Fez ontem, 1 de Setembro de 2024, precisamente dois anos que o Contra abriu esta página inconformada à sua gentil audiência. Não seria porém de bom gosto, dado o cenário dantesco que experimentamos, guardarmos este momento para auto-congratulações espúrias, celebrações desadequadas ou ordinários e desinteressantes “balanços de actividade”. O que foi feito está feito, e, pelos vistos, não foi tão bem feito como isso.

Convém explicar esta premissa, para que não se confunda realismo com derrotismo.

Aqueles que no Ocidente travam o combate, fundamental no percurso das civilizações, pela liberdade, pela autonomia individual, pela dignidade do ser humano – do ponto de vista cristão – e pela sobrevivência de princípios que até aqui há alguns anos eram considerados sagrados, e que permanecem gravados nas maior parte das constituições dos países europeus e americanos, mas que estão a ser ignorados ou cancelados a uma velocidade vertiginosa, deverão reconhecer que estão a perder a guerra. O reconhecimento é de importância fundamental, porque esta contenda é de carácter espiritual e – por isso – será a mais importante de todas as contendas, mesmo que não seja de agora, mesmo que seja um conflito tão antigo como é antiga a rábula do Sapiens.

Muito bem instalados nas super-estruturas do poder, tiranos de inspiração leninista-globalista estão a apertar mais e mais a mordaça, a cada dia que passa. A vontade totalitária das elites neo-liberais, que já nem sequer é disfarçada com motivações humanistas ou promessas de amanhãs que cantam, reina agora absoluta em Portugal, em Espanha, em França, na Alemanha, no Reino Unido, na Irlanda, na Polónia, na totalidade dos estados do Báltico e dos países nórdicos, nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil e na Austrália, para citar apenas os exemplos mais claros.

A liberdade de expressão está sob fogo cerrado, com a perseguição judicial de Pavel Durov, o fecho do X no Brasil, as ameaças, que em breve serão concretizadas, da Comissão Europeia a Elon Musk e a instauração de um regime totalitário no Reino Unido.

Estamos todos a ser implacavelmente fascizados. Mesmo os que não estão a dar por isso. Mesmo os que estão, na sua maior parte equivocados ou hipnotizados, do lado distópico da barricada. Todos.

E as coisas vão piorar muito, durante muito mais tempo, antes de melhorarem. De tal forma que é muito provável este triste fado: Quando as coisas melhorarem, porque Deus é grande e tem insónias, o ContraCultura já nem estará cá para festejar esse triunfo.

Não podemos portanto considerar que os esforços desenvolvidos até aqui tenham sido bem sucedidos e, assim sendo, não é possível ver o ContraCultura como um projecto de resultados felizes, já que, mesmo na sua quântica responsabilidade, faz parte de um movimento falhado, que podemos chamar populista, para simplificar a conversa, de parar o sinistro movimento histórico que, como um rolo compressor das almas, tem esmagado até a relação que as pessoas mantêm com a realidade, invertendo a semântica e a gramática, os conceitos de Bem e de Mal, a verdade sobre a condição humana (na vertente espiritual como na biológica) e os factos do seu percurso histórico.

Isto não quer dizer, muito pelo contrário, que se arrumem as luvas no cacifo deste obscuro clube de combate. Há que continuar a golpear os inimigos da civilização cristã, de base greco-romana.

E se é verdade que será sempre diminuto o labor do Contra perante a grande fenomenologia dos eventos contemporâneos e o formidável poder das forças luciferinas que nos atormentam o presente e condenam o futuro, não deixa de ser consolador saber que caminhamos aos ombros de gigantes e na boa companhia de Cristo, de Platão, de Eurípedes, de Epícteto, de Diógenes, de Cícero, de Séneca, de Marco Aurélio, de Santo Agostinho e de S. Tomás de Aquino. Caramba, até Confúcio pode ser chamado para esta trincheira, na verdade.

Será porém fundamental um reajustamento estratégico. Continuar como até aqui seria como acrescentar mais um parágrafo à enciclopédica definição de loucura.

Nesse sentido, o ContraCultura, daqui para a frente, vai procurar publicar mais conteúdos que respeitem o espírito inicial do seu manifesto, e dos quais foi desviado pela insanidade dos acontecimentos contemporâneos e pela lógica imediatista das audiências. Quer isto dizer: Vamos tentar criar cultura, em vez de nos limitar-mos à sua crítica. Vamos tentar publicar menos noticiário e mais análise. Menos política e mais história, filosofia, literatura.

Porque, também como sempre teimámos em sublinhar, esta guerra é cultural, muito antes de ser ideológica.

Neste contexto, entre os conteúdos que estamos a preparar para oferecer aos nossos queridos leitores, destacamos dois ensaios visuais de Bruno Santos, que se vão estender por vários capítulos, as crónicas dos nossos três espadachins brasileiros, Marcos Paulo Candelouro, Paulo H. Santos e Walter Biancardine; uma nova rubrica de temas musicais originais (ContraCantigas); uma série de recensões críticas às biografias de Fernando Pessoa publicadas nos últimos anos e outros conteúdos significativos sobre o imortal poeta; uma colecção de textos sobre os primeiros imperadores romanos, com base no célebre registo histórico de Suetónio, “Os Doze Césares”; e vários ensaios sobre história que se vão debruçar sobre temas tão díspares como a inquisição, a fundação da nacionalidade portuguesa ou as revoluções que deram origem às democracias liberais do Ocidente.

Serão também publicados conteúdos mais pessoais, da autoria do publisher deste site editorial, como “A discoteca da minha vida”, uma viagem de quase meio século pela música pop/rock, uma extensa colectânea de haikus que têm sido publicados ad hoc no Blogville na última década e meia, e um conjunto de poemas que vão dar continuidade à rubrica ContraVersos.

No entretanto, contribuições relevantes sobre ciência política, da autoria de Jorge Pinto, e intervenções sobre a actualidade de Nuno Matos Pereira são também de prever.

A este propósito, o Contra tem que agradecer a inestimável colaboração e a generosidade imensa destes gentis colaboradores, que de forma desinteressada (o Contra não tem receitas pelo que não pode compensar materialmente os seus autores) enriquecem a publicação com o seu talento, coragem e voluntarismo. Muito e muito obrigado, amigos.

Dado que é mais morosa a pesquisa e a redacção de artigos de fundo sobre temas mais ambiciosos do que aqueles ligados à mera denúncia dos crimes contra a humanidade que as elites globalistas perpetram diariamente, é possível que o Contra publique menos conteúdos, em média, do que tem estado a fazer até aqui. Vamos tentar contrariar essa natural tendência com um esforço acrescido, que a estimada audiência merece completamente.

Seja como for, que não se espere do ContraCultura uma acto de rendição. Lutar por aquilo em que acreditamos, com a convicção de que lutamos pela verdade cristã, é um dever moral.

E eu insisto em dormir pacificado.

 

PAULO HASSE PAIXÃO
Publisher . ContraCultura