A vingança dos pequenos de agora é a de aviltar quem foi grande outrora.

A Escola Primária Sir Francis Drake, que celebrava o heróis inglês do século XVI, chama-se agora Escola Primária Twin Oaks. A instituição de Lewisham declarou que a “esmagadora maioria” dos 450 pais, funcionários, alunos e residentes votou a favor do novo nome. E contra a sua própria História.

 

 

Reduzir Sir Francis Drake – explorador, aventureiro, oficial da marinha, herói de guerra, corsário e político –  à condição de mercador de escravos é a mesma coisa que reduzir Vasco da Gama a exterminador de muçulmanos, Camões a rufia de tabernas e D. João II a assassino do cunhado. Assumindo esta lógica, podemos também reduzir Marcelo Rebelo de Sousa a comentador desportivo, Justin Trudeau a matador de camionistas, Ursula von der Lyen a contrabandista de vacinas, Rishi Sunak a corretor da Wall Street, Emmanuel Macron a inspector de finanças, Joe Biden a traficante de influências e assim sucessivamente até à obliteração curricular de toda a gente.

Mas, galhofa à parte, continua como sempre a surpreender a soberba dos imbecis do politicamente correcto: quem é que esta gente, que nada fez de na vida de grandioso, pensa que é para condenar moralmente pessoas que viveram há cinco séculos atrás, em condições incomparavelmente mais duras, num contexto sócio-económico e filosófico absolutamente diverso e que, ao contrário dos inúteis de agora, se libertaram da lei da morte por façanhas e aventuras, por génio e coragem, por vontade de transcendência e capacidade de sofrimento, que estes gordinhos da vida nem conseguem imaginar possível?

Se um destes mariquinhas censores da história fosse colocado numa máquina do tempo e levado à presença de Francis Drake, não iria por certo acusá-lo de malfeitorias. Ia borrar-se todo para um canto e chorar pelo Século XXI.

 

 

Antes do império.

Nos dias que correm não se fala sobre isto, claro, mas a realidade pre-colonial dos territórios conquistados pelos impérios europeus devia ser melhor conhecida. E divulgada. Para que esta mania de carregar o fardo do homem branco a torto e a direito seja compensada com factos.

 

 

A opressão, o terror, a crueldade, a tortura e a chacina imperavam em muitos dos territórios conquistados pelas nações europeias, muito antes de elas terem lá chegado. E a escravidão também. A escravidão não é um exclusivo dos países ocidentais nem foi inventada por eles. Pelo contrário. A escravatura é um modelo económico tão antigo como as mais antigas civilizações da história. Os seus principais protagonistas, em termos estatísticos, são as civilizações do Índico e do Golfo Pérsico (contemporâneas do império marítimo lusitano), do Mar da China (desde que a China existe e até há muito poucas décadas atrás), do Mediterrâneo Clássico e da América Central (Astecas, Maias e Incas). O comércio esclavagista de Otomanos e Árabes castigou muito mais o continente africano do que os impérios coloniais ocidentais todos juntos. E a África equatorial virada para o Atlântico não foi a região mais afectada pelo rapto de escravos, muito simplesmente porque nunca teve demografia, nem geografia, que alimentasse os números estratosféricos registados noutras situações históricas.

 

 

215 anos de pancadaria.

Este é um dos gráficos mais eloquentes que podem ser construídos.

 

Conta os anos de paz e os anos de guerra da República Romana, entre 327 a.C. e 100 a.C., e é um retrato numérico extremamente assertivo sobre a belicosidade, a tenacidade, a brutalidade, a avidez e o espírito intrépido dos descendentes de Rómulo.

Em 227 anos de expansão acelerada, a potência mediterrânica só não esteve envolvida em conflitos militares durante 12 anos.

Não foi assim por acaso que no século que se seguiu a república tenha, por ambição desmedida e poder excessivo dos senhores da guerra, passado a monarquia imperial. Mário, Sula, Crasso, Pompeu, César, Marco António, Lépido e Augusto transportavam um legado de violência que era incontornável.

Ainda assim, percebemos que a civilização não vem sem sangue. Abundante. E isso dá que pensar.

 

 

Tudo o que é preciso para fazer a guerra (Sécs. XI – XXI).

Thom Atkinson teve a excelente ideia de fotografar o equipamento dos soldados ingleses desde 1066 até aos dias de hoje. O resultado é uma espécie de ensaio sobre a etnografia da guerra.

À medida que as armas vão ficando mais leves, a quantidade de artigos aumenta. O soldado da batalha de Hastings não trazia consigo muito mais que as armas, o escudo e o capacete. O Sapador do Afeganistão até um ipad traz na mochila.

A progressiva necessidade de camuflagem é também evidente: as cores dos uniformes vão sendo cada vez menos garridas, de forma a proteger os soldados da crescente autonomia e precisão das armas de fogo.

O conjunto de fotos transcende a sua missão iconográfica: há aqui uma narrativa, uma história da guerra, um relato de horrores, um exercício de síntese sobre a natureza humana.

 

Mercenário escandinavo – Batalha de Hastings – 1066

 

Cavaleiro Cruzado – Cerco de Jerusalém – 1244

 

Arqueiro – Batalha de Agincourt – 1415

 

Mestre de Armas – Batalha de Bowsworth – 1485

 

Mosqueteiro – Batalha de Tilbury – 1588

 

Sentinela – Batalha de Malplaquet – 1709

 

Soldado Raso – Batalha de Waterloo – 1815

 

Fuzileiro – Batalha de Alma – 1854

 

Soldado Raso – Batalha de Somme – 1916

 

Cabo Pára-quedista – Batalha de Arnhem – 1944

 

Comando – Conflito das Maldivas – 1982

 

Sapador – Afeganistão – 2014