A migração em massa está a acelerar o desmembramento da Bélgica, com partidos populistas independentistas do norte, de língua holandesa, a considerar a separação do sul, de língua francesa.

A Bélgica é um país, mas não é uma nação, já que é essencialmente constituída por dois grupos linguísticos, os flamengos, falantes do holandês, e os valões, que falam francês; além de um pequeno grupo de pessoas que falam a língua alemã. As duas maiores regiões da Bélgica são a região de língua holandesa de Flandres, no norte, com 59% da população, tendencialmente conservadora e católica, e a região francófona da Valónia, no sul, habitada por 31% dos belgas, tendencialmente socialistas e protestantes. A capital Bruxelas, oficialmente bilingue, é um enclave de maioria francófona na região flamenga e integra um décimo da população do país. A diversidade linguística da Bélgica e as suas divisões políticas e culturais são reflectidas na história e no complexo sistema de governo do país. A segunda metade do século XX foi marcada pela ascensão de conflitos comunais entre os flamengos e os valões, alimentados por diferenças culturais e por uma evolução económica assimétrica entre as duas regiões. Estes conflitos, ainda activos, têm causado profundas reformas e uma evolução do estado unitário para um estado federal.

A partir do século XVI, muitas batalhas entre as potências europeias foram travadas na área da actual Bélgica, fazendo com que o país fosse apelidado de “campo de batalha da Europa”, reputação reforçada pelas duas Guerras Mundiais. Sede de facto da União Europeia, Bruxelas é também o local onde a NATO instalou as suas estruturas de comando.

A Bélgica é uma monarquia constitucional, mas a linha dinástica do actual monarca, Filipe I, está ligada à casa alemã dos Saxe-Coburgo e a coroa é geralmente considerada como alienada das realidades e dos interesses dos belgas.

A Bélgica regista actualmente um surto de imigração semelhante ao da crise migratória de 2015-16 e os problemas com a integração dos migrantes há muito que são evidentes na sociedade. Recentemente, os tumultos ocorridos em França por causa da morte de um adolescente, abatido pela polícia, alastraram a Bruxelas, sem outra razão que não fosse o facto de envolverem um jovem de origem imigrante. Existem actualmente na Bélgica vastas áreas urbanas que são praticamente interditas à influência das autoridades do país e completamente imunes à sua cultura.

Os flamengos estão profundamente insatisfeitos com a situação de degradação social e económica do país e o partido de direita Vlaams Belang (Interesse Flamengo), a importante força política flamenga que tem sido afastada do poder durante décadas, lidera esta insatisfação. O líder do Vlaams Belang, Tom Van Grieken, declarou este ano:

“Acreditamos que a Bélgica é um casamento forçado. Temos de chegar a uma divisão ordenada. Se eles não quiserem sentar-se à mesa connosco, fá-lo-emos unilateralmente”.

Em comparação com a Valónia, o PIB da Bélgica flamenga é maior, a dívida é menor, a qualidade de vida dos cidadãos é superior, as suas escolas são melhores e os serviços públicos mais eficientes.

Ainda assim, historicamente, a política belga tem sido dominada pela Valónia francófona, mas esta perdeu o controlo do poder nos últimos anos. O governo belga, actualmente constituído por uma coligação de sete partidos, é altamente disfuncional e o país chegou a estar 652 dias sem ninguém no poder, devido à incapacidade de os políticos com convicções muito divergentes chegarem a compromissos após as eleições nacionais. Ironia das ironias: O PIB do país cresceu significativamente nesse período.