Nesta maravilhosa tabuinha com 4 mil anos, escrita em caracteres cuneiformes e língua acádia, encontramos o primeiro registo histórico de um cliente queixoso. Nanni, um empresário da Mesopotâmia, provavelmente um artesão, reclama e protesta com um tal de Ea-nasir, a quem terá comprado lingotes de cobre de qualidade inferior. Não é apenas a virtude do produto que está em causa: o serviço pós-venda também deixa bastante a desejar.
Ea-nasir também é, segundo Nanni, responsável pela má orientação e atrasos noutra entrega. E, ainda por cima, foi rude com os servos que Nanni enviou para receber o material.
Na tradução do assiriólogo Leo Oppenheim, Nanni, que vê rejeitada a intenção de ser reembolsado, mostra a sua indignação com veemência:
“Por quem me tomas para me tratares com tal desdém? Enviei como mensageiros senhores como nós para receberem o pacote com o meu dinheiro, mas foram tratados com desprezo, voltando de mãos vazias e por território inimigo. Há alguém entre os comerciantes que negociam com Telmun que me tratasse de tal maneira? Só tu tratas os meu mensageiros desta forma!”
Ainda assim, Nanni acabou por não ter outra opção além de continuar a negociar com a Ea-nasir. Embora sob condições mais severas e um escrutínio mais apertado.
“Tem em mente que a partir de agora não aceitarei qualquer cobre que não seja de boa qualidade, selecionarei e levarei os lingotes individualmente e exercerei contra ti o meu direito à rejeição porque me trataste com desprezo.”
Este tipo de tábuas eram feitas com tijolos de barro e caracteres escritos ou estampados eram adicionados antes que a argila secasse completamente. O método foi usado para gravar registos contabilísticos, correspondência, proclamações, éditos, histórias e praticamente tudo o que actualmente se coloca no papel.
A pequena tábua está em exposição no British Museum.
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