A 11 de Março de 2011, um sismo abalou o nordeste do Japão, provocando um poderoso tsunami. O terramoto de magnitude nove durou seis minutos, tornando-o no mais poderoso terramoto alguma vez registado no Japão e o quarto terramoto mais violento de sempre.
O tsunami que se seguiu foi incrivelmente destrutivo, arrasando inúmeros edifícios e casas e obliterando cidades inteiras. De acordo com Polícia Nacional Japonesa, mais de 15.800 pessoas perderam a vida na catástrofe natural, enquanto centenas de milhares mais foram deslocadas das suas casas. Até à data, pelo menos 2.500 pessoas continuam a ser dadas como desaparecidas.
A cidade costeira de Ishinomaki, conhecida como centro piscatório, foi uma das áreas mais gravemente afectadas na catástrofe, com ondas de 10 metros a entrarem para o interior da cidade. Distritos inteiros da área, incluindo o de Minamihama, foram completamente destruídos. No total, mais de 29.000 residentes de Ishinomaki perderam as suas casas, enquanto mais de 3.000 pessoas foram mortas, incluindo uma escola primária que perdeu 70 por cento dos seus estudantes. Em 2014, estavam ainda dados como desaparecidos cerca de 400 residentes.
Nos últimos nove anos, a cidade de Ishinomaki tem sido reconstruida. De acordo com o The Guardian, mais de quatro milhões de toneladas de destroços foram removidos da cidade, enquanto muros marítimos, estradas e pontes foram reconstruidos. Escolas, lojas, cafés, bibliotecas e muito mais estruturas foram também recuperadas e abertas ao público.
Mas à medida que Ishinomaki começou a reerguer-se da catástrofe, alguns residentes começaram a relatar experiências estranhíssimas. Relatos e rumores de fantasmas e espíritos perdidos eram subitamente recorrentes entre a população.
Em 2016, Yuka Kudo, estudante de sociologia na Universidade de Tohoku Gakuin, entrevistou mais de 100 taxistas em Ishinomaki. Como parte da sua tese, Kudo perguntou aos taxistas se eles tinham experimentado algo de anormal no rescaldo do terramoto e do tsunami. Enquanto muitos dos taxistas se recusaram a falar com Kudo, pelo menos sete deles testemunharam ter transportado passageiros que, durante a corrida, desapareciam do interior do veículo.
De acordo com a investigação de Kudo, os incidentes começaram apenas meses após a ocorrência do desastre. Um dos primeiros incidentes envolveu uma jovem mulher, que chamou um táxi perto de uma estação de transportes públicos. A rapariga usava um pesado casaco de Inverno, apesar do tempo estar ameno e quente. “Pode levar-me a Minamihama, por favor?” perguntou.”Já não há nada em Minamihama”, respondeu o condutor. Após alguns momentos de silêncio, a passageira voltou a falar: “Será que Morri?”, perguntou ela. Quando o motorista se virou para olhar para ela, tinha desaparecido.
Num outro incidente, também ocorrido no verão e com tempo muito quente, um jovem vestindo um sobretudo pediu a um taxista que o levasse à montanha de Hiyoriyama. Mas assim que chegaram, o homem desapareceu.
Numa outra ocasião, um passageiro deu ao taxista um endereço residencial. Mas quando o motorista chegou ao local, descobriu que a casa tinha sido arrasada no desastre. “Tem a certeza de que este é o lugar certo?”, perguntou o taxista ao passageiro. No entanto, o passageiro já não estava dentro do automóvel.
Yuka Kudo achou que as histórias dos taxistas eram fiáveis, uma vez que as corridas estavam registadas nos taxímetros e no Japão, como em Portugal, os motoristas são responsáveis pela cobrança das tarifas: nestes casos, tiveram que cobrir os custos das viagens solicitadas pelos passageiros que entretanto desapareciam.
Os taxistas reportaram traços e detalhes que os passageiros fantasma tinham em comum: pareciam desgostosos e desorientados, em muitos casos não estavam vestidos de acordo com o tempo que fazia, e cumpriam a maior parte da viagem em silêncio. Segundo Kudo, os taxistas não se sentiram assustados durante os incidentes.
Nos anos que se seguiram ao desastre, os residentes de Ishinomaki também relataram ter visto inúmeras pessoas a alinharem-se fora das lojas que tinham sido destruídas e deambulando em bairros residenciais vazios ou destruídos.
Desde que a tese de Yuka Kudo ganhou a atenção dos media, alguns têm sugerido que os avistamentos de fantasmas são consistentes com “alucinações de luto”.
Da mesma forma, o psiquiatra Keizo Hara sugeriu que os “passageiros fantasmas” são sinais de transtorno de stress pós-traumático:
“Os lugares onde as pessoas dizem ver fantasmas são em grande parte aquelas áreas completamente varridas pelo tsunami. Pensamos que fenómenos como os avistamentos de fantasmas são talvez uma projecção mental do terror e das preocupações associadas a esses lugares”.
A explicação é razoável, mas apresenta um problema: o Japão é historicamente atingido por violentos terramotos e tsunamis devastadores e esta foi a primeira vez que fenómenos desta natureza foram reportados num local atingido por um destes cataclismos. Também não há relatos do género que tenham sido registados por ocasião da destruição de Hiroshima e Nagasaki, no fim da II Guerra Mundial.
Para quem esteja interessado em saber mais sobre o fenómeno, o quarto episódio da segunda temporada de “Unsolved Misteries”, uma série documental da Netflix, aprofunda as aparições fantasmáticas em Ishinomaki, apresentando vários testemunhos de ocorrências paranormais.
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