A convite de Luís M. Gagliardini Graça, o Contra foi convidado a dissertar sobre o rumo civilizacional do Ocidente, no Real Clube de Campo D. Carlos. O gratificante encontro, que reuniu um ilustre conjunto de cidadãos acordados para as ameaças da realidade social, política e económica da actualidade, teve lugar na passada sexta-feira, 28 de Junho. O vídeo em baixo documenta o evento.
O ContraCultura agredece ao Luís M. Gagliardini Graça e ao Nuno Oliveira esta oportunidade de exercer o livre arbítrio, e a todos os presentes pela cortês atenção que dedicaram ao extenso discursar e pela intervenção pertinente no momento posterior de debate de ideias.
Segue-se o guião da alocução.
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Quo Vadis, Ocidente?
“Uma grande civilização não é conquistada por fora até se ter destruído a si própria por dentro.”
Will Durant
Antes da queda, o apogeu
Porque devemos saber de onde viemos para saber para onde vamos.
A civilização mais bem sucedida da História:
• Índices recordistas de prosperidade per capita;
• Mobilidade social, liberdade de expressão e de religião;
• Democracia de base constitucional com garantias universais (género, raça e classe social), consolidados sobre o direito à propriedade;
• Desenvolvimento incomparável da ciência e da tecnologia;• Acesso ao conhecimento (universidades, imprensa, web);
• Realizações artísticas ímpares e democratização do acesso à cultura;• Domínio global (filosófico, moral, cultural, tecnológico, militar).
Contrato Social
• Conceito de Nação – Estável, étnica e culturalmente coerente e com fronteiras fixas, por princípio invioláveis;
• Estado garante infra-estruturas e segurança em troca de um regime de tributação sobre os rendimentos;
• Democracia representativa em que os eleitos defendem os interesses dos eleitores;
• Incentivo à livre iniciativa e à actividade capitalista moderado pela protecção social – de inspiração cristã – dos mais desfavorecidos;
• Separação de poderes, com aparelho judicial independente do poder político e imprensa livre, actuando como fiéis da balança.
“No que diz respeito à riqueza, nenhum cidadão será rico o suficiente para comprar outro, e nenhum cidadão será suficientemente pobre para ser forçado a vender-se.”
Jean-Jacques Rousseau
Um declínio de triunfos feito.
Apogeus que criam decadências:
• Nas ciências: Materialismo positivista resultante do iluminismo cancela outras abordagens à teoria do conhecimento;
• Nas artes: Triunfos estéticos do Barroco e do Romântico conduzem à procura de caminhos disruptivos e esotéricos, desviados dos canônes clássicos;
• Na economia: Sucesso do modelo capitalista gera grandes conglomerados económicos, pela sua dimensão dependentes de investimentos públicos e por isso, eminentemente corporativistas;
• Na política: Uníssono sobre as virtudes da democracia conduz à falência da inquirição e à perpetuação de políticos corruptos, legitimados pelo voto e à sobredimensão do estado.
• Domínio cultural, económico, tecnológico e militar traduz hegemonia global do Ocidente, que será o motor da sua crítica (esclavagismo, colonização, imperialismo).
• Triunfos militares e políticos em sucessivas guerras, quentes e frias, projectam inevitavelmente as nações mais poderosas do Ocidente para uma certa sobranceria e visão unívoca da realidade global.
• Progressivo corporativismo das sociedades ocidentais, e convicção de que estão do ‘lado certo da História’, reforçam essa crítica, consubstanciada por ideologias niilistas e marxistas que sempre estiveram presentes no seu seio e pelos mitos do apocalipse climático, da superpopulação e da culpa do homem branco.
“Quanto mais corrupto é o estado, mais numerosas as suas leis.”
Públio Cornélio Tácito
A queda: Guerra cultural e suicídio moral.
