Como o ContraCultura já tinha previsto, Keir Starmer assinou na semana passada um protocolo com a União Europeia que, num vasto leque de assuntos sociais e económicos, inverte o Brexit, colocando em certo sentido o Reino Unido numa situação ainda mais desvantajosa do que quando fazia parte do bloco, já que desta feita não tem voz na tomada de decisões, porque formalmente não faz parte da União.
Acusado de tentar arrastar a Grã-Bretanha de volta para a União Europeia, ao abrigo do seu acordo de “reinicialização” com Bruxelas, o primeiro-ministro revelou o acordo em Londres, insistindo na tese deveras discutível de que se trata de uma situação vantajosa para a Grã-Bretanha, que proporcionaria um impulso de 9 mil milhões de libras à economia do país.
Ladeado pelos presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Starmer disse que o pacto mostrava que o Reino Unido estava “de volta à cena mundial”. Mas os críticos agarraram-se às cláusulas do acordo que dão aos pescadores europeus acesso às águas costeiras do Reino Unido até 2038 e permitem a Bruxelas impor sanções às exportações britânicas se algum governo futuro decidir reescrever o acordo.
O acordo obrigará também a Grã-Bretanha a seguir as regras da UE em matéria de padrões alimentares e a submeter-se à jurisdição do Tribunal de Justiça Europeu. Londres e Bruxelas concordaram que haveria negociações futuras sobre um esquema de mobilidade juvenil, segundo o qual um número desconhecido de cidadãos da UE poderiam vir para a Grã-Bretanha todos os anos.
Starmer insistiu que os números seriam limitados e as estadias teriam um limite de tempo. Mas Bruxelas quer que os jovens europeus possam trazer as suas famílias como parte do acordo.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, sugeriu que a UE gostaria de ver novos acordos que conduzissem a um alinhamento mais estreito, afirmando:
“Estamos a virar uma página. Estamos a abrir um novo capítulo na nossa relação única.”
Ainda não se sabe quanto é que os contribuintes britânicos vão ter de pagar pelo acordo — com uma estimativa a colocar a conta em até 16 mil milhões de libras só no primeiro ano.
Richard Tice, vice-líder do Reform UK, afirmou:
“Starmer está a tentar dizer adeus ao Brexit. É uma enorme traição; é uma rendição turbinada. Estamos a reentrar na UE, em tudo, menos no nome, pela porta das traseiras.”
‘Refém de Bruxelas’
Reagindo ao acordo, Boris Johnson disse que Keir Starmer era refém de Bruxelas e que o Primeiro-Ministro é responsável por uma “traição terrível” que “sacrificou os interesses pesqueiros do Reino Unido”, comparando a circunstância com o pacto que o líder trabalhista firmou com as Maurícias para entregar a soberania das Ilhas Chagos.
“Acho que é uma traição completa e deliberada ao Brexit, e vai contra o que o primeiro-ministro disse que faria.”
De facto, nas eleições de 2024, Starmer disse que não voltaria atrás no Brexit e nas liberdades que o povo britânico conquistou nesse referendo. Mas como leninista-globalista dos sete costados fez exactamente o contrário.
Num artigo para o The Telegraph, Kemi Badenoch, líder do Partido Conservador, afirmou:
“Sob o governo trabalhista de Keir Starmer, não estamos a avançar. Estamos a ser arrastados para trás. Silenciosamente, vergonhosamente e deliberadamente. Starmer reabriu as feridas antigas do Brexit. Não para as curar, mas para ceder terreno que já tínhamos conquistado. Aquilo a que chama pragmatismo é, na verdade, capitulação. O que ele afirma ser progresso é, na verdade, um passo atrás. O acordo laboral deixa a porta entreaberta para o regresso à livre circulação na UE – incluindo a possibilidade de admitir migrantes de algumas das regiões mais pobres da Europa, potencialmente juntamente com os seus dependentes. Isto não é uma parceria. É uma humilhação. Este não foi o acordo pelo qual o país votou. Não é o futuro que nos foi prometido. E vamos revertê-lo.”
Impulso ao PIB ou derrocada negocial?
Espera-se que o acordo aumente o PIB britânico entre 0,2% a 0,3%. No entanto, alguns economistas suspeitam dessas alegações e esse ganho, mesmo que seja realista, pode não dar a Rachel Reeves, a chanceler do tesouro, margem fiscal suficiente para evitar aumentar novamente os impostos no Orçamento que será votado Outubro.
Isto acontece depois de muitos dos parlamentares trabalhistas terem receado que o acordo com a UE possa acabar por levar os eleitores a virarem-se para o Reform UK.
As negociações sobre o tão prometido “reinício” da UE decorreram até ao último momento, com as disputas sobre questões das pescas a prolongarem-se até de madrugada. O primeiro-ministro britânico queria inicialmente prolongar os direitos dos pescadores europeus de entrar em águas britânicas por um ano apenas, admitindo posteriormente que esse prazo fosse esticado para quatro anos, sob pressão dos franceses. Mas, após uma emboscada diplomática a altas horas da noite, os negociadores britânicos foram obrigados a aceitar uma prorrogação de 12 anos.
Elspeth Macdonald, presidente executiva da Federação Escocesa de Pescadores, descreveu o acordo como um “espectáculo de horrores” e uma “vergonha”.
O primeiro-ministro alardeou o seu acordo como um incentivo para os turistas, dizendo que permitiria aos viajantes do Reino Unido utilizar portões electrónicos quando viajam para a Europa. Mas depois descobriu-se que isso dependia da concordância de cada país, e a Espanha disse que era muito cedo para dizer se concordaria.
O acordo, segundo o governo, vai impulsionar a economia em 9 mil milhões de libras até 2040, e a Grã-Bretanha concordou com o “alinhamento dinâmico” com Bruxelas em áreas como os padrões alimentares e energéticos.
Os passaportes para animais de estimação serão introduzidos para cães e gatos no Reino Unido, e as empresas poderão voltar a vender hambúrgueres e salsichas no bloco.
O Primeiro-Ministro afirmou:
“É tempo de olhar para o futuro. Deixar para trás os velhos debates e disputas políticas e encontrar soluções práticas e de bom senso que sejam as melhores para o povo britânico. Estamos prontos para trabalhar com parceiros se isso significar que podemos melhorar a vida das pessoas aqui no nosso país”.
Reduzir a burocracia no sector alimentar.
Starmer afirmou também que o acordo “dá um acesso sem precedentes ao mercado da UE, o melhor de qualquer país” fora do bloco ou da Associação Europeia de Livre Comércio, que resultará em “preços mais baixos dos alimentos em caixa”, tornando o comércio com a UE mais barato e mais fácil, e reduzirá as facturas de energia através da cooperação com Bruxelas.
O acordo incluiu uma redução na burocracia nas exportações e importações de alimentos e bebidas entre o Reino Unido e a UE. Alguns controlos de rotina em produtos vegetais e animais serão removidos e os hambúrgueres e salsichas britânicos serão novamente permitidos na UE.
A ligação dos esquemas de comércio de emissões do Reino Unido e da UE significa que as empresas britânicas não serão afectadas pelo imposto sobre o carbono de Bruxelas no próximo ano. Uma parceria de segurança e defesa abrirá caminho para que as empresas de armamento do Reino Unido possam concorrer a negócios relacionados com o novo Fundo de Acção de Segurança para a Europa proposto pela UE no valor de 150 mil milhões de libras.
Os dois lados concordaram também em trabalhar para que o Reino Unido se associe ao programa de intercâmbio de estudantes Erasmus+. O acordo exige “alinhamento dinâmico” – o Reino Unido seguindo as regras definidas por Bruxelas – em áreas que abrangem o acordo de segurança alimentar, o comércio de emissões e a potencial cooperação no mercado da electricidade.
Isto significaria que o Reino Unido cumpriria regras da UE, sem ter nos processo de decisão do bloco qualquer influência. O Reino Unido terá também de contribuir para o custo de administração dos programas de que faz parte.
Confirmando a fractura entre os agentes corporativos e a vontade das massas que é gritante em todo o Ocidente, os grupos empresariais acolheram bem o acordo, com Helen Dickinson, do British Retail Consortium, a afirmar que
“o acordo ajudará a manter os custos baixos”.
Rain Newton-Smith, presidente executivo da Confederação da Indústria Britânica, afirmou:
“Depois da turbulência da última década, a cimeira de hoje marca um salto em frente na relação UE-Reino Unido”.
Mais uma vez, as elites ignoram declaradamente a vontade popular, embora desta vez, essa volição autoritária possa vir com um preço e há neste momento muita gente no Reino Unido, à esquerda e à direita, a garantir que o primeiro-ministro tem os dias contados. Seja como for, já serviu os interesses de quem o levou ao poder, anulando se não formalmente, para quase todos os efeitos, e com claro prejuízo do seu país, os resultados do referendo de 2016.
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