No vácuo sideral não há som. Mais ou menos, porque o Observatório de Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais dos Estados Unidos da América (LIGO) conseguiu ouvir qualquer coisinha, em 2016. Nada mais nada menos do que a prova de que Einstein estava certo quando calculou, na Teoria da Relatividade Geral, que tinham que existir ondas gravitacionais a fluir no universo, causadas por singularidades em colisão e carregando quantidades brutais de energia, e que estas forças seriam de tal magnitude que poderiam provocar perturbações no tecido do espaço-tempo.
O barulho que fazem as ondas gravitacionais resultantes de uma colisão entre dois buracos negros é este aqui:
Será talvez um bocadinho arrepiante, não? Basta pensar que este ruído significa que, algures no universo, o tempo andou de repente para trás, ou de repente para a frente, e que o espaço decidiu encolher-se ou esticar-se muito para além daquilo que é plausível.
Agora a sério: esta descoberta, assinada por mais de mil cientistas, foi importante porque permitiu aos físicos a perseguição das ondas gravitacionais até aos seus pontos de origem, e a sua detecção precisa em 2018, de forma a aprofundar os nossos conhecimentos sobre a arquitectura do cosmos. Mas é, sobretudo, um argumento forte a favor da existência de buracos negros convencionais (ou seja: einsteinianos). É que, ao contrário do que muito boa gente pensa, nem toda a comunidade científica está de acordo sobre o assunto e o Contra também tem dúvidas.
O problema dos buracos negros é que são geralmente utilizados para justificar a maior parte das singularidades e das excepções às leis da física observadas no universo. E este tipo de taxonomia que reduz tudo o que se desconhece à mesma categoria fenomenológica é muitíssimo discutível.
Seja como for, este foi um avanço científico de significado. E é bom saber que continuamos à escuta. Mesmo quando o que ouvimos é apenas o ruído que faz o mistério.
Relacionados
14 Out 24
Uma nova era da exploração espacial: SpaceX recupera o propulsor da Starship.
Ontem aconteceu um episódio de ficção científica: A SpaceX conseguiu recuperar o enorme propulsor da Starship, agarrando-o em suspensão, como se fosse uma pena. O potencial do sistema, em termos tecnológicos e económicos, é incomensurável.
9 Out 24
De furacões e eleições #02:
Mais dados e testemunhos para alimentar a conspiração.
Como sempre acontece com as teorias da conspiração, os detalhes que parecem mais fantasiosos são rapidamente confirmados por factos. É o caso dos estranhos feixes de energia detectados no furacão Helena pelos radares de satélite.
19 Set 24
Estudo sul-coreano: Vacinas mRNA contra a Covid-19 aumentam o risco de miocardite em 620%.
As vacinas mRNA contra a Covid-19 aumentam o risco de miocardite em seis ordens de grandeza, de acordo com um estudo realizado por investigadores sul-coreanos, que só vem confirmar os números assustadores de centenas de outras pesquisas sobre o programa de vacinação.
17 Set 24
É mais que tempo de admitir que a genética não resolve por si só o mistério da vida.
A grande maioria das pessoas acredita que existem apenas duas formas alternativas de explicar as origens da vida biológica: o criacionismo ou o neodarwinismo. No seu novo livro, Philip Ball apresenta uma terceira alternativa.
16 Set 24
Cosmonautas russos encontraram bactérias na superfície exterior da Estação Espacial Internacional.
Cosmonautas russos encontraram bactérias vivas, possivelmente oriundas do espaço exterior, na superfície do segmento russo da Estação Espacial Internacional (ISS). As bactérias, que constituem uma forma de vida biológica, estão agora a ser estudadas na Terra.
13 Set 24
Estudo: Viver perto de explorações agrícolas que usem pesticidas traduz o mesmo risco de cancro que o consumo de tabaco
Um paper publicado recentemente numa revista científica revela que os indivíduos que vivem em comunidades agrícolas onde são pulverizados pesticidas enfrentam um risco de cancro comparável ao dos fumadores.