Nem sempre o slogan, get woke, go broke corresponde à realidade dos factos, lamentavelmente. Por muitas razões, uma delas sendo a de que as empresas que valorizam a ideologia acima das preferências e sensibilidades dos consumidores acabam por ser apoiadas financeiramente pelos estados, e comercialmente pela imprensa corporativa, que passa a  funcionar como uma máquina de marketing gratuita.

Assim sendo, o capitalismo de base neo-marxista não tem qualquer problema em sacrificar a rentabilidade em nome dos valores elitistas e globalistas. A falência é um mal menor porque, como já aconteceu por várias vezes nos últimos 15 a 20 anos, os estados têm sucessivamente impedido que as grandes corporações paguem pelos seus erros de mercado, desde que estas permaneçam fieis ao programa neo-socialista e politicamente correcto, de vocação totalitária, que é a norma contemporânea.

A expressão “Too big to fail” é disso exemplo evidente. Em vez de deixarem cair as mega corporações que, por disfunção de gigantismo, corrupção intestina e má filosofia de gestão, criam triliões de prejuízo, os governos encarregam-se de salvar estas instituições, à custa dos contribuintes ou à custa do valor da moeda que imprimem desenfreadamente. O capitalismo são, que rejeita o proteccionismo, o monopólio, o cartelismo, a perversa intimidade entre o público e o privado e o gigantismo pelo gigantismo, aconselharia a contrariar e deixar cair empresas que são demasiado grandes, excessivamente incompetentes ou abusivamente comprometidas com sistemas políticos e regimentais. Mas o capitalismo corporativo, por definição, promove precisamente essas empresas, que pela sua dimensão se tornam constantemente disfuncionais e que pela sua natureza corrupta se mostram cronicamente vulneráveis e dependentes de apoios públicos, pelo que são mais fáceis de controlar, de forma a permanecerem em perpétuo conluio com os interesses operacionais e propagandistas do estado.

Ainda assim, está a acontecer por estes dias um caso raro, porque factual, do fenómeno ‘get woke, go broke’: o espalhafatoso desastre da marca de cerveja Bud Light.

 


Aqui há mês e meio atrás, Dylan Mulvaney, um homossexual que agora afirma ser uma mulher, anunciou a sua parceria com a Bud Light, tendo a marca produzido até um rótulo especial com o seu rosto para celebrar essa desventura. Disse Mulvaney num anúncio da Bud Light publicado no Instagram:

“Este mês celebrei o meu dia 365 como mulher e a Bud Light enviou-me a melhor prenda de sempre – uma lata com a minha cara”.

Mulvaney tornou-se famoso por fazer caricaturas exageradas do ser feminino como parte da sua “transição”, sendo a Bud Light apenas uma das várias marcas que lhe pagam generosamente para fingir ser mulher e fazer de conta que é um “influencer”.

Acto contínuo, numerosos distribuidores de produtos da Anheuser-Busch, a empresa que produz a cerveja, começaram a abandonar a Bud Light e outras marcas pertencentes à corporação, incluindo a Budweiser, a Stella Artois, a Shock Top e a Kona Brewing Co.

De acordo com uma fonte do Beer Business Daily, os distribuidores entraram em pânico com a reacção negativa por parte dos consumidores:

“Contactámos uma mão-cheia de distribuidores da A-B [Anheuser-Busch] que estavam assustados, sobretudo no coração da América e nos estados do Sul”.

Em vez de recuar, a Anheuser-Busch insistiu no acordo com Dylan Mulvaney, afirmando que a “lata comemorativa” para o activista transgénero se destinava a “celebrar um marco pessoal”, uma referência ao 365º dia em que Mulvaney fingiu ser uma mulher.

A rejeição da cerveja pelo seu mercado alvo foi acelerada depois de ter surgido um vídeo que mostrava a vice-presidente de Marketing da Bud Light, Alissa Heinerscheid, a criticar o tradicional posicionamento de marketing da marca e a denegrir os seus clientes:

“Precisávamos de uma campanha que apelasse à inclusão e que fosse apelativa tanto a homens como a mulheres. A representação está no coração da evolução, temos que representar pessoas que reflectem o nosso trabalho. Tínhamos esta ressaca, quer dizer, a Bud Light tinha sido uma espécie de marca de amiguinhos, com um sentido de humor descontextualizado, e era realmente importante que tivéssemos outra abordagem.”

