Os legisladores da Câmara dos Representantes votaram, ontem à noite, a favor da destituição do Speaker Kevin McCarthy. É a primeira vez na história desta câmara que a destituição do seu líder formal foi votada favoravelmente.

Oito republicanos votaram com todos os democratas presentes para desocupar a cadeira do Speaker. A votação final foi de 216 – 210 em favor da destituição de McCarthy.

O deputado Matt Gaetz (R-Fla), apresentou uma medida contra McCarthy conhecida como moção de destituição na segunda-feira à noite, acusando-o de quebrar as promessas que fez para ganhar o assento de líder da assembleia, em Janeiro.

 

Matt Gaetz (R-Fla), que liderou a moção de destituição do Speaker Kevin McCarthy

 

As tensões aumentaram durante uma hora de debate antes da moção propriamente dita, depois de 11 republicanos terem votado com todos os democratas para avançar com a medida. Os aliados de McCarthy ocuparam todos os microfones do lado do Partido Republicano da Câmara, obrigando Gaetz a defender a sua posição do lado onde tradicionalmente se sentam os Democratas.

Reagindo à acusação de semear o caos na bancada republicana, Gaetz afirmou:

“Caos é o Speaker McCarthy. Caos é não podermos confiar na sua palavra”.

A certa altura, um aliado indignado de McCarthy, o deputado Garret Graves (R-La), acusou Gaetz e os seus correligionários de estarem a angariar fundos com base na moção de destituição. Enquanto apontava para o seu telemóvel, Graves disse:

“Usar acções oficiais para ganhar dinheiro, é nojento”.

Os gritos de “vergonha” irromperam do lado do Partido Republicano da Câmara.

Gaetz respondeu:

“Considerando a forma como certos representantes angariam dinheiro, ajoelhando-se perante os lobistas e os interesses especiais que dominam a nossa liderança, não tenho qualquer problema em pedir aos americanos patriotas que contribuam para esta luta.”

Um legislador republicano gritou para Gaetz:

“Não és nenhum mártir”.

 

 

Por seu lado, os democratas deram sinais na terça-feira de que não estariam inclinados a ajudar McCarthy. O líder da minoria da Câmara, Hakeem Jeffries (D-N.Y.), disse antes da votação que os democratas

“estão prontos para encontrar um terreno comum bipartidário. Os nossos colegas extremistas não mostraram vontade de fazer o mesmo. Eles devem encontrar uma maneira de acabar com a guerra civil republicana na Câmara”.

Em Janeiro, foram necessárias 15 rondas de votações, intensas negociações e uma quantidade enorme de compromissos, que dificilmente seriam cumpridos, para que McCarthy fosse eleito.

Senhor de uma curta margem de manobra e alvo constante de pressões da ala populista do seu partido (que na verdade odeia de morte) o Speaker irritou em definitivo a linha dura no passado fim de semana, quando, perante a ameaça do orçamento federal não ser aprovado, fez passar uma lei de curto prazo conhecida como resolução contínua (CR) para evitar o encerramento do governo e dar aos legisladores mais tempo para reunir 12 leis de despesas específicas.

Noventa republicanos da Câmara votaram contra essa CR no sábado, argumentando que se tratava de uma extensão das políticas do anterior Congresso, detido pelos democratas. Mas as anteriores tentativas do Speaker de apresentar uma CR que reduzisse a despesa durante o seu curto período de duração foram anuladas por vários desses mesmos conservadores que se opunham, por princípio, a qualquer medida desse género.

A verdade é que os oito rebeldes que agora conduziram Kevin McCarthy à destituição são os únicos que na verdade respeitam a vontade da maioria do eleitorado republicano, já que defendem a descontinuação do apoio militar e financeiro à Ucrânia, a desaceleração drástica da despesa pública, a reforma dos métodos legislativos da Câmara dos Representantes, a edificação de um muro na fronteira com o México, entre outros temas quentes da agenda populista, que a larga vantagem que Trump detêm nas sondagens para as primárias do Partido Republicano legitimam integralmente.

Kevin McCarthy sempre foi um RINO (Republican Only In Name) e se concedeu aquilo que concedeu no princípio deste ano, foi para ser eleito, confiando que posteriormente não precisava de cumprir o acordo que fez com os populistas, na medida em que Washington é o género de pântano em que a palavra de honra é facilmente contornada por manobras políticas e canalhices diversas. Deu-se mal.

 

 

A destituição não não significa, porém, que McCarthy não possa voltar a ser eleito. Mas para tal, teria de conceder ainda mais. Mentir ainda mais. Chafurdar ainda mais no lodo do Capitólio. E, a acreditar nas suas palavras, o que é sempre um risco grande, não parece agora estar muito disposto a uma nova ronda de sofrimentos.

 

 

Esta premissa liberta uma possibilidade algo surrealista: a bancada republicana pode propor para speaker Donald Trump, que assim usufruiria de uma quantidade enorme de imunidades em relação aos processos judiciais com que o regime Biden o decidiu perseguir.