Não é por acaso que o refrão da Revolução Americana foi o que foi: “No Taxation Without Representation”. A democracia representativa legitima tudo o resto que se possa passar numa república. Sem representação, os impostos são imorais, a economia é fraudulenta, os governos são ilegítimos e os políticos são impostores. Mas é possível, sem bem que na verdade só agora esteja a ser tentado, manter a lógica democrática a funcionar, retirando-lhe a sua componente fundamental: a representatividade. Basta que os as super-estruturas políticas não ofereçam aos eleitores alternativas aos poderes instituídos, que os ameacem com a destituição financeira em caso de dissidência ou que se recusem a cumprir os mandatos eleitorais. O que não falta neste momento no Ocidente são exemplos dessa manobra, nas várias versões em que é operada.
O drama sócio-político a que assistimos por estes dias é assim e precisamente o do fim desse dever de representar e desse direito a ser representado. Os regimes ocidentais já não servem os interesses dos cidadãos. Pelo contrário, as suas transcendentais agendas vão precisamente contra os interesses e os direitos dos cidadãos. Mas como os sistemas partidários não integram, não reconhecem ou recusam as facções alheias ao cumprimento dessas agendas, o processo eleitoral não dará voz ao protesto dos eleitores, tornando assim imutáveis as estruturas de poder e as suas (más) práticas executivas.
Este fenómeno de não representação acontece há muitos anos na Europa, é verdade, e isso tem sido expresso na problemática figura da abstenção, que é sempre alta no Ocidente e que sempre foi ignorada. Mas nos últimos anos percebemos que o movimento de levar as massas à sua irrelevância está a ser intencionalmente conduzido pelas altas eferas do poder político e económico e rigorosamente orquestrado pelos media, de forma a fechar as elites num intocável e inquestionável círculo de poder.
União Europeia como martelo totalitário #01 – O Caso italiano.
A União europeia dos dias que correm é abertamente despótica. A sinistra senhora van der Leyen ameaçou, na semana passada, os italianos com sanções económicas, porque os italianos estavam prestes a eleger, e elegeram de facto, uma coligação de direita, liderada por Giorgia Meloni, de quem a senhora van der Leyen não gosta.
NEW – EU Commission President on the upcoming elections in Italy, where a right-wing victory is expected:
“We will see. If things go in a ‘difficult direction’ – I have spoken about Hungary and Poland – we have tools.” pic.twitter.com/PxtvpXyCua
— Disclose.tv (@disclosetv) September 23, 2022
A oposição à lógica da democracia representativa que tem sido interpretada com mestria pelas classes dirigentes ocidentais nos últimos anos não podia neste momento ser mais explícita: ou os eleitores dos países membros elegem personalidades convergentes com a agenda de Bruxelas ou sofrem devastadoras consequências financeiras, já que a União Europeia está a usar os seus milionários fundos de apoio aos países membros como um martelo obliterador do regular funcionamentos das democracias nacionais, numa obscena operação de chantagem política a grande escala.
E este facto, só não o regista quem não quer porque a comissária não pode sequer ser acusada de esconder as suas intenções. E o facto da posição de Ursula van der Lyen não ser imediatamente contestada por toda a Europa só significa uma coisa: os europeus estão de tal forma hipnotizados e conformados e alienados que já nem os princípios básicos da democracia estão disponíveis para defender.
A civilização que herdaram, com centenas de milhões de mortos no processo, é vilipendiada todos os dias, obliterada constantemente, como se nada fosse.
União Europeia como martelo totalitário #02 – O caso húngaro.
Viktor Orban ganhou confortavelmente as eleições de Abril passado na Hungria. Pela quarta vez consecutiva. Os húngaros parecem apreciar o seu líder conservador. A União Europeia, não. A União Europeia detesta o homem (precisamente porque é um conservador e não um globalista) e vai daí, decidiu castigar o estado membro com a invenção de um mecanismo que permite reduzir e eliminar apoios financeiros que à Hungria são devidos.
Parece que os resultados de uma democracia só são válidos quando elegem liberais e personalidades cumpridoras da agenda elitista dos burocratas da União, e o modus operandi não podia ser mais canalha, tanto como cego: as medidas punitivas vão atingir os húngaros que votaram em Orban e os húngaros que não votaram em Orban. E em última análise atirar a Hungria para a esfera russa, o que, dado o actual contexto, é de uma estupidez desmesurada.
