“Tempos houve em que se dizia que a guerra é um assunto excessivamente sério para ser entregue aos militares. Eu acrescento agora que a guerra é um assunto excessivamente sério para ser entregue à comunicação social.”
Levy Baptista . Em entrevista à RDP . Abril 2022

 

Os mesmos falsários que te mentiram sobre os índices de mortalidade do Covid-19; os mesmos farsantes que te enganaram sobre a eficácia das máscaras e do distanciamento social e dos confinamentos e das vacinas; os mesmos chefes da redacção do inferno que te venderam as virtudes das guerras no Médio Oriente; os mesmos fazedores corruptos da opinião pública que defenderam os benefícios da globalização; os mesmos doutores da academia do caos que te convenceram que a imigração massiva de povos com referências culturais e religiosas diametralmente diferentes das tuas é uma ideia redentora para a civilização em que foste criado; os mesmos activistas radicais que te tentam convencer que Trudeau é um herói da democracia, que Biden ganhou nas urnas as eleições de 2020, que Macron defende os interesses dos franceses, que Mario Draghi é mais que apenas um burocrata com tiques autoritários e que a União Europeia é uma instituição recomendável, em vez de uma organização mafiosa; os mesmos canalhas que conseguem argumentar que no futuro serás privado do direito à propriedade e do direito à privacidade e que ainda assim vais ser feliz; os mesmos caciques que desvalorizam a liberdade em nome da segurança; os mesmos filhos de um deus menor que te recomendaram os centros comerciais em desfavor das igrejas; os mesmos arcanjos de Satanás que te anunciaram a morte de Deus para logo a seguir encostarem a ciência à parede da fé religiosa; estes mesmos agentes da destruição do teu mundo, estão agora empenhados em formar o teu juízo sobre o conflito na Ucrânia.

O resultado é o pretendido: ninguém faz a mínima ideia do que realmente está a acontecer.

Neste artigo, viajamos pela cartografia de algumas das mais escandalosas mentiras publicadas pela máquina de propaganda barata em que se transformou a comunicação social no Ocidente e que foram sendo publicados no Blogville, nos últimos meses.

 

01 . O Fantasma de Kiev

Depois de ter sido completamente revelado como fraude e produto propagandista em Fevereiro, o célebre “Fantasma de Kiev” ainda preenchia a imaginação dos “jornalistas” ocidentais em Maio, mesmo quando a sua existência foi negada pela Força Aérea ucraniana. Autómatos de falsificação da realidade como a BBC, o New York Post e a Reuters insistem em louvar e homenagear e biografar o inexistente herói que eliminou 40, sim 40, caças russos, como se isso fosse possível; como se a verdade factual fosse o inimigo; como se a desinformação, quando cumpre com a narrativa oficial, fosse uma virtude.

 

02 . As mentiras chegam ao espaço sideral.

A Associated Press, o The Guardian, a BBC, o The Times, o The Independent e O Globo publicaram em Março um conto de fadas em que os cosmonautas russos da International Space Station envergaram fatos amarelos em solideriedade para com os sofrimentos do povo ucraniano e em protesto contra a invasão russa.

É mentira, claro. Os fatos são costumizados meses antes dos astronautas viajarem para o espaço. E é óbvio para qualquer pessoa sã que a ideia da equipa russa ensaiar um protesto político no espaço é absurda: os astronautas são militares e funcionários públicos e representam oficialmente o seu país; não desejariam por certo voltar à sua pátria como traidores.

A facilidade e a desfaçatez com que esta gente falsifica os factos é desarmante: neste caso bastou uma fotografia de astronautas vestindo fatos amarelos como prova material de uma rábula que é inacreditável logo à partida. Mesmo a propaganda, como foi canonizada no século XX, exige critérios de fabricação da narrativa um pouco mais exigentes e isto não é propaganda. É pior que isso.

A bárbara adulteração da realidade a que se dedica, com despudor inusitado, a imprensa mainstream, vai para além de motivações políticas ou das contingências da guerra: objectiva a suspensão da relação que temos com o mundo. Os media estão a ser utilizados para condicionar as pessoas a viverem numa ficção, em que o errado é o certo, o imoral é o moral, a guerra é a paz, a mentira é a verdade e assim sucessivamente até ao colapso psíquico e intelectual dos indivíduos e das sociedades.

