Nas últimas horas, a linha vermelha de um confronto directo entre a Rússia e o bloco ocidental parece estar a milímetros e as tensões diplomáticas nunca estiveram assim tão altas, desde que a Rússia iniciou a operação militar na Ucrânia.

O embaixador Pierre Levy foi convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, juntamente com o enviado britânico Nigel Casey, no contexto de animosidades crescentes sobre o conflito na Ucrânia. Os embaixadores foram vistos a visitar separadamente o edifício que alberga o ministério no centro de Moscovo, na segunda-feira. Não fizeram quaisquer comentários à imprensa no exterior.

De acordo com o comunicado russo sobre a reunião com Levy, a abordagem “destrutiva e provocadora” da França foi severamente criticada, já que a “retórica beligerante” da liderança francesa e as declarações provocatórias em torno do conflito na Ucrânia estão a levar a uma nova intensificação das tensões.

Segundo o documento, foi enfatizado que as tentativas das autoridades francesas de criar alguma “incerteza estratégica” para a Rússia com as suas declarações irresponsáveis sobre o possível envio de contingentes militares ocidentais para a Ucrânia “estão condenadas ao fracasso”, na medida em os objetivos da operação militar de Moscovo serão realizados, independentemente das pressões ocidentais.

Há meses que o Presidente francês Emmanuel Macron defende aquilo a que chama “ambiguidade estratégica” relativamente ao conflito na Ucrânia. A ideia é manter em aberto a opção de enviar tropas da NATO para a Ucrânia para evitar uma vitória russa.

Numa entrevista recente ao The Economist, Macron afirmou que a suposta dissuasão produzida pelo hipotético envio de tropas francesas é necessária para impedir uma vitória russa e evitar futuros ataques a outras nações – apesar de Moscovo negar que tenha qualquer intenção de o fazer.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, sugeriu numa entrevista no domingo que a retórica decorre do desejo de Macron de usar mensagens “russofóbicas” para impulsionar a posição francesa na UE.

Na segunda-feira, o Ministério da Defesa russo anunciou um exercício para testar a utilização de armas nucleares tácticas. O Presidente Vladimir Putin ordenou a realização dos exercícios após as “declarações e ameaças provocatórias” de responsáveis ocidentais, segundo o Ministério da Defesa.

 

Rússia faz ultimato militar ao Reino Unido.

Moscovo vai retaliar contra alvos britânicos na Ucrânia ou em qualquer outro lugar, se Kiev usar mísseis fornecidos pelo Reino Unido para atacar o território russo, segundo afirmou ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros ao embaixador de Londres.

O embaixador Nigel Casey foi chamado ao ministério na sequência das declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, à Reuters, segundo as quais a Ucrânia tem o direito de utilizar mísseis de longo alcance enviados pelo Reino Unido para atacar o interior da Rússia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo emitiu um comunicado após a reunião, em que podemos ler:

“Casey foi avisado de que a resposta aos ataques ucranianos que utilizem armas britânicas em território russo poderá ser qualquer instalação e equipamento militar britânico no território da Ucrânia e não só”.

Ou seja, Moscovo está a avisar os ingleses que pode inclusivamente retaliar nas ilhas britânicas.

Os Estados Unidos e os seus aliados tinham anteriormente estipulado limites geográficos para a utilização das armas de longo alcance entregues a Kiev, afirmando que estas só poderiam serusadas em territórios que a Ucrânia reivindica como seus – a Crimeia, as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e as regiões de Kherson e Zaporozhye.

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, as declarações contrárias de Cameron “reconheceram de facto o seu país como parte no conflito”.

A Rússia entende os comentários de Cameron como “prova de uma grave escalada e confirmação do crescente envolvimento de Londres em operações militares do lado de Kiev”, acrescentou o ministério.

Casey foi instado a “reflectir sobre as inevitáveis consequências catastróficas de tais medidas hostis de Londres e a refutar imediatamente, da forma mais decisiva e inequívoca, as declarações belicosas e provocadoras do chefe do Ministério dos Negócios Estrangeiros”.

 

Ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro: “Se houver uma guerra nuclear, todos morrerão e tudo será destruído, o que ninguém de bom senso pode desejar.”

O Ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto,  advertiu que a ameaça do Presidente francês, Emmanuel Macron, de enviar tropas da NATO para a Ucrânia corre o risco de desencadear a Terceira Guerra Mundial.

O diplomata húngaro afirmou que os comentários do líder francês representam uma escalada tremenda:

“Se um membro da NATO enviar tropas terrestres, será um confronto directo entre a NATO e a Rússia e será então a Terceira Guerra Mundial”.

Szijjarto também chamou a atenção para o facto de que um conflito deste tipo poderia provavelmente evoluir para um confronto nuclear.

“Sejamos claros: se houver uma guerra nuclear, tudo e todos estarão perdidos. Se houver uma guerra nuclear, todos morrerão e tudo será destruído, o que ninguém de bom senso pode desejar”.

Entretanto, altos funcionários do governo italiano juntaram-se ao número crescente de vozes proeminentes que condenam Macron pelos seus comentários. O vice-primeiro-ministro Matteo Salvini comentou assim as declarações do Presidente francês:

“Enviar soldados italianos para combater fora das fronteiras da UE? Seguir as obsessões de um líder europeu perigoso e desesperado como Macron? Não obrigado.”

Mais diplomata, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, também disse ao jornal Corriere della Sera:

“Não julgo um presidente de um país amigo como a França, mas não entendo o propósito e a utilidade dessas declarações, que objectivamente aumentam as tensões”.

 

Medvedev: “Ninguém poderá esconder-se no Capitólio, nem no Palácio do Eliseu, nem no 10 de Downing Street. Será uma catástrofe global.”

Dmitry Medvedev, o Presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, publicou no X um post que é eloquente sobre a actual disposição de Moscovo, e que o Contra traduz livremente, na sua totalidade:

O coro dos irresponsáveis bastardos das elites ocidentais que apelam ao envio das suas tropas para um país inexistente está a aumentar. Agora inclui membros do Congresso dos EUA, da administração francesa e britânica e alguns loucos dos Estados Bálticos e da Polónia. Apelam também à utilização activa dos seus mísseis, anteriormente entregues a banderovtsy, contra todo o território da Rússia.

E não se trata de uma exacerbação primaveril, mas de um cálculo cínico de dividendos políticos. Está a acontecer uma espécie de degradação total da classe dominante ocidental. Esta classe não quer mesmo fazer ligações lógicas entre pontos elementares. O envio das suas tropas para o território da Ucrânia significará o envolvimento directo dos seus países numa guerra, e nós teremos de responder a isso. E, infelizmente, não dentro das fronteiras da Ucrânia.

Nesse caso, nenhum deles poderá esconder-se nem no Capitólio, nem no Palácio do Eliseu, nem no 10 de Downing Street. Será uma catástrofe global.
Isto é algo que Kennedy e Khruschev conseguiram compreender há mais de 60 anos; e algo que os actuais idiotas infantis no poder no Ocidente não querem compreender.

E é por isso que hoje o Estado-Maior iniciou os preparativos para o exercício militar que inclui exercícios de preparação e utilização de armas nucleares não estratégicas.

 

 

Na frente ucraniana, a situação é desesperada.

Entretanto, a situação na frente ucraniana é desesperada e o constante avanço russo um facto que até os líderes militares ocidentais já não tentam esconder. O antigo comandante do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, General Sir Richard Barrons, afirmou que a Ucrânia corre um “sério risco” de ter de admitir a derrota para a Rússia este ano.

Barrons disse que o pessimismo está a começar a instalar-se entre a população, gerando um mal-estar geral e um sentimento de que a Ucrânia “não pode ganhar”.

O ex-secretário da Marinha norte-americana, Kenneth Braithwaite, afirmou a este propósito na semana passada:

“A Ucrânia poderia ser rapidamente dominada pela Rússia dentro de semanas”.

De facto, as forças militares russas estão agora a manobrar para capturar Kharkov, a segunda maior cidade da Ucrânia. No início de Abril, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que o seu governo estava “a fazer tudo o que podia” para impedir que os russos capturassem a cidade, mas as perspectivas sobre o sucesso dessa missão são cada vez mais sombrias.

O segmento do ‘Redacted’ de ontem à noite dedicado a este assunto é elucidativo sobre o ânimo das forças ucranianas, que contrasta com a irresponsabilidade assassina das elites em Washington, Londres, Paris e Bruxelas.