• Triunfo do pós-modernismo conduziu ao relativismo estético e ao cancelamento do ‘Belo e da Consolação’;
• Triunfo do capitalismo produziu sociedades regidas por valores estritamente materiais e estilos de vida baseados no consumo;
• Triunfo da ciência levou ao equívoco de que a religião já não era necessária à navegação existencial;
• Triunfo das indústrias do entretenimento promoveu o endeusamento, espúrio, de actores, atletas e outros protagonistas da vida pública;
• As igrejas foram assim esvaziadas na directa proporção das multidões que correram para centros comerciais e estádios de futebol.
• Como resultado, foi gerado um modelo de sociedade sem Deus, e – logo – moralmente relativista;
• Esta tendência foi exarcebada por academias ideologicamente capturadas por radicais de esquerda e infiltração de forças não cristãs ou anti-cristãs nas superestruturas políticas, corporativas e mediáticas;
• O revisionismo histórico, destinado a diminuir ou adulterar o papel do Ocidente no percurso das nações encontrou assim eco tanto nas academias como nas indústrias de entretenimento e informação.
“Que será do homem sem Deus e sem a imortalidade? Tudo é permitido nesse caso, tudo é lícito.”
Fiódor Dostoiévski
A queda: Globalismo e substituição demográfica.
O processo de globalização e desvalorização das fronteiras das nações, iniciada pela administração Clinton nos anos 90, foi consequência de um fenómeno anterior – o triunfo do capital anónimo sobre as grandes empresas, que passaram a ter como único objectivo o lucro.
Neste contexto, a globalização visava, numa primeira fase, a deslocação dos centros industriais ocidentais para países onde a mão de obra fosse mais barata, de forma a exponenciar os rendimentos dos accionistas. Logo aí o processo teve como castigo o desemprego da classe operária nas nações ocidentais e como recompensa o aumento dos lucros dos accionistas, que passaram a favorecer, uma visão não local da sua actividade.
Intensificada pelos poderes instituídos nas duas primeiras décadas do século XXI, a segunda fase da globalização passou pela importação massiva de povos do Oriente e de África para a Europa e os EUA, com consequências profundas no tecido social, económico, político e cultural do Ocidente, destacando-se:
• Desagregação social e polarização política;
• Empobrecimento das classes mais baixas pela queda dos salários, provocada pela abundância de mão-de-obra não qualificada;• Aumento dos custos com a habitação e dificuldade de acesso à propriedade;
• Aumento exponencial da insegurança e das taxas de criminalidade.
Na terceira década do século XXI assistimos a uma terceira fase da globalização, a da declarada substituição demográfica, dos nativos pelos migrantes, claramente destinada a alterar os equilibrios eleitorais das nações ocidentais, enfraquecer a identidade dos povos e os seus valores históricos e culturais, aniquilar as tradições cristãs locais, devolver as sociedades à lógica tribal e empobrecer as classes médias.
Este processo de erosão social visa a mais fácil instauração de regimes de inspiração totalitária, e das suas políticas ambientais draconianas, mandatos sanitários autocráticos, restrições à liberdade de
expressão e de movimento, bem como um aumento da vigilância e do controlo digital dos cidadãos.
“O problema é que os executivos da televisão meteram na cabeça que se um programa tem como apresentador um rapaz heterossexual louro de olhos azuis, o outro apresentador tem que ser uma lésbica negra muçulmana.”
Jeremy Clarkson
A queda: O triunfo da propaganda e o fim da ciência.
O controlo, manipulação, adulteração e obliteração da informação e do livre discurso não são fenómenos novos, embora nas sociedades ocidentais tenham sido combatidos, durante séculos, por forças
libertárias. Mas no século XXI voltamos a assistir a um decaimento dessa tradição liberal, com uma intensificação da censura e da desinformação e com a criminalização do discurso.
