Por esta altura os populistas da câmara do representantes já devem estar arrependidos de ter corrido com Kevin McCarthy, só para instalar como líder da maioria republicana um impenitente traidor.

De facto, o speaker da Câmara dos representantes, Mike Johnson (R-LA), entregou no sábado ao Presidente Joe Biden um presente de 61 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia, invertendo a sua promessa de  nunca avançar com ajuda externa sem primeiro assegurar que a hemorragia na fronteira dos EUA com o México seria estancada.

Depois da votação, dezenas de democratas – e alguns republicanos – aplaudiram em euforia; gritando “Ucrânia”; e agitando bandeiras ucranianas. Johson, impotente e patético, só foi capaz deste tímido – e fingido – protesto:

“É uma violação do decoro agitar bandeiras no plenário”.

A parte da ajuda externa à Ucrânia foi aprovada por 311 votos contra 112.

Johnson, mais uma vez, violou a regra de Hastert. Apenas 101 republicanos votaram com Johnson, enquanto 112 – uma clara maioria – se opuseram.

A regra de Hastert diz que o Presidente da Câmara não marcará uma votação em plenário para qualquer projecto-lei que não tenha o apoio da maioria do seu partido – mesmo que a maioria dos membros da Câmara votasse a favor da sua aprovação.

Os membros republicanos da Câmara fizeram circular um documento que traçava uma cronologia da insistência repetida de Johnson em que a Câmara não avançaria com um pacote de ajuda externa antes de garantir a segurança da fronteira sul dos Estados Unidos. Mas Johnson começou a vacilar publicamente no início de Março, após uma reunião na Casa Branca a 28 de Fevereiro. A sua reviravolta segue-se a meses de preparação por parte da Casa Branca e dos republicanos do establishment.

Um representante que quis manter o anonimato disse ao Politico:

“Há meses que trabalhamos com ele para o levar até lá. O projecto-lei de Johnson dá a Biden uma grande vitória na política externa que lhe escapou durante um ano”.

A reeducação de Mike Johnson pela Casa Branca e pelos serviços secretos começou logo que ele se sentou na cadeira de speaker, de acordo com o Politico:

“A administração realizou várias sessões de informação à porta fechada com Johnson e outros legisladores para os actualizar sobre a deterioração da situação na Ucrânia, começando poucos dias depois de Johnson se ter tornado speaker da Câmara”.

Entre os funcionários envolvidos nessas reuniões estavam o director da CIA, William Burns, e o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, homens fortes do regime Biden, a quem Johnson obedeceu como o dócil cão dos poderes instituídos que é.

O projeto-lei sobre a Ucrânia será integrado num pacote maior de ajuda externa que não inclui a segurança das fronteiras. Johnson realizou uma votação sobre um projecto-lei de segurança fronteiriça no início do dia, mas apresentou-o num enquadramento orgânico que implicava o apoio de dois terços dos representantes para ser aprovado e claro que não foi, chumbando com 215 votos a favor e 199 contra.

Espera-se que o Senado aprove o pacote legislativo logo depois de o receber.

No entretanto, há representantes republicanos furibundos com Johnson, mas a fúria de pouco lhes vai servir, porque mesmo que voltem a destituir o líder da maioria, o mal já está feito e na verdade não há garantias nenhumas que um outro speaker seja mais ou menos atrasado mental, mais ou menos vil, mais ou menos militante do unipartido, que o actual. Tanto mais que o líder da bancada republicana terá pensado, correctamente, na verdade, que é preferível ter os populistas como inimigos do que o regime Biden, os seus braços armados (a CIA, o FBI, a NSA e quejandos), a totalidade da imprensa mainstream e o sinistro e omnipotente complexo militar e industrial.

 

 

Isto porque, como muito bem explica Alexander Mercouris no vídeo em baixo, os 61 mil milhões de dólares vão, quase inteiramente e de uma maneira ou de outra, acabar nas mãos do complexo industrial e militar americano. E Johnson não foi capaz de resistir à pressão da mafia de Washington – que é quem manda realmente nos Estados Unidos – e dos interesses que representa.

Acontece que o dinheiro não vai fazer qualquer diferença no desfecho da guerra na Ucrânia, a não ser este: protelar a claudicação total do regime Zelensky para depois das eleições presidenciais americanas de Novembro. Neste sentido, Mike Johnson trabalhou afincadamente a favor da reeleição de Joe Biden.

Já na semana passada, Mike Johnson tinha exercido o seu poder no sentido de favorecer o regime Biden, juntando-se aos democratas e a outros republicanos só de nome para aprovar um prolongamento do FISA e permitir que os conservadores americanos continuem a ser vigiados e perseguidos sem mandado judicial.

O que é mais incrível, ou talvez nem por isso, considerando que Donald Trump não é propriamente um intelectual, é que até o candidato às eleições presidenciais pelo Partido Republicano não se mostrou muito incomodado com a traição revoltante do seu speaker, tendo afirmado, ainda nem há 15 dias, quando já inteiramente conhecedor da sua posição em relação à Ucrânia, que o desgraçado “estava a fazer um bom trabalho”.

Uma conspiração de estúpidos.