A Rússia anunciou no sábado que suspendeu o cumprimento de um acordo sobre a exportação de cereais ucranianos, mediado pela ONU e pela Turquia no Verão deste ano. A suspensão do compromisso ocorreu depois de a Ucrânia ter lançado um ataque com drones a navios civis e militares envolvidos na protecção da circulação de carga agrícola no Mar Negro.

Num post publicado no seu canal do Telegram, o Ministério da defesa russo afirmou:

“A Rússia está a suspender a sua participação na implementação de acordos sobre a exportação de produtos agrícolas a partir de portos ucranianos”.

As autoridades russas alegaram ainda que o atentado foi organizado com o envolvimento de militares britânicos.

O Ministério da Defesa britânico negou qualquer envolvimento no ataque com drones ucranianos à frota do Mar Negro em Sevastopol, alegando que

“Moscovo está a recorrer a falsas alegações de escala épica, num esforço para distrair a comunidade internacional do sua desastrosa e ilegal invasão da Ucrânia. Esta história inventada diz mais sobre o que se passa dentro do Governo russo do que sobre o Ocidente”,

Comentando a decisão da Rússia de suspender o acordo de cereais, Andrey Ermak, chefe de gabinete do Presidente ucraniano Vladimir Zelensky, acusou Moscovo de chantagem.

“A chantagem russa é primitiva em todos os domínios: chantagem no campo nuclear, energético e alimentar. Os estratagemas russos são demasiado simples e previsíveis.”

Na semana passada, o Ministro da Agricultura russo Dmitry Patrushev sinalizou que Moscovo está pronta, com a ajuda da Turquia, a enviar aos países mais pobres do mundo até 500.000 toneladas de cereais dentro dos próximos quatro meses.

O ministro observou que, considerando a colheita deste ano, a Rússia está preparada para substituir os cereais ucranianos e organizar entregas a todos os países interessados a um preço razoável. E acrescentou:

“O acordo dos cereais não só não resolve os problemas dos países necessitados, como até os agrava, de certa forma. Os navios da Ucrânia têm como destino a Itália, a Espanha, os Países Baixos. Para algumas cargas, a quota dos países da UE varia entre 60 e 100%. Estes não são os estados que estão a enfrentar um verdadeiro problema alimentar.”

A Rússia advertiu anteriormente que poderia desistir do acordo sobre os cereais se não fosse implementado um acordo para aliviar as restrições às suas exportações de alimentos e fertilizantes. Além disso, após a explosão na estratégica Ponte da Crimeia, o Presidente russo Vladimir Putin avertiu que, caso se verificasse que a Ucrânia – o país que Moscovo acusou de levar a cabo o ataque – utilizava corredores de cereais para transportar explosivos, colocaria em questão a própria existência desses corredores.

O acordo revolucionário entre Moscovo e Kiev foi alcançado em Istambul em Julho com a mediação da ONU e da Turquia. O seu objectivo era desbloquear as exportações agrícolas através do Mar Negro da Rússia e da Ucrânia – dois dos principais exportadores mundiais de cereais – que estavam paradas devido ao conflito entre as duas nações.

Esta suspensão da participação russa nos protocolos de protecção dos corredores da marinha mercante no Mar Negro vai colocar ainda mais pressão sobre o mercado de produtos agrícolas em geral e dos cereais em particular. Até porque uma boa parte dos cereais que chegam à Europa estão a ser utilizados para a produção de biodiesel e não para a transformação em produtos alimentares. A produção de combustíveis a partir de cereais, mais lucrativa, tem aumentado no contexto da crise energética desencadeada pelas radicais políticas ambientais e pela reacção à invasão da Ucrânia por parte dos países ocidentais.