem o terço.

 

 

Na Ucrânia, A liberdade religiosa, como outras liberdades civis, está a ser completamente obliterada por ordens de Zelensky, que, como bom neo-liberal que é, fecha igrejas e confisca os seus bens a um ritmo alucinante.

No Canadá, de acordo com novos dados divulgados pelo governo federal, os crimes de ódio contra católicos registados pela polícia aumentaram 260% em 2021, de longe o maior aumento registado por qualquer confissão religiosa durante esse período.

Em Israel, Os cristãos estão a ser perseguidos, atacados e maltratados, e o regime de Benjamin Netanyahu nada está a fazer para travar a tendência e responsabilizar os agressores. O  Vaticano do anti-papa Francisco guarda sobre o assunto, infame silêncio.

Na China, testemunhas relataram à Radio Free Asia o seu encarceramento por funcionários do Partido Comunista em centros móveis de “lavagem ao cérebro”, onde enfrentam espancamentos rotineiros, doutrinação do género maoista e confinamento em celas solitárias. A troco de coisa nenhuma, o anti-Papa Francisco abandonou os católicos chineses. O infame acordo que firmou em 2018 com Xi Jinping constituiu uma traição aos fieis do império do meio, que continuaram a ser perseguidos. E uma ingenuidade diplomática, porque Pequim nunca teve a intenção de cumprir o que foi estabelecido no acordo.

Em França, uma mesquita é construída e um monumento cristão é destruído a cada duas semanas e a monumentalidade católica está sob a ameaça do vandalismo islâmico e do paganismo globalista das instituições governamentais.

Nos Estados Unidos, um ex-agente do FBI revelou um relatório interno desta agência que acusa os católicos que preferem a missa em latim de “adesão à ideologia anti-semita, anti-imigrante, anti-LGBTQ e supremacista branca”. Além de operar como polícia política, a agência federal também persegue as convicções religiosas dos cidadãos americanos.

Em 2023, mais de 5.600 cristãos foram mortos por causa da sua fé e pela mesma razão 124.000 foram deslocados à força das suas casas, sendo que 15.000 tornaram-se refugiados. Mais de 2.100 igrejas foram atacadas ou fechadas.

Mas a perseguição não fica por aqui e é necessário actualizar esta lista de crimes contra a humanidade, a liberdade religiosa e o cristianismo, que estão a ser cometidos com cada vez maior intensidade e impunidade por todo o mundo.

 

Os cristãos nigerianos passaram o Natal sob a ameaça de genocídio jihadista.

Os cristãos na Nigéria celebraram o Natal deste ano enfrentando um ataque implacável do terrorismo jihadista, que procura eliminá-los do país, segundo testemunhas citados pelo Breitbart.

No nordeste do país, os cristãos nigerianos têm suportado décadas de ataques do Boko Haram, a organização terrorista afiliada ao Estado Islâmico e empenhada em matar cristãos e em forçar raparigas jovens a “casamentos” de escravatura sexual com os seus combatentes. Na região central da Nigéria, a chamada “Faixa do Meio”, os jihadistas pertencentes ao grupo étnico Fulani, maioritariamente muçulmano, realizam regularmente ataques a comunidades cristãs, incendiando aldeias inteiras e ocupando terras historicamente habitadas por cristãos. O objectivo em ambos os casos é o genocídio dos cristãos nigerianos e o estabelecimento de um sistema de “califado” de inspiração na lei da sharia.

A International Christian Concern nomeou a Nigéria como o principal opressor de cristãos no seu relatório de 2023 – o lugar mais perigoso do mundo para se ser cristão – em resultado do “genocídio de 20 anos contra os cristãos” perpetrado pelo Boko Haram, os Fulani e outros elementos jihadistas. Jeff King, presidente da organização declarou:

“Creio que há entre 3 milhões e meio e 4 milhões de cristãos nesta zona da Nigéria dominada pelos Fulani – e mais de 2 milhões estão deslocadas. Por isso, não é um bom sítio para se estar. Por exemplo, a Diocese de Makurdi perdeu 14 paróquias. Na Nigéria uma paróquia não é apenas um edifício, é muitas vezes dois, três, quatro, até uma dúzia de edifícios, porque é uma área tão grande que uma paróquia pode representar 10 ou 12 locais de culto. Por isso, a diocese perdeu 14 destas paróquias e quando dizemos perdidas, referimo-nos a território perdido, há cristãos que estão a ser forçados a sair, pelo que não há mais residentes. Num período de quatro meses, mais de 50 ataques diferentes mataram mais de 500 cristãos. Não há uma semana que passe em que os cristãos não sejam brutalmente raptados, torturados e mortos na Faixa do Meio. A adopção da lei da Sharia em 12 estados do Norte contribuiu para a perseguição contínua dos cristãos na região”.

Estas descrições são consistentes com as que foram reportadas em Julho pelo Padre Remigius Ihyula, capelão universitário e coordenador de ajuda de emergência na Diocese de Makurdi.

“Estas mortes têm sido constantes. Temos documentado atrocidades que atingiram o nível de genocídio contra o nosso povo. Pessoas, mulheres e crianças, são mortas diariamente. São chacinadas, foram expulsas das suas casas, algumas vivem em campos há cerca de dez anos. Não podem regressar às suas casas”.

No nordeste da Nigéria, em particular no estado de Borno, o berço do Boko Haram, os cristãos enfrentam uma rotina semelhante de raptos, assassínios em massa, bombardeamentos e outros ataques.

No centro-norte do país, a catástrofe humanitária acompanha esta sinistra tendência. Em Dezembro, pelo menos 140 pessoas, na sua maioria cristãos, foram mortas por pistoleiros que atacaram aldeias remotas durante dois dias no estado de Plateau,  segundo relatos de sobreviventes e funcionários governamentais.

 

 

O gabinete da Amnistia Internacional da Nigéria disse à The Associated Press que, até agora, confirmou 140 mortes nas áreas governamentais locais do Plateau, dominadas demograficamente pelos cristãos, em Bokkos e Barkin-Ladi, com base em dados compilados pelos seus colaboradores no terreno e pelos funcionários locais, embora os habitantes receassem um número mais elevado de mortes, com algumas pessoas desaparecidas.

Alguns dos habitantes locais disseram que demorou mais de 12 horas até que as agências de segurança respondessem ao seu pedido de ajuda, facto que reflecte preocupações anteriores sobre a lentidão das intervenções das forças de segurança nigerianas.

 

 

Na China comunista, ser cristão pode prejudicar a distópica pontuação de crédito social.

A considerável população cristã da China – incluindo membros de igrejas “legais” controladas pelo Partido Comunista e de “igrejas domésticas” ilícitas que procuram um espaço de oração privado – enfrenta uma perseguição significativa se for considerada “demasiado entusiasta” na celebração do Natal, segundo um testemunho de David Curry, presidente e director executivo da Global Christian Relief.

Todos os cidadãos chineses são forçados a participar no que o Partido Comunista chama de “sistema de crédito social”, no qual o Partido classifica cada indivíduo com base no fervor revolucionário e na lealdade ao ditador comunista genocida Xi Jinping. A fé em geral, explicou Curry, indica ao governo a lealdade a um poder superior ao de Xi e pode, por isso, prejudicar a pontuação de crédito social de uma pessoa. Como resultado, a maioria dos cristãos chineses provavelmente observará o feriado de Natal em casa, temendo represálias do regime.

Curry retrata assim a situação dos cristãos na China:

“O governo dir-lhe-á que as pessoas são livres de praticar a sua religião e de celebrar o Natal, mas também são classificadas no seu sistema social como radicais. É negativo ser demasiado entusiasta em relação à fé, porque a prioridade para eles é o Partido Comunista. Por isso, se as pessoas estiverem a celebrar discretamente, há muito poucas hipóteses de serem assediadas, mas quaisquer manifestações públicas por altura do Natal e grandes movimentos de igrejas para celebrar o Natal serão certamente monitorizados e potencialmente prejudicarão a classificação social das pessoas envolvidas. Se tivermos pontos suficientes contra nós, não poderemos viajar, podemos perder o emprego, etc.”

