Os resultados provisórios mostram que o libertário de direita Javier Milei triunfou na segunda volta das eleições presidenciais argentinas, derrotando o seu rival de esquerda, o ministro da Economia, Sergio Massa. Com cerca de 90% dos resultados apurados, Milei vence com quase 56% dos votos contra 44% de Massa. A notícia chega numa altura difícil para a Argentina, que se debate com inflação crescente e uma economia estruturalmente problemática, factores que contribuíram para que os eleitores optassem enfim por uma mudança radical.

Apesar de ser um alienígena com propostas controversas, como a eliminação do banco central e a introdução do dólar americano como moeda oficial, a abordagem invulgar de Milei atraiu os eleitores desiludidos. Frequentemente comparado com Donald Trump ou Jair Bolsonaro, Milei parece mais genuíno e disruptivo do que a maior parte dos populistas e a sua inexperiência política não dissuadiu os argentinos de confiarem nele como motor de uma solução inovadora para os problemas económicos e sociais do país.

A vitória de Milei é produto da crescente insatisfação do público com as práticas políticas tradicionais, especialmente numa economia com uma inflação anual de mais de 140% e onde duas em cada cinco pessoas vivem na pobreza.

Em Setembro, Tucker Carlson foi a Buenos Aires falar com o candidato que estava na altura a surpreeender meio mundo, dados os números das sondagens, que já o apontavam como favorito à vitória nestas eleições.

 

 

Como o Contra já documentou, El Peluca (cognome que advém da sua exuberante cabeleira) é uma pedrada no charco em formato humano. Quando lhe perguntaram se a felicidade era mais importante do que a liberdade, ele respondeu:

“As duas coisas andam de mãos dadas. Não podes ser feliz sem ser livre.” 

A colocação da liberdade pessoal como pré-requisito não apenas para uma sociedade próspera, mas virtuosa, é muitíssimo bem-vinda num mundo onde os políticos se mostram cada vez mais esfomeados por autoridade, vigilância, controlo e manipulação das massas.

Sobre o socialismo, Milei não tem dúvidas sobre as suas características fundamentais:

“O Socialismo é sempre e em todo o lado um fenómeno violento, assassino e empobrecedor”.

 

 

Apesar de não termos exemplo, na história recente, de líderes políticos libertários que consigam aceder ao poder executivo, até os conservadores dos regimes ocidentais gostam de afirmar que teóricos dissidentes como Milei não estão preparados ou dispostos a resolver as questões sociais. No entanto, o agora eleito presidente da Argentina enquadra-as – e bem – como um imperativo moral do liberal clássico.

“Sou abertamente contra o aborto. Mas como liberal, acredito no respeito irrestrito pelos outros. Podes escolher sobre o teu corpo, mas não sobre o corpo dos outros.”

Questionado sobre o porquê de querer acabar com os programas de “educação sexual” do governo, Milei referiu-se a eles como

“Um mecanismo de propaganda que destrói a família com a intenção de promover de cima para baixo tudo o que a esquerda e a ideologia de género têm em agenda.”

O argentino nutre um muito saudável e saboroso desdém populista pelas “elites”, mas não compartilha da adoração que, por exemplo, Donald Trump, mostra pelo poder do Estado e acredita que o livre mercado e a destatização oferecem grandes vantagens e oportunidades para as classes média e média-baixa.

Além de rejeitar o alarmismo climático como um “ataque destrutivo ao progresso económico e social”, o vencedor das eleições presidenciais de ontem propõe um novo modelo de cidadania, baseado na liberdade, na responsabilidade, na representação e na redução do papel do estado na vida das pessoas. E o slogan da sua campanha, é inequívoco:

 

 

Javier Milei tomará posse a 10 de Dezembro. A ver vamos se não desilude.