Viktor Shokin, o ex-procurador ucraniano que investigava a corrupção na Burisma e que Joe Biden se gabou de conseguir despedir.

 

Um vídeo antigo de Viktor Shokin, o procurador ucraniano que foi destituído do cargo sob pressão do então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está de novo a circular na web na sequência do testemunho condenatório de Devon Archer. Este vídeo foi retirado do Youtube, mas permanece no Rumble.

Numa entrevista pormenorizada e extensa, cuja data de gravação é incerta, Shokin respondeu às alegações do regime Biden, expondo a sua versão da história relativamente às investigações sobre a Burisma, a empresa de energia ucraniana que em tempos empregou o filho de Joe, Hunter.

Na altura da nomeação de Hunter Biden, Viktor Shokin era o Procurador-Geral da Ucrânia e desenvolveu investigações sobre a Burisma. O vídeo aborda uma variedade de pontos, desde acusações de que a investigação sobre a Burisma estava adormecida até alegações de corrupção e a sua eventual remoção como procurador.

Numa resposta longa e pormenorizada, Shokin refutou a noção de que as suas investigações estavam “adormecidas”, levando mesmo à apreensão de bens do patrão da energética ucraniana, Mykola Zlochevsky.

Viktor Shokin foi afastado do cargo de Procurador-Geral da Ucrânia em 2016 devido à pressão de Joe Biden, dos governos ocidentais e de instituições internacionais como a UE e o FMI. A sua demissão fez parte de um “esforço anti-corrupção mais alargado”, uma vez que o gabinete de Shokin tinha sido criticado por não “perseguir adequadamente as investigações de corrupção”. A este respeito, disse Shokin:

“Quanto à afirmação de que estas investigações estavam supostamente ‘adormecidas’, posso dar exemplos muito significativos, nomeadamente as nossas acções depois de ter sido levantado o confisco de 23 milhões de dólares de Zlochevsky no Reino Unido. Nomeei um inquérito interno e abri uma investigação criminal para apurar como e porquê o dinheiro apreendido tinha sido libertado no Reino Unido. Além disso, 10 a 12 dias antes da minha demissão, a 2 de Fevereiro de 2016, o tribunal apreendeu bens, as suas poupanças pessoais, propriedades, carros, etc.”.

Shokin disse que as agências de inteligência dos EUA estavam a acompanhar de perto o processo de investigação e mostrou-se confiante de que Biden estava ciente do progresso. Shokin acrescentou que acredita que Biden agiu nos bastidores para o afastar, receando que a investigação pudesse afectar negativamente o seu filho e outras pessoas que lhe são próximas.

“Compreendo muito bem que os Estados Unidos têm uma das melhores agências de informação do mundo… Aparentemente, Biden foi informado de que estávamos a aproximar-nos do momento em que iam começar os interrogatórios ao seu filho e a outras pessoas”.

Shokin afirmou que a verdadeira motivação por trás da pressão de Biden para o seu afastamento era a de proteger os seus interesses pessoais e familiares e não os interesses do povo americano.

Recorde-se que o CEO Mykola Zlochevsky e o executivo Vadym Pozharski da Burisma solicitaram constantemente a Hunter Biden para que este fizesse pressão junto de Washington, no sentido de obter ajuda para lidar com o procurador ucraniano Viktor Shokin.

Hunter foi contratado pela Burisma para fazer parte do conselho de administração em troca de 83.000 dólares e influência de alto nível em Washington, através do seu pai, que era na altura vice-presidente do regime Obama.

Devon Archer, um antigo sócio e amigo de longa data de Hunter Biden, prestou declarações durante horas ao Comité de Supervisão do Congresso, numa audiência à porta fechada, na semana passada. Archer disse que Hunter colocou o seu pai pelo menos 20 vezes em alta-voz enquanto se reunia com parceiros de negócios. Archer descreveu que Joe Biden era chamado ao telefone para vender “a marca” e que a marca era… Joe Biden, que o seu filho traficava em todo o mundo para enriquecer a família.