Para além do seu impacto imediato e localizado, a infame iniciativa abriu um precedente perigoso que agora se manifestou também em Itália: a partir daqui, a União tem carta verde para se intrometer descaradamente nos processos eleitorais dos seus estados membros, apoiando com benesses os seus candidatos favoritos e ameaçando com sanções os outros, numa lógica totalitária absolutamente aberrante.
Em Inglaterra, a elite de Westminster recusa-se a ouvir os ingleses.
O Reino Unido pode orgulhar-se da sua ancestral democracia, que, como a definimos hoje, será até a primeira. Mas nas últimas décadas as instituições desta velha monarquia parlamentar fundada no costume e na common law, está em derrocada, principalmente pelo afastamento psicossocial entre líderes e liderados. O facto da tradição e do costume funcionarem como lei constitucional tem vantagens e desvantagens, como qualquer soluções em ciência política. Uma das desvantagens é que não existe um texto de referência fundamental, escrito e reconhecido institucionalmente, que proteja o regime de eventuais trafulhices e usurpações. Outra é que perpétua e cristaliza, trans-geracionalmente, certas lógicas de poder e, sobretudo, o acesso a esse poder.
Em terras de Sua Majestade Carlos, o Autista, os políticos vêm todos do mesmo círculo: ou estudaram em Oxford ou estudaram em Cambridge. Ou frequentam o exclusivo e elitista clube X ou frequentam o exclusivo e elitista Clube Y. São todos produto da mesma cepa sócio-económica e todos falam o inglês com aquele sotaque dos eleitos. Nas questões fundamentais do mundo contemporâneo, pensam todos da mesma maneira. São globalistas, elitistas, ambientalistas e politicamente correctos na mesma medida e têm por conjunto horror de cair na desgraça das redacções do The Times ou do The Guardian ou da BBC. Vivem na bolha da alta sociedade britânica, entre aristocratas e milionários, luxos e excessos e não podiam estar mais distantes da realidade dos seus cidadãos que pretendem governar.
Um dos mais deprimentes resultados desse abismo entre eleitores e eleitos foi Boris Johnson, um político aparentemente corajoso e esclarecido e carismático, cujo mandato eleitoral lhe dava legitimidade para liderar o movimento populista no Ocidente, num contexto histórico que permitia e aconselhava a bandeira libertária, e que acabou por não conseguir mais que a infâmia. Desde que chegou ao poder, fez precisamente o contrário do que era expectável e lógico, ignorando e traindo a vontade popular, assumindo-se como um ditadorzeco politicamente correcto, mostrando-se eticamente inepto, representando a triste figura do ambientalista de algibeira, atemorizado pela gripe chinesa e conformista com os poderes instituídos e não instituídos, já que sempre mostrou obediência servil à agenda do World Economic Forum, uma organização mafiosa que nunca foi legitimada por ninguém. Personificação do palhaço político, Boris foi a imagem do líder incapaz, alienado, desprovido de espinha dorsal, sofrendo compulsivamente de tiques autoritários, quase arrependido do Brexit que o transportou para o poder e atolado em escândalos orgíacos, que acabou odiado pela esmagadora maioria dos cidadãos que o elegeram, deixando o seu país numa crise económica e inflaccionária nunca vista nas últimas quatro ou cinco décadas, energeticamente destituído e investido numa guerra que se trava longe de qualquer interesse geo-estratégico britânico, e cujo desfecho dificilmente favorecerá a Inglaterra. Boris Johnson apostou tudo no conflito ucraniano, tendo desenvolvido todos os esforços e mais alguns, inclusivamente a chantagem, para impedir a paz na região. Milhares de ucranianos e russos tiveram que morrer para que o ex-primeiro ministro distraísse as atenções focadas na sua mediocridade moral e executiva e conservasse o poder por mais uns meses.
Mas se o insuportável personagem acabou enfim e justamente por ser corrido do nº 10 de Downing Street, o atraso mental da sua legislatura não foi por isso resolvido. A bancada conservadora de Westminster está tão longe do seu eleitorado como os republicanos no Capitólio estão distantes daqueles que representam: a mosca já não é a mesma, mas o excremento continua lá, infecto e imutável, porque Liz Truss é, em absoluto, mais do mesmo. A forma como constituiu o seu governo, baseada na raça e no sexo dos candidatos e não no mérito do seu percurso, e o seu abstruso compromisso com Zelensky, são ilustrações perfeitas dessa continuidade, embora ninguém alguma vez tenha perguntado aos ingleses se, em nome da integridade das fronteiras com a Ucrânia, desejam pagar contas de electricidade, gás e gasolina exorbitantes ou se é correcto que um governo não integre homens brancos, pelo simples facto de serem homens brancos.