O sistema de crédito social, como explicado pelos meios de propaganda chineses, destina-se a punir comportamentos “incivilizados”. Exemplos comuns citados em veículos como o estatal Global Times incluem pessoas que comem em transportes públicos lotados, atiram lixo para o chão ou não pagam para estacionar os seus carros em áreas em que o estacionamento é pago. O Global Times vangloriou-se em 2019 de que o sistema iria “restaurar a moralidade” no país, incentivando a cidadania. Mas na realidade, o sistema de crédito social pune essencialmente qualquer comportamento considerado dissidente da ortodoxia do Partido Comunista. Acreditar em qualquer religião além do Estado pode ser uma causa para uma pontuação mais baixa, já que a lei chinesa proíbe uma ampla variedade de comportamentos religiosos normais, como levar alguém com menos de 18 anos a um serviço religioso ou prestar culto fora de uma instituição controlada pelo Partido.

As consequências de uma baixa pontuação de crédito social são graves. Em 2019, o governo vangloriou-se de ter colocado 13 milhões de pessoas na lista negra, impedindo-as de utilizar os transportes públicos e privando-as de serviços sociais.

Em Setembro deste ano, o grupo cristão de direitos humanos China Aid informou que tinha provas de que a China estava a construir um sector separado do seu sistema de crédito social para controlar os fiéis cristãos em Shandong, sujeitando-os a padrões mais rigorosos de alegada moralidade.

A China permite que os cidadãos adiram apenas a cinco religiões: O catolicismo controlado pelo partido, o protestantismo (a “Igreja Patriótica das Três Autonomias”), o budismo, o taoísmo e o islamismo.

A verdadeira dimensão da população cristã da China não é clara, pois acredita-se que muitos cristãos escondem a sua identidade por medo de perseguição. A International Christian Concern (ICC) observou, em meados de Dezembro, do ano passado que as estimativas variam entre 85 e 128 milhões de cristãos – sendo este último número superior ao dos membros do Partido Comunista (!). O Pew Research Center publicou um estudo, utilizando estatísticas do governo chinês, que indica que o aumento do número de cristãos na China parece ter cessado abruptamente por volta de 2010.

Xi Jinping tornou-se “presidente” em 2013 e iniciou imediatamente uma campanha para nacionalizar a religião, forçando os grupos religiosos a adoptarem as suas crenças ao comunismo e a renderem-se à sua autoridade. O reinado de Xi tem sido marcado pela destruição violenta de igrejas – incluindo o assassinato de cristãos juntamente com as suas igrejas; a pressão para que as famílias substituam as imagens de Jesus nas suas casas pelo rosto do líder do partido, e as advertências sinistras de que “o cristianismo não pertence à China”.

Para agilizar a repressão, o regime reforçou as infra-estruturas de vigilância generalizada que tornam quase impossível assistir a um serviço religioso ou rezar sem se ser apanhado por uma câmara. A partir de Março, assistir a um serviço religioso em algumas províncias requer permissão explícita do governo através do registo na aplicação de telemóvel “Smart Religion”.

No caso raro de alguém conseguir evitar uma câmara, as autoridades chinesas encorajam activamente os apoiantes comunistas a espiar os seus vizinhos e a “denunciar actividades religiosas ilegais”.

 

Cristãos no norte da Índia renunciam às celebrações de Natal após ano “recorde” de perseguição.

Livre de qualquer pressão ocidental no sentido da protecção da liberdade religiosa, o governo nacionalista hindu da Índia preside à escalada da perseguição aos cristãos, que evoluiu no país a um “ritmo recorde” em 2023.

O primeiro-ministro Narendra Modi afirmou repetidamente em público que a Índia não é um foco de perseguição ou violência contra minorias religiosas.

Em declarações proferidas ao lado do presidente Joe Biden durante uma visita a Washington este ano, Modi disse:

“Na verdade, estou realmente surpreso que as pessoas digam isso. A Índia é uma democracia. Sempre provámos que a democracia pode produzir resultados, independentemente de casta, credo, religião e género. Não há absolutamente nenhum espaço para discriminação.”

