Foto da conta de Joshua Kelly / Harpy Daniels no Instagram.

 

A Marinha americana está com dificuldades de recrutamento. E para as resolver decidiu fazer uma campanha com um drag queen. Aplausos para a criatividade. Mas que espécie de marinheiros espera a instituição militar recrutar?

O Guada-Marinha de 2ª Classe Joshua Kelley, nome artístico Harpy Daniels, anunciou que foi convidado para se tornar o primeiro “Embaixador Digital da Marinha” num post da sua conta do Instagram de novembro de 2022, destacando sua jornada desde a apresentação no convés em 2018 até se tornar um “líder” e “defensor” de pessoas que “foram oprimidas ao longo dos anos de serviço”.

O post de Kelley fala por mil parágrafos.

 

 

A iniciativa “Embaixador Digital” na qual Kelley participou decorreu de outubro de 2022 a março de 2023 e, segundo um porta-voz da marinha foi

“projetada para explorar o ambiente digital para alcançar uma ampla gama de candidatos”.

A iniciativa foi concluída em abril, e a Marinha dos EUA agora está a avaliar o programa para considerar a forma que ele assumirá no futuro. O porta-voz acrescentou que

“A Marinha não compensou Kelley ou qualquer outro efectivo por ser Embaixador Digital da Marinha. Participaram cinco pessoas no activo e não existe qualquer material promocional ou de recrutamento.”

Kelley disse que foi “seleccionado a dedo como um dos quatro Embaixadores Digitais da Marinha” numa publicação nas redes sociais.

Quando contactado para comentar, o “embaixador digital” encaminhou a imprensa para o seu recrutador e para o administrador do programa de embaixadores da Marinha.

Kelley, que se identifica como não binário, afirmou que começou a vestir-se de drag e a actuar em espectáculos muito antes de entrar para a Marinha, de acordo com uma entrevista conduzida por Carl Herzog, do Museu USS Constitution em Agosto.

Herzog, que é aparentemente um fã, relata que Kelley começou a actuar em navios depois de uma competição de sincronização labial sancionada pelo MWR (Moral, Bem-Estar e Recreação) em 2017, enquanto estava destacado no porta-aviões USS Ronald Reagan, e escreve que

“Kelley continua a arrasar em actuações que elevam o moral e mostram apoio aos membros do serviço LGBTQ+”.

O oficial subalterno publica frequentemente vídeos nas suas contas do Instagram e do TikTok, articulando sobre como encontrou aceitação na Marinha e destacando seus espectáculos.

Kelley disse que enfrentou assédio fora das forças armadas depois de ter sido programado para actuar num evento de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) na Base Aérea Conjunta de Langley, no Verão de 2022 que “causou um alvoroço a muitos conservadores e extremistas cristãos”.

O ContraCultura não considera que alguém seja extremista por achar que um dragshow é apropriado a eventos patrocinados por forças militares. Mas adiante.

Disse ainda Kelley ao USS Constitution Museum:

“Sou um defensor da comunidade LGBTQ+ e não faço drag apenas para mim, mas como um tributo a muitos membros do serviço que foram expulsos, assediados, intimidados ou pior por serem abertamente gays durante o Don’t Ask, Don’t Tell. Mostra representação, e isso é verdadeiramente necessário para uma cultura e organização que nos evitou durante tanto tempo”.

A Marinha americana comprometeu-se a recrutar e a reter soldados através da promoção de uma cultura inclusiva e da garantia de que o pessoal se sente “incluído e ligado à missão e aos líderes a todos os níveis”, de acordo com as últimas actualizações às suas políticas de recursos humanos, que integram todo o tipo de advertências sobre o respeito que é devido aos pronomes de género. Um panfleto de 2020 sobre as metas de Inclusão e Diversidade incluía o objectivo de desenvolver

“estratégias utilizando dados para compreender e eliminar barreiras e garantir o alcance de todos os segmentos da sociedade”.

A Marinha está a tentar aumentar os deus efectivos para 347.000 oficiais e marinheiros alistados em 2024, acima dos atuais 341.736 servindo no ano fiscal de 2023, de acordo com o Navy Times. Mas se calhar, esta campanha vai contribuir mais para a redução de efectivos do que para o seu acréscimo:

 

 

De facto, parece escapar à US. Navy que a razão pela qual está a ter dificuldades de recrutamento possa residir precisamente nas suas políticas de “inclusão” e “diversidade”, que são capazes de não recolher grandes entusiasmos no seu mercado alvo.

Talvez por isso, prevê-se que a Marinha fique 16%, ou 6,000, recrutas aquém de sua meta para o ano fiscal de 2023, confessou a vice-chefe de operações navais, almirante Lisa Franchetti, ao Comité das Forças armadas da Câmara dos representantes a 19 de abril, enquanto o seu testemunho escrito colocava o número deficitário em 8,000 recrutas.

A proposta de orçamento da Marinha para 2024 força a filosofia da “diversidade”:

“Para atrair a força de trabalho mais talentosa e diversificada, a Marinha continua a avaliar seu pacote de remuneração e requisitos de admissão, procurando alcançar potenciais recrutas por meio de publicidade e eventos de carreira”.

O programa de embaixadores é apenas uma das várias formas pelas quais a Marinha está a tentar chegar a diferentes segmentos demográficos para ultrapassar aquilo a que o porta-voz chamou

“o ambiente de recrutamento mais desafiante desde o início da força totalmente voluntária”.

E está a recorrer cada vez mais a plataformas digitais para atrair públicos mais jovens. A Marinha lançou uma série de anúncios adaptados à Geração Z que foram publicados em plataformas de redes sociais como o Instagram, bem como em serviços de televisão e de transmissão de vídeo populares entre os jovens, informou o U.S. Naval Institute (USNI) News.

Apenas 2% da população jovem cumpre os requisitos para se alistar na Marinha e está disposta a servir, disse um porta-voz da agência de publicidade VMLY&R ao USNI News.

O ContraCultura permanece na dúvida sobre o acerto destes esforços. E até arrepia pensar que esta Marinha americana pode rapidamente entrar em guerra com russos ou chineses, cuja filosofia de recrutamento, treino e comportamento militar não pode ser mais antípoda, privilegiando, sensatamente, a eficácia da sua força e o impacto da sua operação acima de valores woke que se já são destituídos de nexo na sociedade civil, se apresentam aberrantes no contexto militar.

Resta acrescentar que o Secretário da Defesa do regime Biden, Lloyd Austin, está a financiar e a implementar  um programa de “hora do conto” com drag queens nas bibliotecas das instalações militares, destinado aos filhos infantes dos efectivos das forças armadas americanas.