No vácuo sideral não há som. Mais ou menos, porque o Observatório de Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais dos Estados Unidos da América (LIGO) conseguiu ouvir qualquer coisinha, em 2016. Nada mais nada menos do que a prova de que Einstein estava certo quando calculou, na Teoria da Relatividade Geral, que tinham que existir ondas gravitacionais a fluir no universo, causadas por singularidades em colisão e carregando quantidades brutais de energia, e que estas forças seriam de tal magnitude que poderiam provocar perturbações no tecido do espaço-tempo.

O barulho que fazem as ondas gravitacionais resultantes de uma colisão entre dois buracos negros é este aqui:

 

 

Será talvez um bocadinho arrepiante, não? Basta pensar que este ruído significa que, algures no universo, o tempo andou de repente para trás, ou de repente para a frente, e que o espaço decidiu encolher-se ou esticar-se muito para além daquilo que é plausível.

Agora a sério: esta descoberta, assinada por mais de mil cientistas, foi importante porque permitiu aos físicos a perseguição das ondas gravitacionais até aos seus pontos de origem, e a sua detecção precisa em 2018, de forma a aprofundar os nossos conhecimentos sobre a arquitectura do cosmos. Mas é, sobretudo, um argumento forte a favor da existência de buracos negros convencionais (ou seja: einsteinianos). É que, ao contrário do que muito boa gente pensa, nem toda a comunidade científica está de acordo sobre o assunto e o Contra também tem dúvidas.

O problema dos buracos negros é que são geralmente utilizados para justificar a maior parte das singularidades e das excepções às leis da física observadas no universo. E este tipo de taxonomia que reduz tudo o que se desconhece à mesma categoria fenomenológica é muitíssimo discutível.

Seja como for, este foi um avanço científico de significado. E é bom saber que continuamos à escuta. Mesmo quando o que ouvimos é apenas o ruído que faz o mistério.