Modi mentiu com quantos dentes tem (e não só em relação à religião, já que nenhuma democracia sobrevive a um sistema de castas, como devia ser óbvio para toda a gente). Na realidade, os nacionalistas hindus organizaram regularmente ataques em turba contra comunidades cristãs ao longo do ano, incendiando igrejas e muitas vezes destruindo bairros inteiros, deixando os cristãos deslocados. Os piores episódios de violência em 2023 ocorreramem Manipur, no norte da Índia, onde membros da tribo hindu Meitei lançaram um ataque violento massivo contra as comunidades cristãs Kuki-Zo durante a Primavera e o Verão, filmando frequentemente as suas atrocidades. O governo de Modi não comentou o assunto até que um vídeo se tornou viral no resto do país, mostrando uma multidão de homens Meitei a violar mulheres cristãs em plena luz do dia e a desfilá-las nuas pelas ruas. Aparentemente, o Ocidente só fica chocado quando são mulheres judias a serem violadas em massa.

Uma das mulheres agredidas revelou, numa entrevista em Julho:

“A polícia estava lá com a multidão que atacava a nossa aldeia. A polícia apanhou-nos perto de casa e levou-nos para longe da aldeia e deixou-nos na estrada à mercê da multidão. Fomos entregues a eles pela polícia.”

 

 

Pelo menos dezenas de milhares de pessoas continuam deslocadas em Manipur desde Setembro, segundo as Nações Unidas. Como resultado, as celebrações do Natal estarão praticamente ausentes nesta região. Helamboi Baite, local de Manipur, testemunhou:

“A violência continua. Neste ambiente, ninguém pode celebrar o Natal ou qualquer outro festival como antes. Não será o mesmo para nós. Talvez as famílias façam uma celebração triste dentro de suas casas, mas não creio que nenhuma reunião ocorra nas ruas.”

Os cristãos de Manipur realizaram em Dezembro um funeral colectivo para os restos mortais de 87 pessoas assassinadas na violência tribal que eclodiu em Maio. Foram precisos 7 meses para que tivessem acesso aos restos mortais de seus entes queridos.

O Fórum de Líderes Tribais Indígenas (ITLF), uma organização Kuki-Zo, disse num comunicado:

“A vítima tribal mais jovem na violência em curso é Isaac, de um mês, enquanto a mais velha é Veinem Chongloi, de 87 anos”.

A explosão de violência anticristã em Manipur seguiu-se a um protesto de cristãos em Nova Deli, em Fevereiro, no qual uma multidão de entre 15.000 e 20.000 pessoas exigiu que o governo de Modi agisse para proteger as comunidades cristãs. O Fórum Cristão Unido, um grupo de direitos humanos que participou na manifestação, declarou:

“Estamos aqui reunidos pacificamente porque queremos partilhar a angústia dos nossos concidadãos que seguem a fé cristã nos estados de Chhattisgarh, Jharkhand, Madhya Pradesh, Uttar Pradesh, Karnataka e tantos outros lugares onde os seus direitos fundamentais básicos estão a ser violados.

 

 

O governo nacional de Nova Deli raramente participa activamente nesta violência, mas também pouco faz para a impedir. Jeff King, presidente da Organização Internacional. Christian Concern, caracteriza assim a situação:

“Os brâmanes que ocupam o topo da paisagem cultural da Índia vêem o cristianismo como uma ameaça directa ao seu estatuto e poder e, portanto, têm a intenção de estrangulá-lo. Modi é um político muito experiente que nunca fará comentários anticristãos. A sua principal tarefa é permanecer em silêncio em resposta aos ataques aos cristãos. A violência continuou este ano a um ritmo recorde e eclipsará os 600 ataques registados em 2022. Motins em grande escala perpetrados por hindus radicais em Chhattisgarh e Udar Pradesh deslocaram milhares de cristãos e destruíram centenas de casas e igrejas. Por causa da inacção de Modi e do seu governo em Manipur, vimos um incrível surto de violência anticristã. Os cristãos sofreram muito com os ataques brutais a centenas de igrejas. Embora tenha sido difícil obter informações precisas devido ao bloqueio do governo, no Verão, 3.500 casas, 200 a 400 igrejas cristãs, incluindo pelo menos duas dúzias de igrejas Meiti, e dezenas de templos foram destruídos.”

