O primeiro monólogo do dissidente escocês no ContraCultura é uma obra de arte em oratória. E um lúcido tratado sobre o estado da governação dos povos na segunda década do Século XXI. São dez minutos de luz, para quem quiser ser iluminado.

 

 

É verdade que a maioria dos cidadãos no Ocidente ainda acredita que os estados defendem os direitos dos povos que regem, que promovem a sua prosperidade e trabalham para o bem geral. É verdade que a maior parte dos eleitores ainda julga que vive no contexto de democracias participadas, que salvaguardam o estado de direito e o livre arbítrio. É verdade que uma larga faixa estatística dos contribuintes ainda crê que não está a ser roubado, que o seu dinheiro não serve quase exclusivamente para enriquecer as oligarquias corporativas e as burocracias regimentais que, em nome de falsas ameaças ou vãs promessas, comandam os destinos das nações. É verdade que todos estes milhões de servos do sistema não podiam estar mais enganados.

Somos hoje governados por interesses que não são os nossos, manipulados por ambições que não nos servem, alienados por tecnologias que nos aviltam e diminuem, jogados uns contra os outros por razões fabricadas, envergonhados pela distorção da história, iludidos pelas máquinas de propaganda, normalizados pelas universidades e pelas indústrias de entretenimento, espoliados ao abrigo de uma visão distópica da sociedade, equalizados como gado, categorizados como mercadorias, testados como ratos de laboratório e cegos como morcegos expostos ao clarão solar.

E é complicado sair dessa tenebrosa caverna socrática. É difícil pensar o impensável. É um processo árduo o de abrir os olhos e perceber o jugo, a mentira, o mal absoluto. É uma escalada impossivelmente íngreme, a da ascensão à verdade. Será até traumático para aqueles que se julgam protegidos, privilegiados e assistidos; para aqueles que vivem bem na servidão, que estão satisfeitos com a irrealidade que lhes é fornecida no telejornal, que tiram prazer da hipnose.

Mas ninguém disse, nem Cristo, que a redenção era fácil.