“Nature is a language expressing itself.”
Klee Irwin

 

A Teoria da Emergência apresenta-nos o universo como um processo temporalmente não linear de criação de consciência. Pretende ser uma teoria unificadora, de convergência entre a Mecânica Quântica e a Física Newtoniana. Mas vamos por partes.

 

Sobre o conceito de Emergência.

A emergência é um fenómeno ou processo de formação de padrões complexos a partir de uma multiplicidade de interações simples. O conceito de Emergência é normalmente associado às teorias dos Sistemas Complexos.

Pode ser um processo diacrónico (ocorrendo através do tempo), como a evolução do cérebro humano através de milhares de gerações sucessivas; ou pode ser um processo sincrónico (que ocorre concomitantemente) em escalas diferentes, como as interações microscópicas entre um número de neurónios produzindo um cérebro humano capaz de pensar.

Um comportamento emergente pode surgir quando um conjunto de entidades simples operam colectivamente num ambiente complexo. O comportamento complexo e as suas propriedades não são próprias de nenhuma entidade em particular, não podendo ser previstos ou deduzidos dos comportamentos singulares dessas entidades. A forma e o comportamento dinâmico dos bandos de pássaros é um bom exemplo de um comportamento emergente.

 

 

A Emergência em Física.

Em física, a emergência é usada para descrever uma propriedade, lei ou fenómeno que ocorre numa escala macroscópica (no tempo ou no espaço), mas não em escalas subatómicas, por exemplo:

Cor – Partículas elementares como protões ou electrões não possuem cor; ela ocorre apenas quando estes são organizados sobre a forma de átomos que absorvem ou emitem uma faixa de frequência específica de luz que representa uma cor específica.

Fricção – As partículas elementares não entram em fricção. A fricção emerge quando consideramos estruturas mais complexas de materiais, cujas superfícies podem absorver energia quando esfregadas uma contra a outra. Considerações similares são aplicadas aos conceitos emergentes na mecânica contínua tais como a viscosidade e elasticidade.

Mecânica clássica – As leis da mecânica clássica podem ser consideradas como emergindo das leis da mecânica quântica, quando aplicadas a massas macroscópicas.

Termo-dinâmica e estatística – A temperatura é muitas vezes utilizada como um exemplo de um comportamento emergente macroscópico. Na termo-dinâmica clássica, a imagem de um momento instantâneo de um grande número de partículas em equilíbrio é suficiente para encontrar a energia cinética média por grau de liberdade, que é proporcional à temperatura. Mas para um pequeno número de partículas, esse momento não é estatisticamente suficiente para determinar a temperatura do sistema.

 

A Teoria da Emergência.

Na Teoria da Emergência, estruturas básicas como massa, espaço e tempo são vistas como fenómenos emergentes, que surgem de conceitos fundamentais da mecânica quântica e da estruturação fundamental da matéria em cristais com oito dimensões.

Apresentando o cosmos como um processo emergente de ganho de consciência, a Teoria é coerente com o estado da matemática contemporânea e é demonstrável através do método científico. Faz sentido, de tal forma que toda a gente pode compreender a sua lógica. E traz imensa consolação, traz imenso significado, à vida humana: quem tu foste, és ou serás influi perpetuamente nesse processo universal de ganho de consciência.

Dos bits de informação do tamanho de 1 Planck às estruturas celulares; do ser humano às estrelas, há um movimento perpétuo no sentido da obtenção de uma consciência universal, em que todos participamos e participaremos sempre. E este “sempre” tem a ver com um conceito não linear (ou não cronológico) do tempo. O futuro é construido pelo passado mas o passado também é construído pelo futuro, de tal forma que essa consciência universal, que é produto de toda a energia, de toda a História, de toda a informação do cosmos, existe em movimento perpétuo, na verdade.

A Teoria consegue de facto explicar coisas tão diabólicas como a “Double-Slit Experience”, integrando e predizendo constantes fundamentais como a Velocidade da Luz, a Constante de Planck, a Constante de Estrutura Fina, o Princípio da Incerteza e a Proporção Áurea.

Precisa de 8 dimensões matriciais, como a Teoria das Cordas, assume que a realidade é constituída por bits de informação, como a Teoria do Multiverso e as Teorias do Universo como Simulação, mas não se esgota em conclusões disparatadas, intratáveis ou niilistas que são indemonstráveis à luz do método científico e não trazem qualquer tipo de consolação filosófica.

Nestes 30 entretidos minutos de vídeo, a Teoria é muito bem explicada. E fácil de perceber, o que não é dizer pouco.

 

 

Matéria e consciência: a hipótese animista.

A Teoria da Emergência tem um grande aliado na escola do Pan-Psiquismo. Nesta surpreendente e interessantíssima palestra, o biólogo Rupert Sheldrake argumenta que as estrelas, como as galáxias, como o universo e como todos os sistemas que se auto-organizam, são entidades conscientes.

A tese, que integra correntes filosóficas que vão da Escola de Atenas ao naturalismo de Leibniz, dos animistas à ontologia processual de Whitehead, oferece soluções sólidas para muitos problemas das neuro-ciências e da física contemporânea, inclusivamente o da matéria negra e da energia negra, que deixam de ser necessárias à orgânica do cosmos, bem como o da localização da memória no cérebro humano, um assunto que permanece em aberto e que Sheldrake procura resolver de uma forma muito elegante com a sua célebre Conjectura da Ressonância Mórfica.

 

 

Para além das questões científicas, o argumento que o biólogo inglês defende neste vídeo dá resposta a dores filosóficas que sempre nos atormentaram, como aquela que se estabelece sobre o significado da vida humana e a mistérios teológicos como a mecânica da omnisciência divina, sobre a qual apenas Newton teve a ousadia de especular.

A ideia do universo como um processo ondulatório, não materialista, de ganho de consciência é aqui articulada de uma forma particularmente sedutora. E dá que pensar. Dá muito que pensar.

 

“Symbolic representation of the Universe as a self-excited system brought into being by self-reference.” John Archibald Wheeler

O universo consciente.

Esta bela ilustração do célebre físico John Wheeler também é de substancial alimento para os neurónios. E promove lindamente a ideia eminentemente antrópica do cosmos como um processo emergente de ganho de consciência: o universo gera o observador que lhe dá significado. E leva-nos mais longe do que isso, se calhar.

Fomos treinados e condicionados a pensar que a sensibilidade é um subproduto da realidade. Mas o contrário, como a física quântica não se cansa de demonstrar, pode também ser válido. Os sentidos – e a consciência das coisas que os sentidos permitem – são também criadores do mundo material num feedback perpétuo entre o observador e o que é observado. Entre o astrónomo e os astros. Entre Deus e o Homem.