A imprensa, mal ou bem considerada durante décadas como um vector de afirmação de verdades factuais, e também como um instrumento de controlo de abusos de poder e regulação da saúde das democracias, cedeu à pressão corporativa e é hoje um instrumento de propaganda dos regimes neoliberais.
Esse decaimento foi especialmente transparente durante a pandemia, quando as vozes dissidentes, frequentemente qualificadas, foram canceladas pelo uníssono institucional e afastadas do fórum público. À imprensa corporativa juntaram-se as grandes empresas tecnológicas, num esforço de censura e supressão da liberdade de expressão que, em escala, não tem paralelo na história da comunicação humana. Os media, a par com as academias e os poderes instituídos, constituíram um coro opressor na defesa de vários logros, entre os quais o carácter “seguro e eficaz” das vacinas mRNA, que na verdade não são vacinas, nem são seguras, nem foram eficazes.
Esta campanha de sovietização do fórum público teve vários efeitos perversos:
• A atomização da opinião pública e a marginalização da dissidência;
• A descredibilização da ciência, forçada de forma dogmática,dir-se-ia religiosa, sobre as massas e politizada até à falência de qualquer vestígio de objectividade;
• A explosão da desconfiança em relação às instituições públicas, principalmente aquelas ligadas à saúde;• A proliferação de rumores e teorias da conspiração, e a sua tendência para se mostrarem factuais com o correr do tempo;
• A desintegração de consensos fundamentais sobre os quais uma sociedade deverá depender, como por exemplo, o que diz respeito ao benefício das vacinas.
“A ciência é o credo na ignorância dos peritos.”
Richard Feynman
A queda: A tirania das oligarquias.
É evidente que somos hoje regidos por elites com ambições totalitárias, que têm a humanidade em má conta e os seus eleitores em péssima consideração. Esta super-estrutura de políticos alienados, bilionários sinistros, estrelas de Hollywwod, corretores de Wall Street, tecnocratas de Silicon Valley, apparatchiks de Bruxelas, propagandistas da imprensa e activistas da infelicidade humana, consolidaram o seu poder pela falência dos mecanismos clássicos do processo democrático.
Crise de representação: Os políticos contemporâneos, neoliberais mas também muitos dos ditos conservadores, desistiram de representar os seus eleitores, utilizando os seus mandatos em favor da agenda globalista.
Interferência eleitoral e desvalorização do voto: O processo eleitoral sofre actualmente de várias corruptelas, no Ocidente. Seja pela censura, pela desinformação, pela obliteração de informação que não sirva as narrativas dos poderes intitídos, pela alteração das realidades demográficas das nações através da imigração em massa ou, muito simplesmente, pela fraude eleitoral, a verdade é que o voto está, progressivamente, a perder valor e significado.
Na Europa, têm-se registado dezenas de exemplos de primeiros-ministros e chefes de estado que não foram eleitos (Inglaterra e Escócia, por exemplo) ou que governam sem a vontade explícita dos eleitores, graças a alianças profanas com a extrema-esquerda (Portugal, Espanha, Alemanha, França, Polónia). Existem também casos em que os líderes populistas, mesmo quando ganham eleições ou conseguem cativar significativas faixas do eleitorado, são impedidos de aceder ao poder, como acontece agora nos Países Baixos e em Portugal.
Perseguição política: Enquanto a perseguição judicial de opositores políticos foi vista durante décadas como um método característico de regimes totalitários, é hoje praxis corrente dos regimes globalistas. Este fenómeno é especialmente notório nos países anglos-axónicos, onde muito milhares de pessoas estão presas por crimes de opinião.
Corporativismo: O chamado estado corporativo foi também durante todo o século XX associado a regimes ditatoriais. Mas nas primeiras décadas deste século as grandes corporações, a comunicação social e o estado trabalham intimamente e em doentio uníssono, num conluio de interesses e agendas que lembram os ideais do fascismo social-nacionalista dos anos 30.
