O fundador do Daily Wire (DW), Ben Shapiro, criticou publicamente Candace Owens, uma das principais personalidades da empresa de media independente, pela sua recusa em apoiar o governo israelita na guerra contra o Hamas. Owens declarou que gostaria que os Estados Unidos não se envolvessem no conflito e que está preocupada com a desumanidade revelada pelos dois lados do conflito, afirmando:

“A falta de humanidade que tenho visto de ambos os lados tem sido muito preocupante”.

Esta posição, que o ContraCultura subscreve, suscitou a ira de Shapiro e vem juntar-se ao facto de Owens ter questionado universidades que tomam medidas contra estudantes palestinianos por manifestarem a sua opinião anti-sionista. Candance referiu também no seu programa do Daily Wire que as pessoas se perguntam “porque é que os judeus são tão especiais” e argumentou que os gentios brancos tiveram de “suportar muito pior” quando o movimento “BLM desenfreado, afirmou que o homem branco não pode fazer nada de certo, sendo assim activamente ensinado nas salas de aula” durante anos, sem qualquer acção de rejeição comparável. A comentadora também endossou, em tom de sátira, Nikki Haley “para Presidente de Israel”, depois da candidata às primárias republicanas ter dito:

“Não é que Israel precise da América, a América é que precisa de Israel.”

Shapiro, que é um judeu ortodoxo e empenhado sionista, revelou, numa conferência em que participou recentemente, que considera a posição de Owens “absolutamente vergonhosa”, acusando-a de adoptar uma posição de “falsa sofisticação” que é “ridícula”, e acrescentando:

“Toda a gente pode ver as acções que ela está a tomar e as coisas que está a dizer, e eu considero-as desonrosas”.

Shapiro observou também que Owens “ainda trabalha para a minha empresa” – embora não seja claro se isso pode ou não mudar num futuro próximo, sendo certo que o comentador não tem responsabilidades de direcção executiva na DW.

O vídeo que testemunha essas declarações foi divulgado nas redes sociais e, aparentemente, foi gravado sem conhecimento do orador,

 

 

Há já alguns anos que Ben Shapiro tem tomado posições – essas sim – vergonhosas sobre as grandes questões e eventos do nosso tempo: foi um militante activista das vacinas Covid durante quase todo o processo tenebroso da pandemia, qualificando de ignorantes e idiotas todos os que tinham dúvidas sobre a eficácia e a segurança da tecnologia mRNA, e só muito tardiamente reconheceu o erro monumental, talvez pressionado pela decepção do seu público (e correspondente quebra nas audiências), e pelo cepticismo dos seus colegiais na plataforma do DW. Também sobre a guerra na Ucrânia, a sua posição tem sido basicamente a mesma que o establishment de Washington e do complexo industrial e militar americano, do qual parece ser um fã incondicional.

Depois do ataque terrorista do Hamas a Israel, a 7 de Outubro, o discurso de Ben Shapiro oscila entre a ameaça nuclear, a propaganda grosseira e a apologia do genocídio:

 

 

A influência da posição radical do comentador sionista tem-se revelado, infelizmente, endémica, ao ponto de até Jordan Peterson, o professor de Toronto cujo prestígio e acuidade intelectual está em queda livre desde que foi contratado pelo Daily Wire, ter publicado isto:

 

 

Esta guerra civil no seio daquela que é a empresa independente líder no espectro conservador do ambiente mediático americano está a incendiar a opinião pública nos EUA. E Tucker Carlson, que basicamente partilha da opinião de Candace Owens sobre a questão da guerra no Médio Oriente, não perdeu a oportunidade de entrar na dança, convidando a comentadora para o seu Tucker on X.

Confrontada com a incontornável pergunta sobre o que pensa dos comentários de Ben Shapiro, Candace foi bastante mais elegante que o seu colegial no DW, afirmando que não pode argumentar contra um não argumento, já que Ben Shapiro se limitou ao insulto e não explicou as razões pelas quais se sente assim ultrajado.

 

 

Na conversa com Tucker, Candace não pareceu muito inclinada a deixar a companhia para a qual trabalha, e com a qual celebrou um contrato multimilionário. Mas já depois da entrevista ser publicada, Ben Shapiro reagiu assim, a um post de Owens que citava versículos do evangelho de Mateus:

 

 

A comentadora respondeu com classe e pertinência, embora se perceba bem o ponto tenso a que as coisas chegaram.

 

 

A verdade é que para despedirem Candace Owens, os reponsáveis do DW vão ter que abrir os cordões à bolsa, já que a probabilidade da rapariga se demitir parece ser diminuta.

O assunto, de qualquer forma, é transversalmente saboroso sobre esquerdas e direitas, saltando também sobre geografias, e até John Paul Watson, do outro lado do Atlântico, meteu a colherada.

 

 

E para concluir, um clip que diz muito sobre o fanatismo maniqueísta de Ben Shapiro e a opinião que tem sobre o credo cristão: