A Santa Sé pediu oficialmente desculpa a todos os que se ofenderam com um termo vulgar que o Papa Francisco terá usado para descrever a proliferação da homossexualidade  nos seminários católicos.

Durante uma conferência à porta fechada com os bispos italianos, na semana passada, o pontífice declarou a sua oposição à inscrição de homossexuais nos seminários, afirmando que neles já existe demasiada “frociaggine” (em italiano, “paneleirice”), segundo noticiaram vários meios de comunicação italianos na segunda-feira.

Na sequência de um protesto, o porta-voz do Papa, Matteo Bruni, emitiu uma declaração na terça-feira explicando que

“o Papa nunca teve a intenção de ofender ou de se exprimir em termos homofóbicos e pede desculpa àqueles que se sentiram ofendidos pela utilização de um termo, tal como foi referido por outros”.

Menos papista que o papa e, se possível, mais politicamente correcto do que Francisco, Bruni acrescentou:

“O Papa Francisco está ciente dos recentes artigos sobre uma conversa à porta fechada com os bispos da CEI. Como ele afirmou em muitas ocasiões, há lugar para todos na Igreja, para todos! Ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, há lugar para todos. Tal como somos, todos”.

Ora, é precisamente por causa desta volição inclusiva que o Papa, por uma vez, está carregado de razão e o lobby homossexual domina os corredores do poder da igreja católica. O facto de um termo proferido pelo papa numa conversa à porta fechada com os bispos italianos ter vindo a público sugere precisamente essa insidiosa presença.

Os jornais La Repubblica e Corriere della Sera, entre outros, citaram bispos italianos anónimos que afirmaram que o Papa tinha usado o termo “em tom de brincadeira”, enquanto justificava a proibição do Vaticano de os homossexuais exercerem o sacerdócio. Dos homossexuais que se assumem publicamente, claro, porque o que não faltam são padres homossexuais, como toda a gente sabe.

O actual pontífice nasceu Jorge Mario Bergoglio na Argentina e cresceu a falar espanhol como sua língua materna. Quando usa o italiano, o pontífice de 87 anos “fala muitas vezes informalmente, brinca usando gírias e até pregueja em privado”, segundo a Associated Press.

Desde 2005, o Vaticano proibiu as pessoas que “praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundas ou apoiam a chamada cultura gay” de se inscreverem em seminários ou de serem ordenadas como clérigos. Um documento recentemente adoptado pela Conferência Episcopal Italiana terá procurado redefinir a proibição, exigindo apenas o celibato.

Desde o início do seu papado, em 2013, o Papa Francisco tem-se destacado pela sua acção em prol da comunidade LGBT, desde o apoio aos católicos transgénero até à autorização para que os padres abençoem casais do mesmo sexo. Numa entrevista no ano passado, defendeu que a homossexualidade “não era um crime” – mas manteve que o catolicismo a considerava um pecado, tal como qualquer prática sexual fora do casamento.

No entanto, ainda no mês passado, a Igreja Católica Romana denunciou a barriga de aluguer e a chamada cirurgia de “afirmação do género” como estando ao mesmo nível do aborto e da eutanásia.