Como tantas vezes tem acontecido nos últimos anos, ao ponto ensandecido de se tornar lei, a melhor metodologia para chegar à verdade dos factos políticos é a da teoria da conspiração.
Por exemplo, o programa de transformação demográfica da América que os poderes instituídos em Washington têm vindo a implementar no século XXI foi frequentemente denunciado como uma “teoria da conspiração” pelos meios de comunicação social corporativos e pelas suas máquinas soviéticas de verificação de factos. Agora é celebrada como uma inevitabilidade por esses mesmos aparelhos de propaganda.
O The Hill, publicou um artigo que festeja o facto da maioria branca da América estar a envelhecer e que a Geração Z será a última geração de americanos a testemunhar uma maioria branca.
Generation Z will be the last generation of Americans with a white majority, according to census data. The nation’s so-called majority minority arrived with Generation Alpha, those born since about 2010.
— The Hill (@thehill) August 7, 2023
Vale a pena citar partes do texto:
“A Geração Z será a última geração de americanos com uma maioria branca, de acordo com os dados do censo. A chamada minoria maioritária do país chegou com a Geração Alpha, os nascidos desde 2010. Daqui a apenas duas décadas, por volta de 2045, a percentagem de brancos não hispânicos na população total dos EUA cairá para menos de metade.
A maioria branca dos Estados Unidos tem os seus dias contados e este é um tópico polarizador, dada a história de escravatura do país e os padrões persistentes de discriminação contra as minorias e os imigrantes. Demógrafos e economistas celebram a crescente diversidade da nação como vital para um futuro próspero.
[…]
Os dados geracionais do censo de 2020 mostram a marcha ascendente da diversidade racial por grupo etário. Os brancos não-hispânicos representam 77% da população com mais de 75 anos, 67% da população entre os 55 e os 64 anos, 55% do grupo entre os 35 e os 44 anos e apenas metade do grupo entre os 18 e os 24 anos. As crianças americanas são apenas 47% brancas não hispânicas, de acordo com uma análise divulgada esta semana por William Frey, membro sénior da Brookings Institution.
Nas próximas décadas, esta onda de diversidade atravessará as gerações, dando origem a uma América sem um único grupo racial que possa reivindicar uma maioria numérica.
Em 2045, de acordo com as projecções do recenseamento, a percentagem de brancos não-hispânicos na população americana será inferior a 50%. Em 2050, os brancos não-hispânicos representarão menos de 40% da população com menos de 18 anos.”
É espantoso, mas no mesmo artigo, o The Hill passa da celebração da transformação demográfica dos Estados Unidos para a afirmação de que se trata de uma teoria da conspiração e de um “mito” quando os brancos se queixam dela:
“Escrevendo no The Atlantic em 2021, Alba, Myers e Morris Levy argumentaram que o “mito” de uma América maioritariamente minoritária era falso. ‘Nas mentes de muitos americanos’, escreveram eles, ‘esta transição étnico-racial representa uma convulsão política, cultural e social, porque uma maioria branca dominou a nação desde a sua fundação’.
Os nacionalistas brancos aproveitaram a “teoria da substituição”, que defende que as elites liberais estão a promover a imigração e o casamento inter-racial para substituir os brancos não-hispânicos por pessoas de cor, tudo para retirar poder aos brancos.
Quando os supremacistas brancos marcharam por Charlottesville, Virgínia, em 2017, alguns deles gritaram: ‘Vocês não nos vão substituir’.”
É claro que o artigo do The Hill prefere destacar o envelhecimento da população branca e ignorar por completo os milhões de imigrantes ilegais que nos últimos anos têm entrado pela fronteira do México e que são directamente responsáveis pela inversão dos equilíbrios demográficos e políticos da federação. Afinal, não podemos esperar que a propaganda seja produzida com base em quaisquer critérios jornalísticos.
A felicidade do The Hill não é um caso singular. Para além do artigo do New York Times que ilustra este texto, em que Michelle Goldberg garante que os brancos da Georgia podem ser substituídos, quando os dados do censo de 2020 foram divulgados pela primeira vez, Jennifer Rubin, do Washington Post, também reagiu com alegria à “notícia fabulosa” de que os brancos estavam rapidamente a decair para uma minoria étnica.
“Uma sociedade mais diversificada e mais inclusiva. É uma notícia fabulosa. Agora temos de evitar o domínio minoritário dos brancos”.
Uma sociedade mais inclusiva, que passa por excluir os brancos. O evidente racismo destas afirmações escapa aos apparatchiks. Que escândalo monumental cairia sobre o mundo se um jornal mainstream festejasse a queda demográfica dos negros ou dos latinos, analisando-a como positiva para os destinos da nação americana?
E é realmente surrealista como é possível celebrar um facto estatístico enquanto se abrem parêntesis para o mistificar. Se um branco diz que está a ser substituído, é um agente de desinformação supremacista. Mas se a imprensa corporativa afirma que essa substituição é positiva, a análise é virtuosa e factual.
Depois de terem desistido da verdade, os radicais dos meios de comunicação social mainstream abandonam agora o pudor.
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