A Burisma procurou assim a ajuda de Joe Biden para travar a investigação conduzida por Viktor Shokin. Biden ameaçou então reter mil milhões de dólares de ajuda dos EUA à Ucrânia, a menos que Shokin fosse demitido. Em troca, o actual inquilino da Casa Branca recebeu um suborno de 10 milhões de dólares.

Quem é que se esquece de Joe Biden a gabar-se, em 2018, de conseguir que o procurador Shokin fosse demitido?

“Olhei para ele e disse: Vou-me embora daqui a seis horas. Se o procurador não for demitido, não vão receber o dinheiro. Bem, o filho da mãe foi demitido”.

 

 

Em 2020, Shokin apresentou uma queixa oficial contra Joe Biden por interferência nos processos judiciais da Ucrânia. No mesmo mês, Shokin afirmou ter sido envenenado com mercúrio, durante a sua estadia na Grécia.

“Não tenho inimigos óbvios que possa culpar por isto. Claro que uma das versões, mas esta versão requer investigação, é que Biden esteve de alguma forma envolvido nestas questões. Dirigi-me oficialmente às autoridades policiais gregas sobre este assunto e pedi-lhes que investigassem… Oficialmente, ainda não recebi uma resposta, embora os tenha contactado há algum tempo sobre a abertura de um processo penal relacionado com uma tentativa premeditada de assassinato.”

Em Fevereiro de 2020, a Ucrânia abriu um processo criminal contra Joe Biden, alegando que este teria pressionado as autoridades para forçar a demissão do Procurador-Geral ucraniano.

Em maio de 2020, Shokin apelou ao Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, instando-o a tomar medidas relativamente à relutância das autoridades ucranianas em investigar os actos ilegais cometidos por Biden.

Shokin continuou a dizer na entrevista que Hunter Biden não era um alvo inicial da investigação, que começou por se focar em ilegalidades várias na operação da Burisma. Mas à medida que se aprofundava o inquérito, as suspeitas começaram a recair nos membros da administração da empresa, incluindo Hunter Biden.

“Quando começámos a avançar activamente com o objetivo de descobrir quem tinha sido culpado de violar as leis ucranianas na Burisma, acabámos por descobrir que os administradores recrutados entre Maio e Junho de 2014 estavam provavelmente envolvidos. Trata-se de Devon Archer, Hunter Biden e outros. Joe Biden tinha razões para recear que tudo isto acabasse por recair sobre o seu filho”.

Quando questionado sobre as suas reacções relativamente à ideia de que não era apenas Biden que queria que ele saísse, mas também outras instituições como o FMI ou a UE, Shokin respondeu:

“Primeiro, não me lembro de uma única vez, nem uma única, em que Biden tenha pedido formalmente a minha demissão enquanto eu era Procurador-Geral. Penso e tenho razões para pensar que tudo isto é um logro. Perguntei-lhes: Dêem-me um exemplo que prove que sou corrupto – um qualquer delito que eu possa ter cometido. Ainda ninguém o conseguiu fazer, incluindo Biden. Não sou um político e nunca persegui um objectivo político em qualquer investigação, incluindo a investigação sobre a Burisma. Encontrei-me muitas vezes com o embaixador Pyatt, bem como com outros embaixadores, e nunca me disseram que o meu trabalho era mau ou deficiente. Além disso, esses mesmos embaixadores já me tinham dito no Outono de 2015: ‘Viktor, espera aí! Compreendemos que tudo isto é uma calúnia. Não sabemos de onde veio. Nada foi feito oficialmente. Tudo isto é oficioso e tem lugar nos bastidores’.

Em 2015, o deputado Serhii Leshchenko comentou a sua decisão de votar a favor da candidatura de Viktor Shokin ao cargo de Procurador-Geral. Segundo ele, Shokin foi o melhor procurador ucraniano dos últimos 20 anos.

