Em 2008, foi revelada publicamente uma conversa entre o jornalista de esquerda Iñaki Gabilondo e o primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero. O jornalista perguntou a Zapatero sobre sondagens desfavoráveis, ao que Zapatero respondeu, desvando a conversa: “Bem, o que nos convém é que haja tensão”. A tensão resultou e os socialistas voltaram a ganhar as eleições.

A estratégia de confrontar e dividir a sociedade de forma antagónica, uma velha táctica da esquerda, ganhou votos, e o Governo de Zapatero aprovou leis controversas, como a lei da memória histórica, que reabriu velhas feridas com o objectivo de reescrever o passado do país e adulterar o legado civilizacional. Infelizmente, o Partido Popular, de centro-direita, não reagiu e até apoiou a deriva socialista.

Zapatero perdeu as eleições em 2011, mas, apesar de ter abandonado a política nacional, tornou-se uma figura de proa do Grupo de Puebla, um fórum político de esquerda, onde trabalhou para branquear as ditaduras de Cuba e da Venezuela, apoiar Ortega, o tirano de Nicarágua, e Gustavo Petro, o Presidente da Colômbia que já foi guerrilheiro da M-19, um movimento de guerrilha urbana de extrema-esquerda.

Agora sabemos que o representante do Grupo de Puebla e amigo de Nicolás Maduro pode voltar a desempenhar um papel importante na política espanhola; foi anunciado que Zapatero participará na reunião entre o PSOE, o partido socialista no poder, e o partido separatista catalão Junts, hoje, terça-feira, 21 de Novembro, em Genebra, na Suíça. Esta reunião contará, mais uma vez, com a presença do ex-presidente catalão fugitivo Carles Puigdemont e de Santos Cerdán, número 3 do PSOE.

Tendo em conta a relação que o PSOE tem com a Venezuela e o facto de o Podemos ter sido financiado por Hugo Chávez, a provável presença do principal representante espanhol no Grupo de Puebla não parece ser uma coincidência.

Vários políticos separatistas anunciaram também, da tribuna do Congresso, que não deixarão que o PSOE renegue o seu acordo. O deputado Gabriel Rufián, da Esquerda Republicana da Catalunha, avisou Pedro Sánchez durante o debate de investidura que culminou com a eleição do candidato socialista para primeiro-ministro:

“Não brinques com o acordo.”

O PSOE apresentou o debate como uma vitória das forças progressistas, evitando um governo radical de “extrema-direita”, constituído pelo VOX e pelo PP, de centro-direita. Num discurso orwelliano, Sánchez apresentou-se como um muro contra a “extrema-direita” e justificou todas as suas concessões ao separatismo em nome da coexistência e da democracia.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, acusou Sánchez de “corrupção política” em troca de manter o seu lugar na Moncloa (residência do primeiro-ministro) e da sessão de investidura ter nascido “de uma fraude” comprada com cheques que todos os espanhóis vão pagar. “A história não vos amnistiará”, concluiu Feijóo.

Por seu lado, Santiago Abascal, o líder do VOX, denunciou Sánchez, acusando-o de ter levado a cabo um “golpe de Estado” e acrescentando que “o único lugar que merece é no banco dos réus”. A referência ao golpe de Estado foi retirada do diário das sessões por ordem da presidente do Congresso, a socialista Francina Armengol, uma decisão que, para Abascal,

“demonstra que a denúncia é de facto uma realidade e que os deputados nem sequer têm liberdade de expressão na tribuna”.

Abascal e os deputados da VOX abandonaram o hemiciclo antes da resposta de Sánchez para se juntarem aos manifestantes que protestavam contra a investidura à porta do Congresso:

“Agora podem dizer as vossas mentiras a quem vos quiser ouvir. Nós vamos estar com o povo espanhol que está a lutar contra o vosso golpe”.

A campanha eleitoral do início deste ano, em que os socialistas negaram mil vezes a possibilidade de conceder uma amnistia, quanto mais um referendo sobre a autodeterminação, para depois acabarem por conceder isso e muito mais para ganharem os votos do fugitivo Puigdemont, parece agora muito distante.

