O presidente francês intensificou a pressão para institucionalizar a censura em França, argumentando que o estado precisa de autoridade para impor “ordem pública digital” durante a ocorrência de motins.

E quem é que define o que é um motim? Emmanuel Macron.

Na sua primeira entrevista após o fim do prazo de 100 dias que estipulou para restaurar a confiança no seu governo, na sequência de uma imensa vaga de protestos em França contra a alteração da idade da reforma dos 62 para os 64 anos, o presidente Macron tentou reivindicar uma série de sucessos legislativos. No entanto, a questão dos devastadores distúrbios ocorridos em Julho, depois da polícia ter morto a tiro um adolescente de origem argelina, continua a ensombrar o panorama político e social do país.

Enfatizando a necessidade de “ordem, ordem, ordem”, Macron defendeu a implementação de maiores níveis de censura sobre o discurso como forma de prevenir novos tumultos destrutivos. O presidente francês observou que muitos dos jovens que se envolveram nos motins, saques e incêndios de edifícios “se conheceram nas redes sociais”.

No contexto deste vicioso raciocínio, o discípulo de Davos defendeu a acrescida autoridade do governo para instituir “ordem pública digital” (um novo eufemismo para a tirania sobre fórum público), incluindo a capacidade de remover conteúdo das plataformas digitais para

“melhor proteger os jovens por meio de parcerias com plataformas”.

“Proteger os jovens” é agora impedi-los de se expressarem em rede social e de comunicarem entre si.

Numa reunião com cerca de 300 prefeitos no Palácio do Eliseu, no início de Julho, Macron sugeriu que o estado poderia “fechar as redes sociais” sempre que “as coisas aqueçam.” A sugestão foi condenada por líderes partidários de todo o espectro político, com muitos protagonistas da vida política francesa a comparar o chefe de estado a ditadores da China comunista e da Coreia do Norte.

 

 

O governo francês expandiu entretanto e amplamente as suas capacidades de vigilância, aprovando uma legislação que permite aos serviços de segurança espiar os cidadãos por meio da activação remota de câmaras e microfones em telefones, computadores e automóveis.

O presidente não abordou, claro, o impacto da migração em massa nos recentes tumultos, optando por se concentrar na questão do colapso da família nuclear, e afirmando que

“o nosso país precisa de um retorno da autoridade a todos os níveis, e primeiro na família”.

Aparentemente, Emmanuel Macron é agora um defensor de paleolíticos valores conservadores. Espantoso.

Instruindo o governo para que “capacite as famílias e reinvista na juventude” promovendo “estruturas” que impeçam os jovens de se envolverem em tumultos violentos, Macron sugeriu também que procurará estender o horário de funcionamento de algumas escolas para manter as crianças fora das ruas. Porque foi nítido para todo a gente que a França ardeu por iniciativa de crianças.

Embora a grande maioria do público acredite que os recentes distúrbios foram resultado de “fracassos na política de migração”, o governo francês assumiu uma posição oficial que é alienada dos factos, e omitiu as caraterísticas étnicas das cerca de 600 pessoas que foram presas durante os motins.

Numa muito ligeira admissão dos impactos desastrosos da migração em massa, Macron disse que o seu partido será parceiro do partido da oposição Les Républicains para fazer passar reformas nas leis e mecanismos da imigração de forma a garantir que a França seja

“melhor protegida pelas sua fronteiras e integre melhor aqueles que lá trabalham para o sucesso da nação.”

Resta saber quais serão os detalhes dessa reforma, que muito provavelmente não vão satisfazer as exigências dos populistas de direita: a deputada do Parlamento Europeu Patricia Chagnon-Clevers, do Rassemblement National, disse à imprensa que só uma “interrupção total de toda a imigração” podia restaurar a ordem em França.