Se a Protecção Civil existe é para que os portugueses bebam água no Verão e andem agasalhados no inverno. Para que usem protector solar na canícula sazonal e evitem a praia em dias de tempestade. Para que vivam assustados com as altas temperaturas em Agosto e as baixas em Janeiro. Para que usem roupas leves quando faz calor. Para que procurem a sombra quando o sol não se aguenta.
Que seria dos portugueses, sem a sua querida, precavida, pertinente e paternal Protecção Civil? Desconheceriam de todo os perigos espoletados pelas alterações climáticas e continuariam a expirar dióxido de carbono sem receios de consciência. Recusariam com certeza a água fresca nos dias mais quentes do ano; sairiam por certo à rua de t-shirt, nas manhãs gélidas. Apanhariam escaldões por desporto e levariam os filhos a banhos para a Praia do Norte, no cândido mês de Dezembro. Sempre que as temperaturas atingissem os 40 graus centígrados, os equivocados cidadãos da república, privados do sábio conselho desta santa instituição, levariam cobertores para o Terreiro do Paço e camisolas de lã para a Costa da Caparica. Sem os avisados e patriarcais comunicados desta alta autoridade, subiriam as gentes, na estação das neves, a Serra da Estrela em cuecas e muito provavelmente aproveitariam a queda de granizo para fazer piqueniques.
Não fora a sua sagrada missão, os cidadãos deste antigo perímetro nunca se lembrariam de comprar chapéus de chuva, cachecóis, barretes, ceroulas e o Jornal Expresso.
Não queiram por isso pedir à Protecção Civil outras tarefas, indignas da sua gloriosa gesta. Não esperem que a Protecção Civil indique as estradas certas para que os cidadãos fujam aos incêndios sem morrer queimados vivos. Não contem com a Protecção Civil para salvaguardar vidas, bens, casas, territórios, aldeias, vilas, cidades, termas, florestas sagradas, património histórico.
É que a Protecção Civil prefere encontrar a sua nobre missão na arte do alarmismo e na ciência da estatística: Quantos foram os hectares ardidos nas florestas. Quantos foram os queimados vivos nas estradas. Quantos foram os que ficaram feridos, intoxicados, estropiados, órfãos, viúvos. Quantas foram os que perderam as suas casas. Quantos foram os bombeiros sacrificados. Quantos foram os naufrágios, os afogamentos, os acidentes, as tragédias. Quantos foram os empregos inventados para a escumalha do regime. Quantos foram os milhões de euros perdidos pela incompetência e pela incúria. Quantos foram os milhões de euros gastos para que a incompetência e a incúria permaneçam em mandato, no próximo ano civil.
Se a Protecção Civil existe é para que os portugueses tenham consciência da horrorosa, da incapaz, da imoral república que fundaram.
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