 

 

Depois destas declarações impensadas, as acções da Anheuser-Busch caíram 3%. Mas o pior estava para vir. No fim de Abril as vendas da marca tinham caído 26,1%, enquanto as cervejas rivais Coors Light e Miller Light cresciam 21% cada uma durante o mesmo período. A empresa entrou em pânico e comprometeu-se a aumentar as despesas de marketing e a acelerar a produção de uma nova campanha, segundo o Wall Street Journal, que acrescentava que a Anheuser-Busch ia oferecer uma grade de Bud Light a cada empregado dos seus grossistas.

 

 

Mas esses empregados dos distribuidores, muitos dos quais conduzem camiões com o logótipo da Bud Light, estavam a ser confrontados com pessoas furiosas nas ruas, nas lojas e nos bares. A oferta da Anheuser-Busch foi, neste contexto, mas ridícula do que simpática.

Por esta altura, o Beer Business Daily reportava:

“A deterioração da quota de mercado da Bud Light continuou a bom ritmo até à terceira semana de Abril – e, na verdade, foi piorando. Nunca vimos uma mudança tão dramática na quota nacional num período de tempo tão curto.”

De acordo com Bump Williams, as consequências da crise também se estenderam a outras marcas da Anheuser-Busch, incluindo a Budweiser, a Busch Light e a Michelob Ultra. E segundo Jeff Wheeler, vice-presidente de marketing da Del Papa Distributing, empresa sediada em Houston, Texas:

“A situação provocou ondas de choque nos distribuidores. As equipas receberam toneladas de telefonemas de pessoas furiosas”.

No fim do mês a desbocada Alissa Heinerscheid foi afastada e Daniel Blake, vice-presidente de marketing da Anheuser-Busch, também.

Depois de três semanas de silêncio nas redes sociais, Mulvaney publicou um vídeo no TikTok a reclamar que gostaria de poder reencarnar como alguém “não conflituoso e incontroverso”.

“Não sei se a reencarnação é real, mas na minha próxima vida adoraria ser alguém não conflituoso e incontroverso – Deus, isto soa bem! A boa notícia é que a vontade de agradar às pessoas quase morreu em mim, porque claramente não há maneira de conquistar toda a gente.”

Já em Maio, o director executivo da “inclusiva” Anheuser-Busch culpou a “desinformação” nas redes sociais pelo boicote à Bud Light em todo o país, na sequência da iniciativa da cervejeira de promover o seu produto com uma personalidade transgénero do TikTok. Michel Doukeris teve o desplante de dizer isto ao Financial Times:

“As pessoas falam frequentemente sobre este assunto nas redes sociais criando ruído… Temos um facto e cada pessoa coloca uma opinião por detrás desse facto. E depois as opiniões começam a ser replicadas rapidamente em todos os comentários. Quando 10 ou 20 pessoas colocam um comentário, a realidade já não é o facto, mas sim os comentários. A lata de Bud Light de Mulvaney não é uma lata de produção e nunca tivemos a intenção de a fabricar para produção geral e venda ao público”.

Em vez de assumir a responsabilidade pela tentativa catastrófica da empresa de tornar uma marca consumida essencialmente por homens conservadores num modelo de virtudes woke, Doukeris culpou a “desinformação” online. A declaração do responsável máximo da empresa é até hilarainte na medida em que alienou também os progressistas ao esforçar-se por se distanciar do fiasco. A Bud Light estava agora a enfrentar boicotes de ambos os lados do espectro sócio-político, uma vez que os bares LGBTQ mostravam descontentamento com a falta de apoio do fabricante de cerveja a Mulvaney.

Nestas declarações, o CEO assumia prejuízos significativos, mas recusava calcular o seu impacto a longo prazo.

 

 

Em Maio, as vendas da Bud Light e as acções da Anheuser Busch continuam a cair a pique. Qualquer marca de cerveja tem grande visibilidade no acto de consumo e em vastas regiões da América ninguém quer ter na mão uma garrafa de cerveja que faz publicidade com trans-sexuais. Convém sublinhar que o facto de se tratar de uma cerveja “light” já tinha sido um estigma da marca, há décadas atrás, que custou muitos milhões de dólares em marketing a ultrapassar e que deu origem precisamente a campanhas carregadas de um tipo de humor descontextualizado que a infeliz diretora de marketing agora afastada da empresa quis anular.

Os comentadores conservadores estão a anunciar o boicote à Bud Light como um momento cultural decisivo, na medida em que a expressão “Get Woke, Go broke” transcendeu o cliché e, talvez pela primeira vez, se tenha plasmado de facto no mercado americano.

A ver vamos se com este desastre aprendem outras grandes corporações. Pelos motivos enunciados no princípio deste artigo, o Contra não alimenta grandes optimismos.