Parece que a pandemia passou à história. Acabou realmente e não como todas aquelas outras vezes em que se pensava que tinha acabado, mas não tinha acabado, como o fim daqueles filmes da série Allien, onde parece que a desgraçada da Ripley finalmente escapou, mas o alienígena está escondido na nave, ou na cápsula de fuga, ou no tracto intestinal de alguém.
Mas desta vez não é assim. Desta vez, parece que acabou mesmo. Saia à rua e dê uma vista de olhos.
Já quase ninguém usa máscaras (excepto alguns retardados) ou é coagido a submeter-se a restrições e vacinas, ou tem que suportar as hordas dos fanático bêbados de ódio aos gritos para que os não vacinados fossem segregados, censurados, destituídos dos seus empregos, ou de outra forma demonizados e perseguidos. Calaram-se todos (excepto alguns retardados).
Tudo está de volta ao normal, certo?
Errado. Nada está de volta ao normal. Tudo é absolutamente “Novo Normal”. O que acabou foi a fase do choque e pavor, que de qualquer forma nunca foi pensada para durar para sempre e que constituiu apenas um instrumento para nos trazer até aqui.
Mas onde fica esse “aqui”?
“Aqui” é um lugar onde a nova ideologia oficial foi firmemente estabelecida como a nossa “nova realidade”, tricotada no tecido da vida quotidiana.
Sim, a maioria das restrições governamentais foram levantadas, principalmente porque já não são necessárias ou sequer credíveis, mas nos centros de poder em todo o Ocidente, nas esferas política, empresarial e cultural, na academia, nos principais meios de comunicação social, e etc., o “Novo Normal” tornou-se “realidade”, transformando-a radicalmente, que é o objectivo último de qualquer ideologia totalitária.
E esta ideologia dividiu as sociedades em duas categorias irreconciliáveis de pessoas: aqueles que estão preparados para conformar as suas crenças com a narrativa oficial de cada dia, por mais flagrantemente ridícula que seja, e obedecer às ordens do establishment elitista-globalista-corporativista, por mais destrutivas e fascistas que sejam; e aqueles que não estão preparados para o fazer.
Vamos chamar a estas duas categorias de pessoas os “Normais” e os “Dissidentes”.
Esta divisão da sociedade em duas classes de pessoas opostas e mutuamente avessas supera, confunde e substitui as velhas linhas políticas. Há “Normais” e “Dissidentes” tanto à esquerda como à direita. O establishment global-capitalista não se importa se o estimado leitor é progressista ou conservador ou socialista ou liberal ou anarca ou libertário ou seja o que for. O que lhes interessa é se é um Normal ou um Dissidente.
O que lhes interessa é se seguirá ordens. O que lhes interessa é se a gentil leitora está a conformar as suas percepções e o seu comportamento e a pensar de acordo com a “nova realidade”, essa plataforma sensorial de natureza hegemónica que tem vindo a evoluir gradualmente nos últimos 30 anos e que está agora a entrar na sua fase totalitária.
A história desses 30 anos é excessivamente complexa e tortuosa para caber neste artigo, mas a versão curta pode ser contada assim:
Em 2016, as elites globalistas-corporativistas implementavam já o seu programa em velocidade de cruzeiro, desestabilizando, reestruturando, privatizando e transformando radicalmente o tecido cultural, social, económico e político do planeta, do qual tomaram posse única e incontestada quando a União Soviética finalmente colapsou, e tudo estava a correr razoavelmente de acordo com o plano. Mas depois aconteceu o Brexit, aconteceu Donald Trump, aconteceu Bolsonaro, aconteceu Viktor Orbán e Matteo Salvini e toda a rebelião populista e neo-nacionalista contra o globalismo no Ocidente. E depois aconteceu Putin.
Assim, os globalistas-capitalistas-fascistas precisaram de implementar um programa que lidasse com esses desvios, que é o que têm feito nos últimos seis anos. Sim, nos últimos seis e não apenas nos três anos que nos separam do início da pandemia.
A guerra contra a dissidência não começou com a Covid e não vai terminar com a Covid. A oligarquia corporativa tem vindo a marginalizar, demonizar e a fazer desaparecer quaisquer escolhos ao seu escrúpulo tirânico e a impor cada vez mais uniformidade ideológica à sociedade ocidental desde 2016. E vai continuar a fazê-lo com determinação e agressividade acrescidas, porque o que está em causa é o domínio totalitário global, que será o primeiro da História.
O “Novo Normal” é apenas a fase mais recente desse programa. Uma vez terminada esta rebelião populista e impondo uniformidade ideológica às sociedades ocidentais, os senhores do universo poderão voltar-se para a desestabilização, reestruturação, privatização e transformação radical do resto do mundo, que era o que estavam a fazer com os programas massivos de esterilização da mulheres em países do terceiro mundo, com a “Guerra ao Terror”, e com e outros projectos promotores da “democracia liberal” entre 2001 e 2016. Como estão a fazer agora com a Rússia e a questão ucraniana. Como estão agora a fazer com a “Global Health”. Os exemplos não acabam nunca.