Traição aos mandatos: Outra tendência que deturpa o espírito das democracias é a dos políticos que são eleitos com uma plataforma ideológica, para a desrespeitarem integralmente logo que ascendem ao poder, invalidando assim a vontade popular. Os casos de Giorgia Meloni em Itália, de Boris Johnson no Reino Unido e de boa parte dos congressistas republicanos nos EUA são a este título notáveis.
Unipartidarismo: Das variáveis aqui enumeradas resulta a instalação de um regime unipartidário na grande maioria das nações ocidentais, no qual ecoa em uníssono a mesma agenda sobre as questões centrais da sociedade, da economia e da natureza humana. Convido-vos a descobrir um governo de qualquer país ocidental, com excepção da Hungria, que não esteja de acordo com os seguintes tópicos:
• Ideologia de Género
• Diversidade, Equidade e Inclusão
• Imigração e demografia
• Alterações climáticas
• Guerra na Ucrânia
• Política monetária
• Política fiscal
“Se todos pensam igual ninguém está a pensar.”
George S. Patton
A queda: Despesismo e declínio económico.
O declínio e a queda da Civilização Ocidental também passa pela vertente económica e industrial e nestas áreas há que destacar alguns vectores de disfunção e falência técnica.
Os excessos do Estado Providência: Do espírito de solidariedade social, de inspiração cristã, que se recomenda para que as sociedades mantenham coesão e sejam leais com a sua vocação humanista, os
estados ocidentais transitaram, no século XXI, para a esquizofrénica condição de patrocinadores da subsídio-dependência. As sociedades são hoje ultra-subsidiadas, fenómeno que alimenta o parasitismo, a imobilidade social, as baixas taxas de produtividade e a falência da função social do indivído, só para aumentar o despesismo do estado e, logo, a factura ao contribuinte.
Dívidas soberanas astronómicas: o despesismo da fazenda pública tem consequências nefastas e transversais e uma delas é o aumento exponencial das dívidas soberanas, que no caso dos EUA ascende neste momento a mais de 30 mil biliões de dólares.
Febril emissão de moeda: De forma a sutentarem a insustentável despesa e a consequente dívida, os bancos centrais norte americano e europeu têm emitido moeda como se não houvesse amanhã e como se disso não resultassem crises inflaccionárias, com os resultados que estão à vista e que têm como primeira consequência o dramático empobrecimento dos povos.
Perda de influência económica – Utilizando a moeda de referência mundial e um dos instrumentos de domínio global dos Estados Unidos como ferramenta política e arma de guerra, o regime Biden desvalorizou o dólar, que é agora encarado com desconfiança pelos países fora da esfera ocidental.
Industrialização e inovação em nações rivais – Ao transferirem as indústrias para países estrangeiros de mão de obra barata, as corporações globalistas ofereceram a oportunidade do desenvolvimento industrial e económico de nações rivais, como a China, que agora competem como pares nos mercados tecnológicos.
Políticas ambientais e energéticas catastróficas – A agenda verde das elites e a transição forçada para as energias renováveis, mais caras e que se mostram incapazes de responder às necessidades dos mercados, tem retirado competitividade às economias ocidentais e encarecido, desnecessariamente, os custos dos combustíveis fósseis.
Moeda digital – Como resposta à emergência das bitcoin e com a clara intenção de controlar o acesso ao dinheiro por parte dos cidadãos, os regimes globalistas por todo o Ocidente estão já a implementar os protocolos iniciais para a instauração de um sistema monetário exclusivamente digital, que associa a vertente fiduciária à identidade civil de cada indivíduo.
“Se entregares ao governo o deserto do Sahara em cinco anos terás escassez de areia.”
Milton Friedman
A queda: o culto da morte e a sedução do apocalipse.