Corroborando este cenário hediondo, David Curry, presidente da Global Christian Relief, declarou em comunicado:

“Apenas nos últimos 12 meses, houve tumultos massivos em Chhattisgarh contra igrejas e, claro, em Manipur, no norte, onde mais de 350 igrejas foram destruídas. São muitas igrejas, são muitas pessoas que foram deslocadas, centenas de milhares – e o governo tem feito pouco ou nada a respeito.”

O cristianismo é a terceira maior religião da Índia, com cerca de 26 milhões de crentes, que representam 2,3% da população, segundo um censo de 2011.

 

Na Nicarágua a guerra contra os cristãos subiu de intensidade em 2023.

Milhões de nicaraguenses passaram o Natal sob a crescente repressão do ditador comunista Daniel Ortega, que prendeu e baniu membros da Igreja Católica, proibiu as festividades católicas e obrigou os cristãos ao silêncio.

Os nicaraguenses são um povo maioritariamente católico. Dos cerca de 6,35 milhões de cidadãos do país, 50% identificam-se como católicos romanos e 33,2% identificam-se como cristãos evangélicos. Outros 2,9% são praticantes de outras religiões.

Ortega, que afirma ser católico, tem mantido uma animosidade feroz contra a Igreja Católica ao longo das quatro décadas de domínio sandinista na Nicarágua, declarando guerra ao Vaticano em 2022 e afirmando abertamente que nunca nutriu qualquer respeito pelo Bispos da Igreja.

Ortega e a sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, usaram todo o poder do regime sandinista para punir a Igreja Católica da Nicarágua pelo apoio que prestou aos dissidentes pró-democracia, durante a onda de protestos pacíficos de 2018, quando milhares de nicaraguenses foram às ruas apelando ao fim de quatro décadas de regime comunista.

O apoio da Igreja aos dissidentes pró-democracia levou Ortega a rotular os bispos católicos de “terroristas”, acusando-os de conspirar para encenar um golpe de Estado. Ortega afirma ainda que a Igreja protegeu “um gangue de assassinos” que, segundo ele, tentou matá-lo em 2018.

A “punição” da Igreja Católica pelo regime de Ortega começou com ataques violentos contra igrejas, levados a cabo por sandinistas em nome do regime dominante e aumentou dramaticamente em 2022 e 2023.

O regime de Ortega proibiu a Igreja de celebrar as suas tradicionais festividades e procissões. As celebrações públicas da festa de Nossa Senhora de Guadalupe e da festa da Imaculada Conceição tornaram-se as últimas adições a uma lista crescente de celebrações proibidas antes da época do Natal deste ano.

As autoridades nicaraguenses afirmam repetidamente que as proibições são necessárias por razões de “segurança pública”, não fornecendo quaisquer provas de como estas actividades religiosas pacíficas representam alegadamente uma ameaça. Tais advertências impedem os fiéis de exercerem livremente o culto da sua religião.

Durante a Quaresma de 2023, o regime de Ortega proibiu as procissões da Semana Santa em todo o país, incluindo as procissões da Via Crucis (Estações da Cruz) que comemoram o último dia de Jesus Cristo na Terra antes da ressurreição.

Em 2022, as procissões católicas dos Santos Miguel e Jerónimo e de La Purisima e La Griteria, celebrações únicas da Nicarágua dedicadas à virgem Maria, também foram proibidas.

Os jornalistas que ousam cobrir as festividades católicas locais estão também sujeitos à retaliação do regime sandinista. É o caso do repórter Victor Ticay, que a polícia prendeu na sua cidade natal, Nandaime, pelo “crime” de cobrir La Reseña, uma centenária procissão católica local celebrada em Nandaime durante a Semana Santa, e publicar imagens do evento nas redes sociais.

Ticay foi condenado em Agosto a oito anos de prisão por “divulgação de notícias falsas”, “conspiração para minar a integridade nacional” e acusações de “traição”.

