No lançamento dos primeiros temas musicais do projecto ContraCantigas, é pertinente uma pequena introdução a este esforço de criação.

O ContraCultura nasce de uma vontade, em certo sentido indomável, de fazer a reportagem desta espécie deprimente de fim dos tempos que testemunhamos no Século XXI. Mas também, de contrariar essa tendência com produção de cultura, com ênfase na intervenção política e social. Nos dois anos da sua actividade, o Contra tem publicado, se não com a constância desejada, com a regularidade possível, ensaios, manifestos, crítica literária e poesia, que se enquadram nos valores filosóficos, morais e ideológicos que defende e na crítica que faz às tendências decadentes das artes contemporâneas.

Esta rubrica vem assim reforçar essa produção. Trata-se sem dúvida de um esforço amador, mas determinado em criar música alternativa e de intervenção, que escape às narrativas dominantes e à tirania do pós-modernismo.

Música, letra e edição vídeo de todos os temas que serão publicados são, salvo quando indicado, da exclusiva autoria do Contra.

O segundo tema musical do projecto é uma espécie de carta de amor a Lisboa, escrita a tinta permanente sobre a laje incandescente da Praça do Comércio e perdida depois, pelas ruas do tempo que voa.

 

 

TERREIRO DO PAÇO

Levo a vida passo a passo:
gasto as solas ao compasso
da cidade que pulsa e arde.
Da cidade que pulsa e arde.
O Paço que passeio é um terraço,
o chão que piso é de ferro e aço
e vibra e brilha ao sol da tarde.
E vibra e brilha ao sol da tarde.

Terreiro do Paço. Terreiro do Paço.
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Paro e tiro um cigarro do maço:
transitam transeuntes em cansaço
com a pressa que levam na boa.
Com a pressa que levam na boa.
Vão d’ombros caídos pelo Paço,
o destino é um cheirinho de bagaço
e de sonhos traídos à toa.
E de sonhos traídos à toa.

Terreiro do Paço. Terreiro do Paço.
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Este é o movimento escasso,
é a praça que devagar devasso,
são as ruas do tempo que voa.
São as ruas do tempo que voa.
O futuro é um buraco no espaço,
esta é a distância que eu abraço
e roubo aos deuses de Lisboa.
E roubo aos deuses de Lisboa.

O Paço que passeio é um terraço,
o chão que piso é de ferro e aço:
Terreiro do Paço, Terreiro do Paço,
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Já não sei o que faço.