O programa das elites globalistas faz culto da morte e desvaloriza o factor humano:
Do divórcio à destruição do núcleo familiar, do aborto à eutanásia, da esterelização aos métodos contraceptivos e à constante referência a um “desejável” decréscimo populacional; os ideiais progressistas passam invariavelmente por uma má vontade em relação à vida humana, que é consistementemente representada como uma espécie de praga, sem a qual até o próprio planeta viveria bem melhor.
O programa das elites globalistas é eminentemente trans-humano:
Robotização. Inteligência artificial. Reprodução in vitro. Digitalização do cérebro humano. Realidade virtual. Ciber-biologia. Ganho de função. Ideologia de género e cultura woke.
Todos estes tópicos vão numa só direcção: a anulação da condição humana e a adulteração da criação divina. Aprendizes de feiticeiro, as oligarquias da actualidade sonham em transformar o homem, atribui-lhe novas identidades, retirar-lhe função e desígnio, substitui-lo por algoritmos, desempregá-lo, aliená-lo, fazê-lo híbrido, torná-lo numa outra coisa.
O programa das elites globalistas é eminentemente escatológico:
O medo, a fome, a guerra, as situações de emergência são aliados naturais dos tiranos, historicamente, e, do apocalipse climático às pandemias, da guerra termonuclear ao extermínio da população humana por uma super-inteligência artificial ou alienígena, os tecnocratas dos corredores do poder no Ocidente consideram bem-vinda toda uma panóplia de catástrofes, às quais calculam, se calhar erradamente, sobreviver, e através das quais planeiam o reforço da sua autoridade, o prolongamento inconstitucional dos seus mandatos, e o domínio global.
E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, porém receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta.
Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta.
Estes combaterão contra o Cordeiro, o Cordeiro os vencerá.
Apocalipse de João . 17:12-14
Quo vadis? Distopia, armagedão ou uma nova idade das trevas?
No fim deste percurso, três cenários assustadores podem com toda a plausibilidade ser projectados:
• A implementação, mesmo que não formalmente declarada, mas operando de facto, de um regime totalitário, de inspiração orwelliana, que será concretizado primeiro no Ocidente, mas que insistirá na sua vocação global;
• A eclosão da Terceira Guerra Mundial, de carácter apocalíptico, dado o confronto directo entre potências nucleares;
• Um processo irreparável de declínio e queda civilizacional, que nos conduza de novo à condição tribal e à semelhança do que observámos na Europa após a queda do Império Romano.
“Os sábios dizem que quem quiser prever o futuro deve consultar o passado; pois os acontecimentos humanos assemelham-se sempre aos de tempos anteriores”.
Niccolò Machiavelli
Quo vadis? A possibilidade de um renascimento.
Os sinais.
Existem indícios de que as massas estão, se bem que lentamente,a rejeitar a agenda de cinzas das elites neoliberais, a saber:
• Relativo sucesso de partidos populistas ou verdadeiramente conservadores nos momentos eleitorais;
• Contestação das políticas ‘verdes’ das oligarquias globalistas por importantes sectores sócio-económicos;
• Procura crescente de canais de informação independentes e alternativos e queda das audiências da imprensa corporativa;
• Um acordar de sectores liberais/moderados/libertários da esquerda para os verdadeiros inimigos da civilização.
Uma solução para o problema do mal
Todo o cristão já foi agredido com esta pergunta:
Se Deus existe e é omnipotente e é a substância definitiva do bem absoluto, e se o Homem foi criado por Deus, porque raio permite Ele que o mal grasse no mundo?
Mas se o Homem fosse capaz apenas do bem, não era um homem, era um autómato. O mal existe como consequência inerente a um dos mais sagrados privilégios da condição humana: o livre arbítrio. É a liberdade de pensar isto ou aquilo, de agir assim ou assado, que nos garante o estatuto de animais conscientes e morais e, no reverso da medalha, que nos leva também ao erro e à queda.