Retirar ao Sapiens a hipótese de uma relação fidedigna com o meio concreto e entregá-lo a abstracções ficcionais que invertem o seu aparelho ontológico resultará, em última análise, na edificação de um inferno na Terra.

E é precisamente esse o objectivo.

 

03 . Quando a mentira é munição, serve a verdade de escudo.

A Rússia tem sido alvo de uma barragem de mentiras que envergonhariam qualquer ditador. Da fraude que representava Trump como agente do Kremlin passámos à propagação do conceito patético de que um demente senil como Biden poderia intimidar Putin. Seguiu-se a garantia de que sanções mais ou menos rotineiras iriam ser dissuasoras de uma intervenção militar na Ucrânia, para chegarmos ao tempo real em que ninguém com um cerebelo minimamente operacional está a acreditar no que é reportado sobre o teatro de operações.

O descalabro da confiança nos jornalistas, nos líderes de opinião, nos políticos, nos cientistas e em toda a panóplia de peritos que os media tentam impingir como credíveis chegou a um ponto recordista nestes terríveis dias de guerra.

Na cabeça de muita gente no Ocidente trava-se também um aceso conflito, que é determinante para o futuro da humanidade e que tem por entidades beligerantes o caos e a ordem, o que é errado e o que é certo, a ilusão e a realidade.

 

04 . Um mapa para denunciar a propaganda.

Para que se perceba a que nível estapafúrdio está o New York Times empenhado em acompanhar e reforçar a guerra de desinformação e propaganda contra a Rússia, basta olhar para este mapa, editado com a subtileza de um gorila a quem ofereceram um estojo de lápis de cera.

Os ucranianos que fogem para o Ocidente são “refugiados”. Os ucranianos que fogem para a Rússia são “migrantes”. A seta dos “refugiados” é laranja e enorme. A seta dos “migrantes” é pequenina e cinzenta. A relação estatística entre os vários destinos dos “refugiados” é respeitada nas setas laranja, mas a mesma equação de proporcionalidade já não é mantida para os “migrantes”.

O New York Times não valoriza os “migrantes” da mesma forma que os “refugiados” como não valorizava os não vacinados da mesma forma que os vacinados, como não valorizava os eleitores de Donald Trump da mesma forma que os eleitores de Hillary Clinton ou Joe Biden e assim sucessivamente.

Este mapa decorre precisamente do mesmo tique perverso que observamos em Mario Draghi ou Emmanuel Macron , quando retiram a cidadania aos não vacinados; ou que registamos em Joe Biden, quando se refere aos manifestantes de 6 de Janeiro; ou que testemunhámos em Trudeau, quando insultava os camionistas.

Os ucranianos de língua russa, como os não vacinados, como os eleitores de Trump, como os dissidentes canadianos, fazem todos parte do inimigo. E se esta guerra escalar para um conflito mundial, ela vai ser travada também nas frentes internas, e como nunca na História.

 

05 . No mundo palhaço dos Fact Checkers.

Os rapazes da Politifact estão em desespero de causa. Nada de novo. Os fact checkers estão sempre em desespero de causa. No caso específico deste relatório, lemos que a América não duplicou as importações de petróleo russo no ano passado porque duplicou as importações de petróleo russo o ano passado.

Não é uma gralha: uma organização que se dedica à verificação dos factos que correm na imprensa e nas redes sociais afirma que é falso que os Estados Unidos duplicaram as importações de petróleo russo em 2021 ao mesmo tempo que confirma que os Estados Unidos duplicaram as importações de petróleo russo em 2021.

E depois, estes aprendizes de Pinóquio ainda conseguem ficar espantados quando as pessoas recusam as narrativas que eles tentam propagar.

O que, se pensarmos bem, é de uma gravidade tremenda: mesmo que Putin fosse o diabo na Terra, bastava que a imprensa afirmasse esse “facto” para que milhões de pessoas no Ocidente considerassem que o inquilino do Kremilin é um santo por canonizar.

Décadas de mentiras escandalosas como esta desagregaram completamente as sociedades ocidentais. E é difícil fazer uma guerra quando ninguém acredita no retrato que se faz do inimigo. A não ser, claro, que a opinião das massas não seja relevante. Como acontece em todas as ditaduras.

