A União Europeia está a ceder aos protestos dos agricultores, sacrificando o seu objectivo de eliminar emissões agrícolas específicas que faziam parte da iniciativa “net zero” do bloco.

A exigência de reduzir em quase um terço as emissões de azoto, metano e outras emissões ligadas à agricultura foi retirada de um plano mais vasto de Bruxelas para reduzir em 90% as emissões de gases com efeito de estufa até 2040.

Na terça-feira, Ursula von der Leyen, a Presidente da Comissão Europeia, fez mais uma concessão aos agricultores, deixando cair a sua controversa proposta de reduzir para metade a utilização de pesticidas no prazo de seis anos. Foi também retirada do plano uma recomendação que instava os cidadãos da UE a comerem menos carne.

As concessões decorrem claramente de uma reacção às manifestações massivas de agricultores na Bélgica, Países Baixos, França, Alemanha, Itália, Polónia e Roménia, e no contexto das eleições europeias deste ano.

Na terça-feira, os agricultores espanhóis juntaram-se ao movimento, bloqueando as principais auto-estradas com comboios de tractores e queimando pneus. Entretanto, os bloqueios dos centros de distribuição dos supermercados deixaram as prateleiras vazias em Bruxelas, enquanto agricultores nos Países Baixos deitaram lixo e atearam fogo nas auto-estradas.

Os organizadores dos protestos ameaçaram continuar as acções de bloqueio até às eleições para o Parlamento Europeu em Junho e a situação dos agricultores desiludidos tornou-se politicamente decisiva.

Para acalmar os seus protestos, a Sra. von der Leyen reconheceu que as regras do “net zero” destinadas aos agricultores teriam de ser diluídas. “Os nossos agricultores merecem ser ouvidos”, disse ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na terça-feira.

“Sei que estão preocupados com o futuro da agricultura e com o seu futuro enquanto agricultores. Mas também sabem que a agricultura precisa de avançar para um modelo de produção mais sustentável, para que as suas explorações agrícolas continuem a ser rentáveis nos próximos anos.”

A presidente da Comissão admitiu que a proposta de redução da utilização de pesticidas se tornou um “símbolo de polarização”.

A redução das emissões de óxido de azoto foi considerada um pilar fundamental da estratégia da UE em matéria de alterações climáticas, que desencadeou a primeira vaga de protestos agrícolas nos Países Baixos durante o verão de 2022. O objecivo implica que os agricultores serão obrigados a reduzir o seu efectivo pecuário para cumprir o limite vinculativo de emissões.

A Sra. von der Leyen também tentou cativar os agricultores para uma posição mais institucional, anunciando uma série de “diálogos estratégicos” que lhes permitirão expressar as suas preocupações directamente aos burocratas da UE.

 

Berlim recua nas políticas energéticas.

No contexto dos protestos dos agricultores e do ciclo eleitoral de 2024, o governo alemão concordou entretanto em gastar 16 mil milhões de euros na construção de quatro grandes centrais de gás natural para satisfazer a procura de eletricidade, no âmbito de uma importante revisão da rede energética do país. O executivo descreveu as centrais de gás fóssil como ‘modernas, altamente flexíveis e amigas do clima’, porque poderão ser convertidas para utilizar hidrogénio de queima limpa, produzido a partir de fontes renováveis.

O ministério disse que os planos de transição para o hidrogénio devem ser elaborados até 2032 para permitir que as centrais sejam totalmente convertidas para hidrogénio entre 2035 e 2040. O presidente da principal associação industrial alemã “classificou as políticas energéticas do Governo alemão como ‘absolutamente tóxicas'”.

Siegfried Russwurm, diretor da BDI, disse ao Financial Times:

“A agenda climática alemã é mais dogmática do que a de qualquer outro país que conheço. A decisão do país de eliminar gradualmente a energia nuclear e o carvão e mudar para as energias renováveis estava a colocar as empresas da maior economia da Europa em desvantagem em relação às de outras nações industrializadas.”

 

Pressão crescente.

O esforço de Von der Leyen para apaziguar os agricultores surge após a crescente pressão dos seus aliados políticos antes das eleições para o Parlamento Europeu. Manfred Weber, eurodeputado alemão e líder do Partido Político Europeu de centro-direita, do qual Von der Leyen é oriunda, avisou que as comunidades agrícolas poderiam mudar a sua lealdade para os partidos de “extrema-direita” nas eleições.

Weber disse ao Parlamento Europeu, na terça-feira:

“Percebemos que os agricultores são cidadãos e não querem ideologias de esquerda que lhes ditem tudo”.

Por seu lado, o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, comentou o plano de redução das emissões em 90% até 2040:

“O plano surge num momento crucial do debate sobre o futuro da transição ecológica da Europa. Reconhecemos as preocupações legítimas dos cidadãos e da indústria relativamente ao custo da transição”.

Convém porém equacionar que as alterações de discurso e as cedências nos planos de Bruxelas e Berlim podem ser apenas medidas temporárias em função do ciclo eleitoral e que as políticas radicais dos globalistas poderão ser retomadas logo depois das eleições, caso o panorama ideológico na Europa não mude de forma significativa.

Neil Oliver e Christine Anderson, a deputada no Parlamento Europeu do partido populista alemão AfD, alertam precisamente para essa possibilidade.