I spoke to President @ZelenskyyUa this evening and reiterated our steadfast support for Ukraine’s freedom and democracy.
Russia’s attempts to weaponise energy must not deter the West.
Ukraine can depend on the UK for support in the long term. 🇬🇧🇺🇦 https://t.co/Mai0LjY5AN pic.twitter.com/QdAAsMq8ZA
— Liz Truss (@trussliz) September 6, 2022
Truss fala em nome da liberdade e da democracia, mas na verdade não acredita numa coisa nem noutra. Quem é que a elegeu? O seu restrito clube de snobes. E que género de liberdade se defende na Ucrânia? A liberdade para exercer o poder de forma corrupta e autoritária por líderes doutrinados pelo World Economic Forum, como Zelenski. Como Macron. Como Trudeau. E como ela própria.
A tragédia dos ingleses é que não têm opções. Keir Starmer, o líder trabalhista, é o lorde dos pântanos; translúcida, inócua e destituída forma de ser humano; entalado entre os marxistas e os guerreiros sociais do seu esquizofrénico partido, nem sequer consegue fundamentar políticas que sejam claramente diferentes daquelas defendidas por Boris ou Truss. Nas questões da pandemia, da economia, da energia ou da guerra (a cultural ou a ucraniana), as lideranças dos dois partidos pensam exactamente da mesma maneira, como elitistas-globalistas emparelhados numa espécie de valsa fúnebre, dançada para satisfazer a sensibilidade artística do WEF.
O partido Liberal transformou-se numa aberração iliberal do género Bloco de Esquerda e, apesar de poder colher frutos eleitorais do vazio de dignidade, coragem e inteligência que grassa no panorama político britânico, não trará certamente qualquer vestígio de redenção à nação que um dia imperou sobre a geografia planetária.
Qualquer súbdito de Sua Majestade que tenha um mínimo de lucidez não tem neste momento em quem votar. O sistema que foi instalado sobre a velha monarquia consuetudinária não lhe proporciona sequer um só candidato que defenda os seus interesses, lute pela sua prosperidade e proteja a sua cidadania.
Na Suécia, nada vai mudar.
Na semana passada houve eleições legislativas na Suécia, e os resultados parecerem à primeira vista conduzir à interrupção do interminável lapso temporal em que os socialistas presidiram aos destinos desta nação e cujas políticas de imigração e laxismo a transformaram, incrivelmente, num dos mais violentos e perigosos países da Europa. Houve, neste contexto e durante uns breves dias, a expectativa de que uma coligação de direita, que respeitasse a vontade expressa nas urnas, podia alterar este estado de coisas. Mas, claro, não é isso que vai acontecer.
Eva Vlaardingerbroek explica que a magra vitória da direita não vai mudar nada da triste realidade do país. Porque a esquerda, ironicamente, só perdeu a maioria porque os votos da enorme comunidade islâmica foram transferidos para o partido… islâmico. E porque, exactamente como acontece em Portugal, as forças liberais de centro e centro direita têm horror à direita populista e dificilmente uma coligação será conseguida no contexto desse espectro político. O que provavelmente irá acontecer é um bloco central entre liberais e socialistas e, portanto, mais do mesmo. Mais violência islamita, mais tirania sobre a dissidência, mais difusão da identidade nacional, mais alterações demográficas no sentido de transformar o país num laboratório de Babel.
🇸🇪 Two bombings in one night? Just another day Sweden, sadly.
Talked to @TuckerCarlson about how a new Islamist party stole away just enough of the left’s votes to have them lose their majority and how it remains to be seen if a right wing government will actually be formed. pic.twitter.com/Qsx5vyejBz
— Eva Vlaardingerbroek (@EvaVlaar) September 23, 2022
Aqui como em Inglaterra, como em França, como em Espanha, como no Canadá e como nos Estados Unidos, os regimes conseguem contornar e ignorar os verdadeiros mandatos eleitorais, condenando os eleitores a perpetuar as elites instaladas.
Nos Estados Unidos, os representantes republicanos desprezam e hostilizam o seu eleitorado.
