Leonard Susskind, o professor de Stanford e ‘pai’ da Teoria das Cordas, que acaba de presidir ao funeral do seu próprio legado

 

A teoria de unificação da física com mais proponentes no mainstream académico tem sido, nos últimos 30 ou 40 anos, a Teoria das Cordas. Entre muitos outros imbróglios filosóficos, a Teoria das Cordas, para ser minimamente coerente, pressupõe uma infinitude de universos, cada um com características diferentes, sendo que essas características variam infinitamente e sendo que todas essas variações são possíveis. As consequências desta maneira de pensar o Universo são até divertidas, porque, por exemplo, se perguntarmos a um físico ateu que seja adepto desta tese cosmológica se existe um universo que tenha sido criado pelo Deus católico, ele dirá que sim, porque todas as possibilidades são plausíveis.

É claro para todos aqueles que não investiram a sua carreira nesta teoria que ela tem problemas: não é demonstrável, não é falsificável, não reflecte a realidade do nosso universo, tem dimensões a mais e evidências empíricas a menos, e como fundamento racional apresenta apenas a sua formulação matemática, que é elegante, sim, mas apenas isso. E ao contrário do que andam por aí a dizer há um século, uma equação matemática não tem que ser bonita para ser verdadeira. Nem que seja pela evidência semântica de que o belo não é quantificável, e o que é belo para um matemático, pode ser feio para outro matemático.

E assim sendo, já há muito que a morte da Teoria das Cordas estava a ser anunciada por muito boa gente, apesar de milhares de académicos em posições de poder nas universidades de todo o mundo lutarem desesperadamente contra esse falecimento.

Acontece que ontem caiu no Youtube um objecto mediático que enterra em definitivo a validade da Teoria, mesmo que ela ainda esteja viva e a espernear em estertores de agonia nos corredores das academias. Leonard Susskind, que se não é o ‘pai’ das Cordas é por certo o homem que lhes deu vigor narrativo para sobreviver durante décadas, acaba de dizer isto no canal de Curt Jaimungal:

“A Teoria das Cordas não serve para explicar este universo. Temos que começar do zero.”

 

 

A afirmação é de louvar, num homem que dedicou a sua vida à causa e que é famoso por isso. É preciso ter coragem para chegar aos 84 anos e renegar a própria carreira. Principalmente quando vai fazer inimigos muitos, mesmo no seu círculo mais próximo da Universidade de Stanford. Lamentavelmente, os seus colegiais, regra geral, não partilham desta generosidade de espírito, preferindo a protecção dos seus estatutos à revisão dos seus dogmas, por frágeis que sejam.

E a explicação que o célebre físico dá, complexa, pode resumir-se numa ideia central, que é afinal muito simples: a matemática da Teoria das Cordas não descreve o mundo em que vivemos nem o universo observável. Ponto.

As suas palavras bombásticas só vêm corroborar também a profunda crise epistemológica que afecta a Física do Século XXI, e que o ContraCultura tem documentado com teimosa e constante regularidade.

E sendo certo que a ciência não é útil ao homem quando se dedica a estudar universos alheios à realidade ontológica humana, podemos chegar à conclusão que a Teoria das Cordas é, sobretudo, inútil.

Paz à sua alma e que descanse em paz.

Uma última nota: não é por acaso que Susskind decidiu render-se às evidências no canal Theories of Everything With Curt Jaimungal. O rapaz deve ser neste momento o mais relevante youtuber na área das ciências e as suas conversas densas e desassombradas, de longo formato, com muitos dos mais proeminentes, e alguns dos mais rebeldes, cientistas da actualidade projectaram-no para um patamar de divulgação científica que dificilmente será rivalizado por outro alguém, no presente perfeito.