No entanto, a realidade é ainda pior. Questionado pelos jornalistas sobre se o pacto com a Junts poderia estar em perigo, Santos Cerdán disse que não e reconheceu que as negociações tinham começado em Março. Enquanto os deputados socialistas gritavam contra o separatismo de Puigdemont, reuniam-se secretamente com ele para comprar o seu apoio. Com os votos dos comunistas e dos independentistas bascos, catalães e galegos, Pedro Sánchez está a enveredar por um caminho incerto, marcado pela chantagem dos seus parceiros, pela instabilidade política e pelo colapso do Estado de direito. Para muitos, o que está a começar é uma verdadeira mudança de regime.

 

A mobilização permanente dos espanhóis.

Os protestos em frente à sede do PSOE, nomeadamente em Madrid, já se prolongam há 18 dias. A polícia de choque continuou a utilizar gás lacrimogéneo e balas de borracha, de que nunca fez recurso nos piores dias das manifestações violentas do movimento independentista na Catalunha, e enviou agentes camuflados para o meio dos manifestantes, onde alegadamente causaram distúrbios.

 

 

O uso excessivo da força provocou a ira de muitos daqueles que anteriormente apoiavam a polícia. O deputado da VOX Javier Ortega-Smith, que sempre defendeu as forças de segurança do Estado e apelou à equiparação da polícia nacional à polícia regional – a polícia nacional em Espanha tem um salário mais baixo do que a polícia basca e catalã – avisou a polícia de choque que iria monitorizar as suas acções, afirmando que qualquer agente que usasse força excessiva seria denunciado. A polícia está a perder muito do seu apoio popular, principalmente junto dos conservadores, que eram na verdade o sector social que mais a defendia.

 

 

Para além destas manifestações, no Sábado, 18 de novembro, um milhão de pessoas juntou-se a uma manifestação em Madrid, convocada por organizações da sociedade civil, com o apoio da VOX e do PP, contra a amnistia. Foi a maior manifestação na capital desde 1997, após o assassinato do vereador Miguel Ángel Blanco às mãos do grupo terrorista ETA.

 

 

A verdade é que todas estas mobilizações colocaram os holofotes sobre o que está a acontecer em espoanha e os meios de comunicação social internacionais começaram, mesmo que timidamente e omitindo, por exemplo, a violência policial, a noticiar a amnistia e o fim da separação de poderes no país ibérico. Até Tucker Carlson esteve presente numa das manifestações em Madrid, e a sua entrevista com Santiago Abascal foi vista por milhões de pessoas.

 

 

Na próxima quarta-feira, o Parlamento Europeu vai debater a situação do Estado de direito em Espanha, na sequência dos recentes acontecimentos. No entanto, tanto a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, como o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, foram rápidos a felicitar Sánchez pela sua reeleição. Claro.

Ao mesmo tempo que centenas de milhares de espanhóis se manifestavam contra o golpe de Estado, três dos partidos aliados de Sánchez manifestavam-se em Bilbau. Convocada por EH Bildu, um partido que conta nas suas fileiras com numerosos ex-terroristas da ETA, a manifestação contou com a presença de representantes do ERC (separatistas catalães), do BNG (separatistas galegos), de várias formações de extrema-esquerda, do Sinn Féin irlandês, da Frente Popular de Libertação da Palestina, da Frente Polisário do Sara Ocidental e do KNK do Curdistão. Tudo boa gente. O líder do EH Bildu, Arnaldo Otegui, condenado por terrorismo, atacou os manifestantes de Madrid e apelou ao “antifascismo”, apontando o momento actual como uma “oportunidade”.

Para combater essa “oportunidade” e manter a Espanha unida e a salvo de políticos sem escrúpulos como Sánchez, criminosos como Puigdemont e terroristas como Otegui, milhares e milhares de espanhóis estão a sair à rua todas as noites. O VOX continua empenhada numa mobilização permanente e solicitou uma reunião com o PP para travar o golpe de Estado. O próximo acontecimento a ter em conta será a greve geral convocada pelo sindicato Solidariedade para 24 de novembro.

Até lá, a Espanha permanece de pé. Com fé em Deus.