Na Alemanha (como também vai acontecer em Portugal com o Chega, mais cedo do que tarde), os poderes instituídos estão a preparar-se para banir o AfD, um partido de direita que nas sondagens apresenta 21% de intenções de voto (23% para as eleições europeias). E a justificação do acto totalitário é característica do perverso uso que as elites globalistas estão a fazer da linguagem: a interdição decorre da necessidade imperativa de “salvar a democracia”.

 

 

Os partidos do eixo de poder não podem aceitar que um quarto do eleitorado não alinhe com a narrativa oficial sobre a natureza da realidade, nas suas múltiplas facetas morais, filosóficas, sociais, políticas ou científicas. E esses desalinhados serão rapidamente destituídos de um princípio sagrado da democracia que é até essencial à ética fiscal: a representação. O contrato social que os cidadãos fazem com o estado é de grande simplicidade: o direito de eleger os representantes que decidem sobre as políticas de tributação legitima o acto tributário, e cidadãos não representados não são legitimamente tributados. São pura e simplesmente espoliados.

E isto de retirar o direito à representação a certos segmentos da população, para cúmulo do cinismo e num exercício recordista de double speak, é feito alegadamente em nome da democracia, sendo que o termo tem neste contexto o mesmo significado que tinha na “República Democrática Alemã” do Bloco de Leste ou, estendendo a comparação para fora do seu âmbito estrito, “salvar a democracia” é agora um argumento equivalente ao de “salvar o planeta”. Em nome desta “salvação” é possível desenvolver uma intensa bateria de fascismos. É até possível destruir a democracia, como é até possível destruir o planeta.

A imprensa corporativa alemã está entusiasmada: há mesmo que interditar rapidamente a opinião inconveniente ao grande progressismo globalista; há que prender dissidentes, perseguir os espíritos de contradição, prender os escolhos humanos que impedem a santificada máquina de compressão dos poderes instituídos de progredir na sua tarefa diversificadora e equalizadora de povos e nações.

E a creditar as sondagens, os cidadãos da federação estão bem divididos: 47% querem interditar o AfD. 47% não querem. E isto apesar de 4 em cinco cidadãos germânicos estarem descontentes com o seu governo federal e muito particularmente com as suas políticas de imigração, de que o AfD, por acaso, até é o principal crítico. Não se percebe.

O AfD só já não foi definitivamente escorraçado do panorama institucional da federação alemã porque o Gabinete Oficial para a Protecção da Constituição ainda não se pronunciou sobre o assunto. Acontece que o mesmo Gabinete Oficial para a Protecção da Constituição já se pronunciou sobre a ala da Juventude do AfD, para a considerar “de extrema-direita” e, portanto, inconstitucional (escusado será dizer que qualquer movimento de extrema-esquerda não é assim excomungado, na Alemanha). Daqui, é fácil tirar a conclusão que o AfD tem os dias contados.

Curioso que ninguém se pergunte sobre a constitucionalidade de um partido como os Verdes. Não sendo de todo uma agremiação marginal no quadro dos poderes instituídos da Alemanha, o partido ocupa actualmente 118 dos 736 lugares no Bundestag, depois de ter ganho 14,8% dos votos expressos nas eleições federais de 2021, e é agora o terceiro maior dos seis grupos parlamentares, fazendo parte do governo federal. Os 300 delegados do congresso deste partido detestam de tal forma o seu próprio país que solicitaram que a palavra “Alemanha” fosse retirada do seu manifesto. E assim foi feito. Mas isso, aparentemente, não fere os guardiões da constituição nem aleija os polícias da democracia alemã.

Quase que dá vontade de rir.

A Alemanha é uma federação relativamente recente, com 140 anos de história e alguns interregnos regimentais e territoriais. Mas nessa curta existência não faltam exemplos de interdições à “democracia” para “salvar a democracia”. Bismark baniu os sociais democratas por deslealdade ao Kaiser. Os nazis baniram todos os partidos que não eram nazis. O regime Stasi comunista baniu todos os partidos não comunistas. E agora os neoliberais e os radicais de esquerda vão banir o único partido no país que não é neo-liberal nem radical de esquerda.

Alemães a serem alemães. Outra vez.

E Paul Joseph Watson, também.