O objectivo desta campanha global é o objectivo de todo o sistema totalitário, ou seja, tornar todo e qualquer desvio à ideologia oficial patológico. A natureza do desvio não importa. A ideologia oficial também não tem grande importância, até porque as elites corporativistas não têm valores cristalizados. Convém até que esses fundamentos da ciência política sejam flexíveis o suficiente para poderem transformar abruptamente a realidade, em função da agenda do domínio global, como é evidente no caso ucraniano, que gerou do dia para a noite uma nova plataforma ideológica: o liberal-nazismo.
O que importa é a vontade ou falta de vontade de nos conformarmos com qualquer que seja a “realidade” oficial, independentemente de quão ridícula ela seja, e quantas vezes tenha sido desmentida, e por vezes até reconhecida como ficção pelas próprias autoridades que, no entanto, continuam a afirmar a sua “realidade”. O caso das vacinas é paradigmático: por mais que seja evidente, e admitido até pelas próprias farmacêuticas, que a terapia genética nunca foi pensada ou testada para impedir a transmissão do virús, as “autoridades” continuaram e continuam a projectar a ideia de que os não vacinados são um perigo para a saúde pública. Outro exemplo gritante é o deste artigo do Current Affairs onde Yuval Noah Harari, o intelectual em chefe e oráculo de serviço do WEF, menciona de passagem que morreram de Covid entre 6 a 12 milhões de pessoas, como se isto fosse um facto que ninguém no seu perfeito juízo questionaria. Um facto da nova “realidade”, apesar de até as “autoridades sanitárias” terem admitido que qualquer pessoa que tenha morrido de alguma doença num hospital após o teste positivo à gripe chinesa ter sido registada como uma morte Covid-19.
É assim que a “realidade”é fabricada e policiada. É fabricada e policiada, não só pelos meios de comunicação social, empresas, governos e entidades governamentais e não governamentais, mas também (e, em última análise, mais eficazmente) pela repetição constante de narrativas falsas como factos axiomáticos inquestionáveis.
Nesta “nova realidade” totalitária-global-capitalista, qualquer um que questione ou desafie tais “factos” torna-se imediatamente um “Dissidente” e é excomungado da sociedade “Normal”.
E assim, nós os “Dissidentes” queimámos muitas das nossas pontes sociais e profissionais. Não temos sítio para voltar, não temos pátria no presente nem um lugar de chegada no futuro, porque, a menos que estejamos preparados para nos anularmos a nós próprios, numa espécie de conversão à nova inquisição, a sociedade em que queremos viver já não existe e é irrecuperável. Perdemos entretanto amigos, familiares, negócios, referências culturais, coordenadas no labirinto da ontologia. Somos apátridas, na verdade. Exilados da psicologia social. E muitos de nós, encontram-se factualmente sós.
Há muitos “Dissidentes” que vivem ainda com esperança de que os “Normais” finalmente acordem e enfrentem os factos, e que a verdade prevaleça, e que seja possível regressar a algo que se assemelhe à normalidade. Isso não vai acontecer. O ponto de não retorno já foi ultrapassado há muito e os “Normais” nunca vão acordar, pela simples razão de não estarem a dormir. Não vão, como que por truque de magia branca, cair em si um dia e assumir a responsabilidade pelos danos que causaram.
E se o leitor pensa que este texto é hiperbólico ou fatalista, considere por gentileza os epítetos que o establishment globalista condicionou os “Normais” a usar para demonizar os “Dissidentes”: teórico da conspiração, negacionista da ciência, insurreccionista, extremista, supremacista, racista, homofóbico, terrorista doméstico e muitas outras expressões do género. Nenhum destes termos indexa sequer a uma ideologia ou a qualquer posição política. Nenhum destes termos apresenta um argumentário contra a crítica. São apenas expressões insultuosas e imediatistas de condenação ao desvio à norma. São termos tácticos, desprovidos de significado, concebidos para apagar o carácter diverso da oposição ao capitalismo global, de forma a enfiar todos aqueles que questionam o sistema no mesmo saco da “Dissidência”.
De tão irracional e dogmática, a nomenclatura de guerrilha gerou até as suas próprias falências taxonómicas, criando, no campo dos dissidentes, cientistas negacionistas, pacifistas terroristas, constitucionalistas inssurreccionistas, moderados extremistas, homossexuais homofóbicos e assim por diante.
Historicamente, não é bom presságio quando nações – ou sistemas supranacionais de poder global – começam de repente a enfiar dissidentes no mesmo saco. É normalmente um sinal de que as coisas vão ficar feias; feias de uma forma impensável; feias como uma tirania à escala global pode ser feia.
É por esse caminho que caminhamos. Tanto os “Normais” como nós, os “Dissidentes”. Já estamos a percorrer essa estrada para a perdição há bastante tempo, há mais tempo do que a maioria de nós provavelmente imagina. O clima melhorou, ligeiramente. Mas o destino é o mesmo.
Se alguém encontrar entretanto um cruzamento que ofereça um itinerário diferente, o ContraCultura tem uma caixa de email: faça o favor de a usar.
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