Afectando os direitos de cerca de 5,5 milhões de pessoas, o governo de Keir Starmer – que criticou o “desprezo pela democracia” da anterior administração conservadora no seu manifesto eleitoral – acaba de “adiar” muitas das eleições locais deste ano.

Segundo o governo, o adiamento de um ano das eleições permite a realização de grandes reorganizações em nove autarquias locais. Mas este raciocínio não parece estar a convencer os eleitores.

Em vez disso, o partido de Nigel Farage, Reform UK, que acaba de liderar a sua primeira sondagem nacional, salientou o facto de parecer estar particularmente bem posicionado em algumas (se não em todas) destas eleições autárquicas e descreveu as acções de Starmer como ditatoriais.

 

 

De tal forma que os jornais britânicos sugeriram que a anulação dos actos eleitorais constituem um “golpe” para o Reform UK. No entanto, podem resultar numa maior afluência às urnas nestas zonas quando as eleições se realizarem, num voto de protesto contra o governo em Westminster.

Farage também não deverá ficar perturbado com a oportunidade de afirmar que os trabalhistas estão em pânico – e que aparentemente estão a ler o manual do comissariado de Bruxelas que afirma defender princípios democráticos enquanto procura de todas as formas anular a vontade popular expressa nas urnas e nas sondagens.

No mesmo espírito, o novo e duro discurso da líder dos conservadores, Kemi Badenoch, sobre imigração – depois do seu partido ter passado 14 anos no Governo a permitir o insano afluxo de estrangeiros – foi visto por quase todos os observadores como mais uma tentativa de travar a maré do Reform UK.

As eleições autárquicas estavam marcadas para dentro de poucas semanas. Também de forma autoritária e cínica, característica de Keir Starmer, o imposto municipal vai aumentar pelo menos 5% nos locais onde a votação foi adiada. A estratégia é claramente a de não permitir que os eleitores manifestem o seu protesto nas urnas por este aumento da carga fiscal.

A iniciativa do regime Starmer visa também impedir que o Reform UK aceda a fundos adicionais, recebidos através da obtenção de lugares de vereação e liderança municipal.

Farage acusou os conservadores de serem responsáveis pelos cancelamentos já que, segundo ele, algumas das autarquias do partido apoiaram a iniciativa dos trabalhistas, de forma a evitarem a eleição de potenciais vereadores e autarcas reformistas.

O ministro-sombra dos conservadores, Kevin Hollinrake, tentou distanciar porém o seu partido da directiva de Starmer, descrevendo o adiamento como um “dia preocupante para a democracia”.

O problema é que os “dias preocupantes para a democracia” não são de agora. E líderes ditos conservadores como David Cameron e Boris Johnson muito fizeram para que esse deficit democrático assumisse as proporções grotescas que tem hoje.