Rupert Sheldrake é um biólogo e autor mais conhecido pela sua hipótese da Ressonância Mórfica. Na Universidade de Cambridge, trabalhou em biologia do desenvolvimento como membro do Clare College. Foi Fisiologista Principal no Instituto Internacional de Investigação de Culturas para os Trópicos Semi-Áridos em Hyderabad, Índia. De 2005 a 2010, foi diretor do projeto Perrott-Warrick para a investigação de capacidades humanas e animais inexplicáveis, administrado pelo Trinity College, em Cambridge. Sheldrake publicou uma série de livros – Uma Nova Ciência da Vida (1981), A Presença do Passado (1988), O Renascimento da Natureza (1991), Sete Experiências que Podem Mudar o Mundo (1994), Cães que Sabem Quando os Seus Donos Estão a Chegar a Casa (1999), A Sensação de Ser Encarado (2003), O Delírio da Ciência (Science Set Free) (2012), Ciência e Práticas Espirituais (2017), Formas de Ir Mais Além e Porque Funcionam (2019).

A Ressonância Mórfica é um processo através do qual os sistemas auto-organizados herdam uma memória de sistemas anteriores semelhantes. Na sua formulação mais geral, esta tese defende que as leis da natureza são hábitos ou rotinas imanentes no cosmos. A hipótese da ressonância mórfica conduz também a uma interpretação radicalmente nova do armazenamento da memória no cérebro e da herança biológica. A memória não precisa de ser armazenada em vestígios materiais dentro dos cérebros, que são mais como receptores de TV do que como gravadores de vídeo, sintonizando influências do passado. E a herança biológica não precisa de estar toda codificada nos genes, ou em modificações epigenéticas; grande parte dela depende da ressonância mórfica de membros anteriores da espécie. Assim, cada indivíduo herda uma memória colectiva de experiências anteriores e também contribui para a memória colectiva, afectando outros membros da espécie no futuro.

Esta hipótese foi apresentada pela primeira vez por Rupert Sheldrake no livro Uma Nova Ciência da Vida, em 1981, e discutida em maior pormenor na sua principal obra teórica, A Presença do Passado, publicada em 1988.

Rupert deu uma palestra intitulada The Science Delusion no TEDx Whitechapel, a 12 de janeiro de 2013. Em resposta aos protestos de dois cientistas materialistas nos EUA, a palestra foi retirada de circulação pelo TED, relegada para um canto do seu sítio web e carimbada com uma etiqueta de aviso, que apresentava a palestra como ‘pseudociência’.

Acontece que é precisamente contra esta atitude dogmática da escola materialista que domina as universidades, as publicações científicas e os fóruns de debate académico, que Sheldrake se manifesta, já que inibe o livre inquérito, o pensamento dialético e a investigação disruptiva que são essenciais ao progresso do conhecimento.

O que é irónico é que o biólogo elege  na sua palestra dez pilares da ciência materialista contemporânea e analisa-os precisamente à luz do método científico, só para concluir que esses fundamentos sagrados se desmoronam como um castelo de cartas e mantêm com a realidade cósmica uma relação deficitária em termos da robustez dos seus resultados.

Os dogmas que Sheldrake discute deviam na verdade estar abertos à discussão pública e são essencialmente estes: a visão do cosmos como uma realidade mecânica fixada por leis estáticas e imutáveis, com quantidades estáveis de matéria e energia e que existe aleatoriamente, sem qualquer propósito ou fim último; a certeza, demonstrada por ninguém, de que a matéria é desprovida de consciência e, por isso, de que a consciência não existe até no homem ou é apenas um produto de mecanismos físico-químicos determinados e determinísticos; a redução da evolução das espécies à hereditariedade genética; o conceito também nunca demonstrado, de que a memória reside algures no cérebro em registos materiais e que a mente não transcende os limites neuronais e que funciona basicamente como um relógio digital; a recusa em estudar qualquer fenómeno psíquico ‘paranormal’, como a telepatia, apesar de evidências, muitas vezes gritantes, de que essas ‘anomalias’ se manifestam no plano do real; a rejeição de qualquer tipo de medicina não mecanicista, apesar da eficácia demonstrada durante milénios pelas terapias alternativas.

Em muito casos, como o da premissa de que o universo é uma realidade estática e imutável com quantidades estáveis de matéria e energia, a ciência estabelecida vive ainda escravizada por princípios aristotélicos, com mais de 2.000 anos de absurda antiguidade e sem qualquer relação com os dados a que entretanto tivemos acesso, como acontece neste preciso momento com as observações do James Webb Space Telescope, que anula os modelos da astrofísica contemporânea de cada vez que envia informação para a Terra.

Em contraposição com o pensamento oficial da comunidade científica materialista, Rupert Sheldrake argumenta que o sol, como as galáxias, como o universo e como todos os sistemas que se auto-organizam, é uma entidade consciente, que a matéria e a energia se agregam de formas diferentes com o tempo, em função de rotinas que têm propósitos evolutivos, no contexto do cosmos como um sistema emergente. A tese, que integra correntes filosóficas que vão da Escola de Atenas ao naturalismo de Leibniz, dos animistas à ontologia processual de Whitehead, oferece soluções sólidas para muitos problemas das neurociências e da física contemporânea, inclusivamente o da matéria negra e da energia negra, que deixam de ser necessárias à orgânica do cosmos, bem como o da localização da memória no cérebro humano.

Para além de tudo o mais, expor os dogmas da ciência contemporânea e combater a sua máquina de censura é sempre uma missão nobre. E é por isso que o Contra faz questão de partilhar este vídeo, onde a palestra de Sheldrake é animada de forma a ser melhor compreendida.