 

06 . BBC: quem te viu e quem te vê.

A BBC da actualidade é um poço sem fundo de equívocos, falsidades e omissões e a propaganda que, desajeitada e furiosamente, fabrica por estes dias é de tal forma um exercício desvairado que até o Facebook passa por fonte de “informação fiável”.

Por um lado, é interessante a admissão que já ninguém confia nos meios de comunicação social tradicionais e que as redes sociais, se sujeitas a critério racional, são bem mais credíveis. Por outro, é de gargalhada que isso seja confessado pela estação desinformadora britânica.

Em nome da narrativa que transformou os russos em seres humanos de terceira categoria, vale tudo. Mesmo a auto-depreciação.

 

07 . A Ucrânia como bode expiatório.

Pela pena envenenada dos senhores da CBS ficamos a saber que a inflacção não tem nada a ver com os triliões de dólares injectados artificialmente na macro e na micro economia. Não tem nada a ver com o fecho de pipelines e concessões e a utilização de energias renováveis caras e ineficientes. Não tem nada a ver com os confinamentos por tudo e por nada que criaram massivos problemas de mão de obra e de distribuição de bens. Não tem nada a ver com a incompetência – ou a agenda destruidora – das oligarquias. Não. Não acredites nos teus olhos mentirosos. Não penses pela tua própria cabeça. A culpa é da crise fronteiriça na Ucrânia, ò servo. A culpa é do Putin, ò deplorável. E não discutas, caso contrário congelamos-te a conta bancária.

 

08 . Num mundo ao contrário, é o tirano que defende os valores da democracia.

Se há palavra que é abastardada com cansativa frequência e utilizada com propósitos que vão diametralmente contra o seu significado original, essa palavra é democracia. E no contexto propagandista da guerra da Ucrânia, o substantivo perde toda a sua virtude, claro. Um liberal pode ser um ditador, mas será sempre um democrata. Confuso? É natural. A narrativa destina-se precisamente a alimentar a confusão. A transformar a verdade dos factos num aglomerado de mentiras de tal forma contra-intuitivas e delirantes que aniquile qualquer quadro referencial. Sem coordenadas, vagueamos perdidos num universo abstracto, condenados às sombras enganadoras da caverna de Sócrates.

 

9 . Mesmo quando dizem a verdade, fenómeno raro, é necessário desconfiar dos media.

Os génios da Newsweek chegaram agora à conclusão que Putin não quer destruir a Ucrânia. Que está na verdade empenhado numa guerra de contenção e que se quisesse tomar o país rapidamente já o tinha feito ao jeito americano, tão apreciado por Bush ou por Obama: bombardeando barbaramente o território. A evidência tem sido ignorada consistentemente pela imprensa, mas como parece que a narrativa está a mudar e que a administração Biden e o Pentágono estão a tirar o pé do acelerador que nos ia enviar rapidamente para uma terceira guerra mundial, os lacaios da imprensa começam a publicar o seu esterco em conformidade com os desejos dos seus senhores.

Não há nada que a imprensa mainstream ocidental tenha dito sobre esta guerra que seja verdadeiro, pelo que até este artigo, que é excepcionalmente sensato, deve ser encarado com cepticismo e desconfiança.

Desde que as forças armadas russas invadiram a Ucrânia, os activistasa que exercem o seu fraudulento ofício nas redacções dos órgãos de comunicação social reportaram memes como factos, mitos como realidades, imagens de jogos vídeo como representações fieis de combates, rumores disparatados como certezas absolutas e especulações delirantes como evidências no terreno. Fizeram tudo o que estava ao seu alcance para deturpar os acontecimentos e fanatizar e aterrorizar as suas audiências. Por isso, mesmo quando escrevem algo que se parece com a verdade, o leitor atento deve perguntar-se pelos motivos dessa invulgar e dolorosa (para eles) manobra. Porque tudo o que a imprensa escreve e reporta decorre de uma agenda. E os interesses dessa agenda não objectivam a paz ou a prosperidade dos povos, a liberdade dos cidadãos ou a salvaguarda, no caso, das vidas humanas na Ucrânia. Os interesses dessa agenda relacionam-se apenas com a destruição civilizacional e a imposição da Nova Ordem Mundial.

Desconfiar da imprensa é um dever moral. Cumpre-o com zelo.