Este monólogo de Tucker Carlson é de Abril, mas por constituir um breve e brilhante mestrado em como a visão conservadora contemporânea deve ser conduzida mediaticamente, é pertinente no contexto da linha editorial do ContraCultura e poderá interessar à sua gentil audiência.

O assunto, também caro a este website, é a crise da representação nas democracias ocidentais. Não interessa que os eleitores possam votar se não têm candidatos dispostos a defender os seus mais relevantes interesses e as suas mais profundas convicções. Oferecer aos cidadãos candidatos de partidos diferentes que pensam exactamente da mesma forma e que de igual maneira desprezam as aspirações do eleitorado é uma forma de fazer batota em democracia.

Tucker faz a este propósito a denuncia das misérias cartelistas das elites liberais, recorrendo ao seu intransigente sarcasmo, que é deveras corrosivo, mas substancialmente carregado de evidências. Este senhor não tem, nitidamente, medo de ninguém (nem dos seus patrões, que evitam de certeza o consumo do mais bem sucedido talk show de sempre) e passa muitas horas por semana a despir as elites dos seus trajes retóricos e a reduzir à nudez mais impúdica os seus falsos paradigmas morais, numa espécie de soft porn que não tem paralelo na comédia humana do século XXI.

Os alvos a massacrar nesta gloriosa sessão de pancadaria são os republicanos liberais, na gíria – RINOS (Republicans In Name Only), que insistem em desrespeitar os seus mandatos conservadores colocando em prática no Congresso, tanto como no governo dos estados, políticas de engenharia social radical que em nada representam os valores da sua comunidade eleitoral. Este fenómeno também acontece na Europa, claro, e Rishi Sunak é talvez intérprete do mais escandaloso caso de traição ao mandato eleitoral de que podemos fazer exemplo, mas ao pundit da Fox News interessa sobretudo e naturalmente arrasar com a prata da casa: os alvos específicos do martelo pneumático são Mitt Romney e Spencer Kox; respectivamente, o insuportável e postiço magnata que apesar de ser senador republicano pelo Utah (um dos estados mais conservadores da federação) é um prolixo prestador de serviços à esquerda liberal e à imprensa mainstream; e o governador desse mesmo estado, que concorre para o título de homem heterossexual e branco que mais se odeia e mais se envergonha por ser homem heterossexual e branco na história dos homens brancos e heterossexuais.

 

 

Entre a mordaz e absolutamente épica rajada de tiros certeiros, Tucker sugere que Mitt Romney só se decidiu a votar favoravelmente aa nomeação de Ketanji Jackson para o Supremo Tribunal americano, quando descobriu que a juíza era bastante económica nas penas que na sua carreira tem atribuído a crimes de pedofilia…

Este tipo de afirmações bombásticas podem acabar por se pagar caro, Tucker ganha inimigos de cada vez que respira fundo e é preciso muita coragem para dizer isto ao vivo, perante uma audiência de centenas de milhões de pessoas, num meio mainstream e normalizado como a Fox News.

A família Murdock, que na verdade é tão RINO como qualquer Mitt Romney, vai mais tarde ou mais cedo ter que calar a sua voz mais popular. Mas ser despedido pode ser a melhor coisa que alguma vez aconteceu a Tucker Carlson. Criada a plataforma, pode pegar nela e trazê-la para a web, deixando finalmente de ser obrigado aos formatos televisivos, de opinião gerada às pressas em conversas de minuto e meio. E se escolher um servidor que lhe garanta total liberdade de expressão, pode finalmente dizer tudo o que lhe vai na alma.

Mas enquanto durar, o melhor é apreciar a veia de Tucker: não é todos os dias que a política é assim tão entretida.