“Lembro-me de Shokin, que iniciou os processos contra Pukach, Kolesnikov, Kushnaryov e Kolomoiskyi. E como pessoa que comunica com alguns investigadores da Procuradoria-Geral, tenho informações privilegiadas sobre o comportamento de Shokin no cargo. Segundo eles, esta é a melhor das propostas para o cargo de Procurador-Geral nos últimos 20 anos”.

 

 

 

Este facto constitui mais uma prova de que a afirmação de que Shokin é corrupto não tem fundamento. E o ex-procurador está carregado de razão quando afirma:

“Se a minha corrupção tivesse sido provada, Biden e outros políticos teriam dito tudo em voz alta, oficialmente, para o Parlamento e nos meios de comunicação social. Teriam dado exemplos específicos da minha corrupção e desonestidade. Podem verificar que é muito simples. Trabalhei durante um ano como Procurador-Geral da República. O meu trabalho foi analisado na imprensa e verifica-se que os resultados foram melhores do que os dos anteriores procuradores. É fácil de verificar, porque estes números são factuais”.

Shokin referiu que escreveu uma carta ao Secretário de Estado dos EUA e recebeu uma resposta positiva sobre o seu trabalho contra a corrupção na Ucrânia.

“Já vos disse que escrevi uma carta ao Secretário de Estado dos Estados Unidos e recebi uma resposta através da Sra. Nuland. E a sua apreciação foi muito positiva. Disse-me que a actual organização da Procuradoria-Geral era boa e que investigaria e resolveria os casos relacionados com a corrupção e outros crimes de forma eficiente e transparente. Esta era a situação antes de Joe Biden ter começado a perseguir-me e a pressionar o Presidente Poroshenko relativamente à minha demissão”.

 

 

As críticas de Shokin estendem-se à forma como o regime Obama tratou a Ucrânia durante o seu mandato, sugerindo que Biden e outros funcionários consideravam o seu país como um “feudo”.

“Há muitas coisas que me parecem estranhas neste período do mandato presidencial de Obama sobre a Ucrânia. Na minha opinião, eles acreditavam que a Ucrânia era o seu feudo. O Sr. Biden humilhou a Ucrânia e o Presidente. Demonstrou ao mundo inteiro que era ele quem mandava na Ucrânia. Na minha opinião, este homem não tem o direito, moral ou outro, de se candidatar à presidência dos EUA, o país mais democrático do mundo, nem sequer de pensar nisso.”

Referindo-se a um vídeo em que Joe Biden se gabou de o ter despedido usando uma linguagem menos própria, Shokin comentou que

“Este homem insultou a minha mãe com obscenidades, como é público. Ele insultou todas as mães do mundo, até a sua própria mãe.”

Perguntado sobre até que ponto Joe Biden interferiu nos assuntos internos da Ucrânia, o ex-procurador não escondeu que

“Durante a presidência de Obama, parecia ser esse o caso. O mais chocante é que todas as nomeações foram feitas de acordo com os Estados Unidos e com Biden em particular, mesmo ao nível do Procurador-Geral adjunto.”

Na conclusão da entrevista, Viktor Shokin deixou um recado a Joe Biden:

“Desejo-lhe sorte, porque ele vai precisar dela. Na minha opinião, as suas qualidades morais e individuais são muito baixas e, para continuar a viver normalmente nos Estados Unidos ou noutro país, terá de ter sorte. Se a lei for aplicada a Joe Biden, na Ucrânia ou nos Estados Unidos, o mais provável é que ele seja responsabilizado pelos actos que cometeu.”

Neste aspecto, estará o assertivo jurista equivocado. Biden arrisca-se até a cumprir um novo mandato como presidente dos Estados Unidos da América. E dificilmente lhe acontecerá aquilo que a Trump está agora a acontecer.

Eis o registo vídeo da entrevista, no seu formato integral.