Vários peritos que analisaram as imagens de vídeo e áudio encontraram grandes inconsistências na afirmação de Israel de que os militantes palestinianos foram responsáveis pelo bombardeamento mortal do Hospital al-Ahli em Gaza, na semana passada

As alegações são da Earshot, uma ONG especializada na análise áudio de imagens de zonas de conflito e de casos de direitos humanos, da Forensic Architecture, uma agência de investigação sediada na Universidade de Londres e de vários trabalhos jornalísticos.

O hospital de gestão cristã, também conhecido como Hospital Batista, foi destruído por uma explosão na terça-feira passada. Cerca de 500 pessoas morreram na explosão, segundo o Ministério da Saúde palestiniano.

As autoridades israelitas divulgaram um vídeo e um pista áudio que alegadamente provaria que o edifício foi atingido por um foguete palestiniano. O vídeo mostra uma salva de foguetes palestinianos a voar de leste para oeste, com um deles a explodir sobre o hospital. A “prova” áudio consiste numa chamada telefónica interceptada em que militantes do Hamas alegadamente discutem a forma como os foguetes disparados pelo grupo Jihad Islâmica tinham falhado e caído em Gaza.

 

 

O primiero-ministro israelita Benjamin Netanyahu escreveu nas redes sociais, na terça-feira à noite:

“O mundo inteiro deve saber: Foram os terroristas bárbaros de Gaza que atacaram o hospital de Gaza, e não as Forças de Defesa de Israel.”

No entanto, as equipas da Al Jazeera, do Qatar, e da rede britânica Channel 4 estudaram o vídeo e concluíram que o clarão não podia estar relacionado com a subsequente explosão no hospital. A Al Jazeera observou que o clarão

“era de facto consistente com o sistema de defesa antimíssil Iron Dome de Israel a intercetar um míssil disparado da Faixa de Gaza e a destruí-lo em pleno ar”.

 


Podemos perfeitamente argumentar que estes dois órgãos noticiosos são parciais (pró-Hamas). Mas na conta do Twitter/X Citizen Journalists, que prima pela independência, também encontramos vários indícios de que a responsabilidade da explosão cabe ao fogo israelita.

 

 

Num segundo vídeo filmado perto do local da explosão, pode ouvir-se um foguete ou míssil a aproximar-se e a guinchar no ar antes de embater no hospital. A Earshot estudou este vídeo e descobriu que a frequência do projéctil indica que “se aproximou do hospital de nordeste, leste ou sudeste”, enquanto Israel afirma que se aproximou de oeste.

 

 

A Earshot também estudou a gravação telefónica e descobriu que, ao contrário da maioria das chamadas, em que as vozes de ambas as partes são transmitidas no mesmo canal de áudio, a gravação consiste em duas vozes gravadas separadamente e posteriormente acopladas. Embora a Earshot tenha afirmado que não pode afirmar categoricamente que o diálogo é falso, o nível de manipulação necessário para editar estas duas vozes em conjunto desqualifica-o como fonte de prova credível.

A Forensic Architecture corroborou as conclusões da Earshot, afirmando que o projéctil veio provavelmente da direção de Israel. Uma análise mais aprofundada da cratera deixada no hospital apontou para uma aproximação de nordeste.

 

 

Mas, ironicamente, talvez a mais concludente evidência de que foi Israel que bombardeou o hospital vem das próprias fontes sionistas. Imediatamente após a explosão, o conselheiro do governo israelita Hananya Naftali escreveu isto no X:

“A Força Aérea israelita atingiu uma base terrorista do Hamas dentro de um hospital em Gaza. Uma multiplicidade de terroristas estão mortos.”

O tweet foi apagado minutos depois. Mas a Web é um território danado:

 

 

Ainda assim, o Presidente dos EUA, Joe Biden, apoiou a versão israelita dos acontecimentos (apesar de estar a ser pressionado pelo Congresso para tornar públicas as evidências que conduziram a essa decisão), e o que não faltam são adeptos do sionismo que continuam a insistir na narrativa, agora evidentemente falsa, de que foram os jihadistas que rebentaram com 500 infelizes.