Sem essa possibilidade, que seria de nós? Estaríamos limitados a cumprir um igual destino, a comungar das mesmas ideias, aprisionados num estrito leque de acções, estáticos sobre a existência como brinquedos de corda. Disciplinados e equalizados e obedientes como num sonho de Estaline.
A perfeição da criação divina está precisamente no facto de permitir a disfunção e – ainda assim – explodir de beleza e equilíbrio e funcionalidade. Como o cosmos vence, a cada momento do seu maravilhoso desenrolar, a entropia; a força moral do homem, um dom inato em todo o Sapiens, tem vencido, historicamente, a possibilidade apocalítica.
Porque não há redenção sem pecado, devemos confiar no desígnio transcendente, que justifica os horrores do presente em função de glórias futuras, e fazer o que estiver ao nosso alcance para proteger desinteressadamente o devir da espécie humana.
Não devemos porém
• Continuar a insistir nas fórmulas que a este momento nos trouxeram, num conformismo cego-surdo;
• Legitimar políticos e elites que na verdade nos desprezam;
• Assistir impavidamente à destruição de tudo o que consideramos sagrado e à erosão dos mecanismos constitucionais que nos garantiram direitos naturais e a liberdade para prosseguirmos os nossos destinos e manifestar os nossos pontos de vista;
• Permitir que as instituições de ensino corrompam os nossos filhos com ideologia de género, apocalipses climáticos, teorias críticas da raça ou o fardo do homem branco.
“Quando a tirania passa a lei, a rebelião é um dever.”
Thomas Jefferson
Como travar a batalha.
Procurar um regressso.
Todos, ou quase todos os actuais agentes da dissidência cultural partilham uma vontade de regresso. Enquanto os movimentos contraculturais do anos 60 e 70 e 80 procuravam a vanguarda, numa tentativa tipicamente progressista de acelerar o tempo, os actuais procuram a retaguarda, num esforço conservador para travar a marcha da história,que parece ter como destino mais um ciclo totalitário.
A contracultura do século XXI define-se assim como uma proposta de retorno às liberdades sagradas e individuais, aos costumes de base antropológica ou constitucional, aos credos e aos valores morais de uma era que se perdeu, numa viagem retro que se constitui como uma reacção, no sentido político da palavra.
Doze sugestões.
1. Sair das cidades, verdadeiros infernos de crime, decadência substituição demográfica e dirigismo totalitário;
2. Seguir os ensinamentos de Platão, Cristo e Kant, os três homens que basicamente constituíram a tradição filosófica ocidental: Platão fundou a ideia de que a verdade é eminentemente metafísica, Cristo deu a essa metafísica uma componente moral e Kant fez desse aparelho moral um imperativo categórico.
3. Saber dizer não quando a negativa é incontornável em função de valores e princípios que consideramos fundamentais.
4. Evitar as academias contemporâneas, fábricas de desempregados, desadaptados e inúteis;
5. Procurar carreiras profissionais independentes que escapem à gravidade das grandes corporações e fazer tudo o que nos seja possível para permanecermos livres e dissidentes;
6. Reconhecer os princípios transcendentes e universais da condiçãohumana e recusar uma visão estritamente materialista da vida;
7. Constituir família, honrar os compromissos a ela inerentes e fazer dela o núcleo fundamental do percurso existencial;
8. Recusar as referências culturais das elites globalistas e da imprensa corporativa, e o circo de alienação que propõem.
9. Adoptar a posição existencial de Epícteto, o grego antigo que nos ensinou que o poder consiste na capacidade dos outros em controlarem aquilo que desejamos;
10. Falar verdade: Sempre que dizemos uma mentira estamos a criar um problema para o futuro e a desvirtuar a relação entre a linguagem e a realidade;
11. Viver sem medo de morrer, nem que seja pela mais evidente das razões: A alma humana não termina no fim do corpo.
12. Ter em mente a célebre máxima de Marco Aurélio:
“O que fazemos em vida, ecoa na eternidade.”
Marco Aurélio
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