O governo israelita está a intensificar a sua campanha de pressão pública para reinstalar a população de Gaza no estrangeiro, com a ministra dos Serviços Secretos do governo de Benjamin Netanyahu, Gila Gamliel, a argumentar que o conflito com o Hamas representa

“uma oportunidade para Israel no meio da crise”.

Escreve Gamliel no Jerusalem Post:

“Uma das questões em que o meu gabinete tem estado a trabalhar diligentemente é como proceder no dia seguinte ao Hamas ter sido derrotado e aniquilado. Continuaremos a ter cerca de dois milhões de pessoas em Gaza, muitas das quais votaram no Hamas e celebraram o massacre de homens, mulheres e crianças inocentes”.

Olvidando que Israel também está a matar crianças palestinianas que não votam nem celebraram coisa alguma, continuou:

“Gaza é um lugar desprovido de esperança, roubado pelos terroristas genocidas do Hamas, da Jihad Islâmica e de outros grupos terroristas”.

Esta frase está certa, mas o argumento que se lhe segue, que seria melhor para todos se os habitantes de Gaza fossem reinstalados noutro local, não pode ser mais cínico:

“A deportação poderia ser uma solução vantajosa para todos: uma vitória para os civis de Gaza que procuram uma vida melhor e uma vitória para Israel depois desta tragédia devastadora.”

A ministra insistiu que o restabelecimento do regime da Autoridade Palestiniana após a deposição do Hamas não é uma opção, mas não especificou onde os habitantes de Gaza devem ser reinstalados. Porém, sabemos pelas declarações de outros políticos israelitas que a solução é enviá-los para o Ocidente, com dois membros do Knesset a argumentarem, reforçando o cinismo da ministra, que a América e a Europa têm “uma longa história de assistência a refugiados que fogem de conflitos”.

Portanto, a deportação dos palestinianos com os quais os israelitas não querem conviver e que países vizinhos muçulmanos como o Egipto, a Jordânia e o Líbano não querem receber, é uma solução “vantajosa para todos”, incluindo os europeus e os americanos, sem que os povos ocidentais sejam sobre essa vantagem consultados, claro.

Seja como for, a Europa já foi conquistada, pelo que mais dois milhões, menos dois milhões, não farão grande diferença.