Eric Voegelin (1901- 1985) foi um professor de filosofia política germano-americano. Formou-se em ciências políticas na Universidade de Viena, onde se tornou professor associado da faculdade de Direito.
A obra de Voegelin pode ser dividida em duas fases: A fase anterior à sua emigração para os EUA, durante a qual ele escreveu a ‘História das Ideias Políticas’ sobre o racismo e o estado autoritário, e a fase após a sua ida para os EUA, onde construiu uma visão política do mundo baseada na Religião e na História.
Voegelin trabalhou para explicar a violência política endémica do século XX, através de uma abordagem peculiar da filosofia política, da história e da consciência da história. Na visão de mundo de Voegelin, inicialmente atribui a uma falsa interpretação utópica do cristianismo a responsabilidade pelos movimentos totalitários como o nazismo e o comunismo. Voegelin rejeitou quaisquer rótulos ideológicos ou categorizações que leitores e seguidores tentassem impor ao seu trabalho.
Ao longo de sua vida, publicou dezenas de livros, ensaios e resenhas. Um dos seus primeiros trabalhos foi “As Religiões Políticas”, de 1938. A obra versava sobre as ideologias totalitárias como “religiões políticas”, devido às suas semelhanças estruturais com a religião. A “Ordem e História”, publicada em vários volumes (em inglês), permaneceu incompleta até o momento de sua morte, 29 anos depois do início da série. As suas palestras de 1951, publicadas como “The New Science of Politics”, são vistas como um prolegómenos da série “Ordem e História” e continuam a ser o seu trabalho mais conhecido.
Voegelin deixou muitos manuscritos inéditos, incluindo uma história de ideias políticas, que desde então foi publicada em oito volumes.
O pensamento de Voegelin não se encaixa facilmente em qualquer escola filosófica, embora alguns de seus leitores tenham encontrado semelhanças com autores como Ernst Cassirer, Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer.
Hannah Arendt foi uma das interlocutoras de Voegelin no temas do totalitarismo.
No início dos anos 50, Voegelin lê “As Origens do Totalitarismo” da filósofa alemã e escreve-lhe algumas cartas a fim de comentar o seu trabalho. Essas cartas são respondidas por Arendt e acabam por ser publicadas na Review of Politics. Voegelin discorda da forma como Arendt entende o totalitarismo, propondo uma nova abordagem, por meio daquilo que conhecemos como gnosticismo.
O tema sobre a gnose encontra-se inserido dentro de um contexto mais amplo: a importância da espiritualidade e suas consequências políticas. Voegelin recorre a Platão para afirmar que participamos da construção da História. Para Voegelin, o homem teria perdido o ponto de equilíbrio entre o transcendente e o imanente.[9]
Segundo Voegelin, para “compreender religiões políticas apropriadamente”, seria necessário “ampliar o conceito de religiosidade” e incluir não apenas “religiões de salvação, mas também todas aqueles fenómenos durante o desenvolvimento do Estado, que poderíamos pensar como religioso.” Com efeito, Voegelin distingue “religiões ultramundanas” das “religiões intramundanas”, e a última categoria incluiu todos os movimentos, mesmo aqueles que eram ateus e hostis à religião, mas que, no entanto, exibiam “experiências religiosas subjacentes ao seu comportamento”.
Assim, Voegelin não apenas ampliou o conceito do religioso, mas também adoptou o termo “religião política” extensivamente para definir várias formas de sacralização do poder, do Estado, e da política, do mundo clássico aos tempos modernos.