Num épico monólogo emitido em Abril, Tucker Carlson expõe de forma eloquente o problema da ausência de representatividade dos órgãos políticos contemporâneos. Os alvos a massacrar nesta sessão de pancadaria são os republicanos liberais, na gíria – RINOS (Republicans In Name Only), personalizados nas figuras de Mitt Romney e Spencer Kox, que insistem em desrespeitar os seus mandatos conservadores colocando em prática no Congresso, tanto como no governo dos estados, políticas liberais que em nada representam os valores da sua comunidade eleitoral. Respectivamente, o insuportável e postiço magnata que apesar de ser senador republicano pelo Utah (um dos estados mais conservadores da federação) é um prolixo prestador de serviços à esquerda liberal e à imprensa mainstream; e o governador desse mesmo estado, que concorre para o título de homem heterossexual e branco que mais se odeia e mais se envergonha por ser homem heterossexual e branco na história dos homens brancos e heterossexuais.
É claro que o problema transcende estes dois figurões. A pidesca e fantoche comissão de inquérito sobre os acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021 incluía muitos republicanos que deveras desejariam prender todos os manifestantes republicanos que invadiram o Capitólio nesse dia. E os líderes conservadores, como Mitch McConnell, estão de tal forma alinhados com os seus colegas democratas e com as políticas do Regime Biden que preferem por certo ver o Partido Democrata ganhar eleições para a governação estadual e para as duas câmaras do Congresso do que conviver com incómodos representantes de pensamento populista, mesmo que integrados nas listas do Partido Republicano.
A concórdia bipartidária sobre a guerra na Ucrânia, que o Contracultura já documentou, é um outro assunto em que as bancadas conservadoras das duas câmaras do Congresso mostram como estão distantes das preocupações com o seu eleitorado que vive, naturalmente, muito mais preocupado, por exemplo, com a integridade da fronteira dos Estados Unidos com o México, que não parece preocupar os congressistas em Washington, do que com a salvaguarda da fronteira da Ucrânia com a Rússia, que pelos vistos é, para estes últimos, substancialmente mais importante.
E voltando ao princípio deste texto: considerando que a federação americana nasceu pela vontade de ser representada antes de ser taxada, talvez fosse sensato que os políticos na América pensassem duas vezes antes de concluírem em definitivo o divórcio com os seus eleitores. Nunca se sabe o que podem fazer os povos, quando são assim excluídos de poder sobre o seu destino.
Relacionados
17 Jan 25
Sondagem mundial: maioria considera que Trump é bom para o mundo e para a paz mundial.
Uma grande sondagem global envolvendo 28.000 pessoas em 24 países revelou que a maioria acredita que a presidência de Donald J. Trump será boa para a América, o mundo e a paz.
17 Jan 25
Trump anuncia cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que garante a libertação dos reféns.
O Presidente eleito Donald J. Trump anunciou que Israel e o Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo, garantindo o regresso dos reféns israelitas após mais de um ano de conflito na sequência dos ataques de 7 de Outubro.
17 Jan 25
Quase 50% dos burocratas do governo federal dizem que vão “resistir” à administração Trump.
Quase metade dos burocratas de carreira do governo federal norte-americano dizem que tencionam resistir às directivas da nova administração do Presidente eleito Donald J. Trump. Para 'salvar a democracia'.
16 Jan 25
Sondagem: Reformistas de Nigel Farage estão a um ponto apenas dos trabalhistas de Keir Starmer.
Uma sondagem do YouGov revela que os trabalhistas perderam 54% do seu eleitorado desde que subiram ao poder. O Reform UK de Nigel Farage está agora a apenas um ponto percentual de ser o partido mais popular no Reino Unido.
16 Jan 25
Tribunal impede Biden de permitir homens biológicos em desportos femininos.
Naquele que foi provavelmente o golpe de graça desta guerra cultural, um juiz federal bloqueou a tentativa de Joe Biden de redefinir o Título IX para permitir a entrada de rapazes nos balneários e nas equipas desportivas das raparigas.
16 Jan 25
Papa Francisco nomeia Cardeal woke, globalista e anti-Trump como novo Arcebispo de Washington D.C.
Só mesmo o anti-papa Francisco poderia achar que é uma boa ideia enviar para Washington um cardeal woke, globalista, profeta do apocalipse climático e histriónico crítico de Donald Trump. A relação entre os EUA e o Vaticano vai por certo melhorar imenso.