A China alunou uma nave espacial não tripulada no lado mais distante da Lua no Domingo, 1 de Junho, uma missão histórica que tem como objectivo recolher as primeiras amostras de rocha e solo do lado oculto do satélite natural da Terra.

A alunagem eleva o estatuto de potência espacial da China, no contexto da corrida global aos recursos da Lua, em que países como os Estados Unidos, a Rússia e a Índia esperam explorar os minerais lunares para sustentar missões espaciais a longo prazo e bases lunares na próxima década.

A sonda Chang’e-6, equipada com uma série de ferramentas e um propulsor incorporado, aterrou numa gigantesca cratera de impacto chamada Bacia do Pólo Sul-Aitken, no lado da lua virado para o espaço, às 6h23, hora de Pequim, segundo informou a Administração Espacial Nacional da China.

A missão “envolve muitas inovações de engenharia, riscos elevados e grandes dificuldades”, de acordo com um declaração publicada no site da agência, que acrescenta:

“As cargas úteis transportadas pelo módulo de aterragem Chang’e-6 funcionarão como planeado e levarão a cabo missões de exploração científica”.

A missão bem sucedida é a segunda da China no lado mais distante da lua, uma região que nenhum outro país alcançou e que está repleto de crateras profundas e escuras, o que torna as comunicações e as operações de alunagem e robótica mais difíceis.

A sonda Chang’e-6 foi lançada a 3 de Maio no foguetão Longa Marcha 5, a partir do Centro de Lançamento de Satélites de Wenchang, na ilha de Hainan, no sul da China, tendo atingido a vizinhança lunar cerca de uma semana mais tarde, antes de estreitar a sua órbita em preparação para a aterragem.

A Chang’e-6 é a terceira aterragem lunar este ano: O módulo de aterragem SLIM do Japão aterrou em Janeiro, seguido no mês seguinte por um módulo de aterragem da empresa americana Intuitive Machines.

 

Recolher amostras e ensinamentos.

Utilizando uma pá e um berbequim, a sonda Chang’e-6 terá como objectivo recolher 2 kg de material lunar ao longo de dois dias e trazê-lo de volta à Terra.

As amostras serão transferidas para um foguetão de propulsão que se encontra no topo da sonda e que será lançado de novo para o espaço, para se ligar a outra nave espacial em órbita lunar e regressar, com a aterragem na região chinesa da Mongólia Interior prevista para 25 de Junho.

Se tudo correr como planeado, a missão fornecerá à China um registo imaculado dos 4,5 mil milhões de anos de história da Lua e novas pistas sobre a formação do sistema solar. Permitirá também uma comparação sem precedentes entre a região escura e inexplorada e o lado da lua virado para a Terra, que é mais bem conhecido.

Um laboratório de simulação da sonda Chang’e-6 na Terra desenvolverá e verificará as estratégias de amostragem e os procedimentos de controlo do equipamento, utilizando uma réplica à escala real da área de amostragem com base nos resultados da exploração do ambiente, da distribuição das rochas e das condições do solo lunar em torno do local de aterragem.

A estratégia lunar da China inclui uma primeira missão tripulada por volta de 2030, num programa que conta com a Rússia como parceiro. Em 2020, a China efectuou a sua primeira missão de retorno de amostras lunares com a Chang’e-5, recolhendo amostras do lado mais próximo da Lua.

 

 

Entretanto, no Ocidente, atrasos e adiamentos.

O programa norte-americano Artemis prevê que uma nave tripulada irá aterrar na Lua no final de 2026, mas este prazo não tem qualquer viabilidade, dados os atrasos e problemas técnicos que têm afectado o projecto. Não obstante, a NASA estabeleceu parcerias com agências espaciais, incluindo as do Canadá, Europa e Japão, cujos astronautas se juntarão às tripulações americanas nas missões Artemis.

A Artemis depende em grande medida de empresas privadas, incluindo a SpaceX de Elon Musk, cujo foguetão Starship tem como objectivo tentar, esta década, a primeira aterragem de um astronauta desde a última missão Apollo da NASA, em 1972.

No Sábado, o multimilionário japonês Yusaku Maezawa cancelou uma missão privada à volta da Lua, que deveria ter utilizado o foguetão Starship da SpaceX, invocando incertezas de calendário no desenvolvimento do foguetão.

A Boeing e a NASA adiaram o primeiro lançamento tripulado da Starliner, uma nave destinada a tornar-se o segundo táxi espacial dos EUA para a órbita baixa da Terra, cujo voo inicial tem já foi por diversas vezes protelado.