No que diz respeito à repressão contra membros da Igreja da Nicarágua, o caso mais significativo é a prisão e condenação do Bispo de Matagalpa, Monsenhor Rolando Álvarez, um crítico ferrenho de Ortega que está detido como prisioneiro político desde Agosto de 2022.

Álvarez foi preso juntamente com outros sete membros da Igreja Católica, no final de uma operação policial de duas semanas. Álvarez foi acusado de ter cometido “pecados contra a espiritualidade”, condenado a 26 anos de prisão por “traição” e privado da sua cidadania, tornando-se apátrida – um acto que viola claramente o direito internacional. O advogado de Álvarez, Yonarqui Martínez García, foi permanentemente impedido de exercer a advocacia.

Na semana passada, o bispo Isidoro del Carmen Mora Ortega, de 63 anos (sem parentesco com o ditador), foi preso, tornando-se o segundo bispo a ser colocado atrás das grades no país.

O “crime” do Bispo Mora foi ter oferecido orações por Álvarez ao lado de membros da Conferência Episcopal da Nicarágua. O Bispo terá sido interceptado pela Polícia da Nicarágua quando se dirigia à paróquia de Santa Cruz, onde pretendia presidir à Confirmação de 230 paroquianos, segundo fontes locais.

Em Novembro, vários membros da Igreja Católica da Nicarágua que foram perseguidos relataram ao Congresso dos EUA as suas experiências angustiantes. As testemunhas detalharam como foram presos, interrogados e brutalizados pelo regime comunista, que os acusou de fazerem parte de um sindicato do “crime organizado” simplesmente por serem católicos. Uma das testemunhas reportou:

“Fomos acusados de sermos membros de um gangue de crime organizado e de que os líderes eram os bispos, e acima de tudo Rolando [Álvarez]. Fui acusado de minar a dignidade do Estado e da Nicarágua, e de espalhar notícias falsas”.

Álvarez é o primeiro padre católico a ser preso após o regresso de Ortega ao poder em 2007. Desde a sua prisão e sentença, o padre só foi visto em fotografias e vídeos divulgados pelo regime de Ortega que o mostram visivelmente magro. Álvarez continua preso em La Modelo, penitenciária localizada nos arredores da capital do país, Manágua. La Modelo é notoriamente conhecida pela tortura e espancamento de prisioneiros que ocorre diariamente.

Os sete homens detidos na rusga à casa de Álvarez – quatro padres, dois seminaristas e um leigo – foram condenados a dez anos de prisão em Fevereiro por acusações de “traição” e “notícias falsas”.

Em Outubro, os padres católicos Julio Ricardo Norori e Iván Centeno foram raptados pelas forças policiais da Nicarágua enquanto estavam nas suas respectivas igrejas.

Outros membros da Igreja Católica foram banidos em 2022, incluindo o núncio papal, arcebispo Waldemar Stanislaw Sommertag, e 18 freiras da congregação das Missionárias da Caridade. O Monsenhor Silvio Báez fugiu da Nicarágua em 2019.

Em 2022, o regime de Ortega começou a encerrar à força as estações de televisão e rádio católicas. Em Novembro de 2023, pelo menos 15 meios de comunicação católicos foram encerrados, juntamente com dezenas de meios de comunicação dissidentes.

O regime congelou os activos bancários da Igreja Católica da Nicarágua e confiscou ou fechou universidades lideradas por católicos em todo o país. A Universidade Centro-Americana (UCA) de Manágua, gerida pela ordem jesuíta, foi completamente ocupada pelo regime em Agosto. A Universidade João Paulo II e a Universidade Cristã Autónoma da Nicarágua (UCAN) foram fechadas pelo regime em Março.

Tal como o regime socialista de Maduro na Venezuela, a perseguição do regime sandinista não se limita a silenciar as vozes católicas, mas procura sequestrar a fé cristã de forma colocá-la ao serviço da ideologia oficial do estado. Depois de proibirem as festividades da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Ortega e a sua mulher celebraram a sua própria versão socialista da festividade, na qual Murillo acusou a Igreja Católica e os dissidentes do regime comunista de espalharem “ódio terrorista”.

Só mesmo Jesus Cristo lhes poderá perdoar a iniquidade.